segunda-feira, 5 de junho de 2017

FAZENDA JUNDIAQUARA


FAZENDA JUNDIAQUARA
A Fazenda Jundiaquara localizava-se a três quilômetros do centro da cidade de Ubatuba, nessa fazenda funcionava uma fábrica de tijolos e telhas que eram na época os melhores do litoral. Esta fazenda mudou-se de mãos, sendo vendida para um coronel, no qual passou a chamá-la de fazenda Reunidas.





O coronel gostava de criações e transformou as suas posses em fazenda pecuária, pois criava vaca, galo, porco, burro, cavalos de corrida, pombo correio e até corruíra. Havia muita gente trabalhando nesta fazenda e muitos deles descendentes de escravos. Um dos moradores mais antigos da fazenda era o chamado preto velho Benedito, pai de quatro filhos, chamados de Tuca, Tonho, Lucas e o mais jovem André, apelidado de azulão. O pretinho azulão era o garoto de confiança do Coronel, era ele quem enviava e recebia correspondência, comprava cigarros, engraxava as botas e ainda era a pessoa que cuidava da MULA FUZILA, animal de estimação que somente o coronel podia montar. O coronel era homem duro, enérgico e carrasco no qual controlava sua fazenda e vigiava seus empregados observando-os, do alto da varanda, com um binóculo alemão. Todo mundo sabia da ordem e do que aconteceria caso alguém ousasse a montar em sua mula de estimação.
Certo dia o coronel saiu com sua espingarda carregada pela boca, carregando chumbo grosso, para caçar corruíra, nas redondezas da fazenda; o neguinho azulão, então abusou da sorte; montou na mula a saiu a galope pela ladeira, mas mal sabia ele que o coronel lhe observava com seu poderoso binóculo, do alto da colina... O homem ficou louco de raiva e ordenou para o seu capataz que acabasse com o moleque... Mais que de pressa o capataz saiu atrás do neguinho azulão, meteu-lhe um tiro no peito e matou o garoto, vindo a enterrar num areal de formigas saúvas... Dias antes do sumiço do neguinho Azulão a suçuarana andou rosnando ao redor da fazenda e atribuíram o desaparecimento do garoto ao aparecimento da onça. Caso encerrado.
Treze dias depois do acontecido, no lombo de sua estimada mula, o coronel vai a uma festa na cidade... Na volta, numa noite escura de lua nova, por volta da meia noite, exatamente no local do crime do neguinho azulão, o coronel sofre um acidente... A mula pisa num buraco vindo a cair por cima do coronel, que por sua vez cai sobre seu próprio punhal que lhe fere o coração, vindo a morrer no mesmo local...
Um dos desejos do coronel era de que quando sua mula morresse ele faria um quadro com a cabeça da mula, deixando exposto na parede da sala do casarão da fazenda; e assim foi feito; junto com a cabeça da mula ficava também o punhal de prata do coronel.
Desse dia em diante, acabou o sossego na fazenda; todas as sextas-feiras, por volta da meia noite ouvia-se o canto de corruíras e logo em seguida o galope da mula. Dos que tinham coragem de olhar pelo buraco e fendas da casa de pau-a-pique, afirmavam que o galope que passava no caminho era de uma mula sem cabeça que botava fogo pelas ventas, montada por um neguinho que segurava um punhal reluzindo em prata.
Da Fazenda Jundiaquara hoje restaram as ruínas da casa colonial do coronel e um pé de jaca no local do oratório. Júlio César Mendes – Julinho – 28/10/2000--------Obs.: Este conto, folclore brasileiro que aqui em Ubatuba também existiu e prevalece, foi me contado pelo caiçara do bairro do Itaguá, o meu saudoso amigo João de Souza .

Por Julinho Mendes   Via Facebook

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