segunda-feira, 24 de abril de 2017

BREVE A HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO EM UBATUBA


 UBATUBA EM 1855 (Foto do site Cidade&Cultura)


1.1. BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO EM UBATUBA
(TRECHO DO RELATÓRIO TÉCNICO –CIENTÍFICO SOBRE OS REMANESCENTES DA COMUNIDADE DE QUILOMBO DE CAMBURI
UBATUBA-SP ABRIL / 2002)
1.2.

“Para estudar o escravo, pois, é preciso buscá-lo nos seus lon
gos dias de trabalho, sol a sol, nas senzalas pobres e tristes, na solidão tremenda, dos que não têm nenhum direito e nenhuma liberdade; cumpre vê-lo no afastamento angustiante dos seus entes mais queridos, na revolta profunda dos que nada podem, no ceticismo amargo dos que não esperam nunca. Nessas condições, viveu o escravo, e, com ele, uma instituição, a escravidão.”
(Cerqueira, 1966:10)






O levantamento da história social da região norte do litoral paulista no
período compreendido entre o início da ocupação portuguesa na região (1550) e o
início da elaboração das listas nominativas (censos populares) por volta de 1765
apresenta enorme dificuldade de reconstituição por falta de referência documental.
(Fernandez, 1997). Todavia, é bem provável que esta região à época da chegada
dos primeiros colonizadores portugueses era toda ocupada originalmente pelos
índios tupinambás e que, após a sua “pacificação” e quase completa extinção, foi
paulatinamente ocupada por núcleos de portugueses que conseguiram,
simultaneamente, vencer e expulsar os franceses que com eles disputavam também
a ocupação daquela região.
A partir de 1700 já há indicações sobre a existência de escravos negros em
Ubatuba. Segundo alguns autores (Cerqueira,1966;. Marcílio,1986), até 1800, a
condição desses escravos aportados em Ubatuba apresentava certas
peculiaridades. Devido a pequena dimensão da maioria das propriedades e dos
poucos recursos financeiros de seus proprietários, a grande parte dos
estabelecimentos de Ubatuba (urbanos e rurais) tinha em média cerca de dois
escravos, o que possibilitava uma convivência bastante próxima entre a “casa
grande” e a “senzala”.Além disso, tais escravos eram, em sua grande maioria, importados de outras regiões do Brasil e não diretamente da África, fenômeno que só viria a ocorrer posteriormente
.
“Nestas condições, com um, dois ou três escravos por grupo doméstico, o
escravo levava sem a liberdade uma existência, no resto, bem semelhante à de
seus donos. Quase sempre coabitavam o mesmo pequeno rancho de pau a pique,
comendo o mesmo alimento básico (farinha de mandioca, feijão, algum peixe e
caça, muita fruta e legumes), vestindo as mesmas sumárias vestimentas de
algodão, feitas na terra.”
(Marcílio,1986:105).
É possível afirmar, como nos ensina Cerqueira (1966), que nos 50 anos finais
do século XVIII (1750 a 1800), a maioria da população de Ubatuba vivia quase que
totalmente da pequena produção agrícola de subsistência produção de farinha de
mandioca, arroz, feijão e pesca. Segundo a mesma autora, somente a existência de
alguns poucos engenhos de açúcar, que tiverem vida curta, destoavam nesta época
deste contexto econômico: “Em 1760 já florescia em Ubatuba a economia açucareira com a presença de cerca de vinte engenhos. Para o trabalho na lavoura de açúcar era empregado o elemento escravo, seja para o cultivo da cana, seja na preparação da aguardente.
(...) Tolhido por impedimentos diversos, e suplantado posteriormente pelo café, o
açúcar gozou anos de prosperidade que foram, porém, rápidos e poucos.”
(Cerqueira, 1966:12)
A paisagem fundiária de Ubatuba e as relações sociais daí derivadas sofrerá uma mudança considerável a partir das primeiras décadas do século XIX (portanto, entre 1800 e 1830) com a chegada de uma nova leva de estrangeiros (portugueses e franceses) que, com grandes recursos financeiros, passarão a investir pesadamente na compra de terras visando a sua incorporação à agricultura de Exportação,particularmente a do café.
A quantidade da mão de-obra escrava em Ubatuba ganhará assim proporções até então nunca vistas, por conta da necessidade operacional que a lavoura cafeeira exigia. “Se em 1798 a proporção de escravos na população total do município era de 21%, em 1830 eles formavam 33% do total, e em 1839 já atingiam 39%! Eles eram apenas 446, em 1790 mas chegaram a 2.329, em 1839”.
(Cerqueira, 1966:101).
Um outro fator que propiciará a intensificação do tráfico negreiro para a região
virá a partir da compra e do escoamento de escravos para as fazendas de café do
Vale do Paraíba como também para Minas Gerais,, transformando o porto de
Ubatuba não só em um local de recebimento de escravos para este município,
como também de posto de passagem para outras regiões dentro e fora das
fronteiras paulistas. “.depois da década de 1830, as praias de Ubatuba serviram de ancoradouro de desembarques clandestinos de escravos destinados ao vale do Paraíba e a Minas Gerais.”
(Cerqueira, 1966:103).
A guinada da economia ubatubense, com a implantação das fazendas de
café, implicaria então na exacerbação das contradições existentes nas relações
entre senhor e escravo. Se essa convivência era menos desconfortável para ambos
até então mas não sem conflitos, é claro a partir dessa nova opção econômica
e da necessidade inerente a ela do tráfico da mão-de-obra africana, a instituição escravocrata em Ubatuba passará a ganhar contornos conflituosos mais explícitos.
“Por volta de 1825, eram comuns desordens em Ubatuba, – conflitos provocados por pardos e pretos, tanto libertos como cativos. Foi por essa ocasião que se tomou uma série de medidas a fim de impedir movimentos subversivos. Entre elas, proibiu-se o uso de armas entre os escravos e estabeleceu-se um toque de recolher após o qual qualquer escravo encontrado sem seu senhor seria preso e punido. O clima de tensão persistia. Houve nesse ano uma tentativa de levante de escravos das fazendas ao norte da vila.(...) Em 1831, ocorreu na Vila a maior insurreição de escravos de sua história.”
6
Em Ubatuba, como de resto ocorreu no Brasil como um todo, nas últimas
décadas do século XIX se assiste a erosão da instituição escravista. A um período
de aquecimento da economia refletida no aumento do tráfico de escravos para as
fazendas de café da região - seguiu-se um período de decadência econômica e
social que seria marcado pelo abandono ou loteamento para venda das fazendas
pelos proprietários então falidos e pela conseqüente ocupação de frações do
território ubatubense por núcleos de escravos que por ali permaneceriam por longas
décadas e por outros núcleos que viriam para ali em busca de melhor sorte.
É, portanto, a partir da decadência das grandes fazendas de café do litoral
norte e do seu abandono pelos antigos proprietários e da conseqüente ocupação de
seus espaços por núcleos de escravos e/ou ex-escravos– nativos dali mesmo ou fugidos de outras paragens -, que encontramos as pistas inicias sobre a formação
do que viria a ser futuramente algumas das comunidades caiçaras de Ubatuba,
entre elas, a do Camburi

TRECHO DO RELATÓRIO TÉCNICO –CIENTÍFICO SOBRE OS REMANESCENTES DA COMUNIDADE DE QUILOMBO DE CAMBURI
UBATUBA-SP ABRIL / 2002

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE TERRAS
DO ESTADO DE SÃO PAULO
“JOSÉ GOMES DA SILVA”
36
Bibliografia consultada.
CERQU
EIRA, Beatriz Westin
(1966) “Um estudo sobre a escravidão em escravidão em Ubatuba”

EM:
Estudos
Históricos
. Número 5. Dezembro/1966. Departamento de História da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Marília
FUNDAÇÃO ITESP
(2000)
Negros do Ribe
ira: reconhecimento étnico e conquista territorial

Cadernos
ITESP 3.
MANSANO, Candice Filipak
(1999) Do “Tempo dos Antigo” ao “Tempo de Hoje”: o caiçara de Camburi entre a
terra e o mar. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, UNICAMP.
MARCÍL
IO, Maria Luiza
(1986) Caiçara: Terra e População, São Paulo. CEDHAL.
OLIVEIRA, Leinad Ayer de (org.)
(2001) Quilombos a hora e a vez dos sobreviventes. Comissão Pró
-
Índio. SP.
SILVA, Simone Rezende
(2000) Camburi, transformações de uma população tradici
onal. Caiçaras em uma
Unidade de Conservação. Trabalho de Graduação Individual (TGI). Departamento
de Geografia. USP. 



COLABOROU   PITAGORAS BOM PASTOR MEDEIROS VIA  FACEBOOK

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