quinta-feira, 2 de março de 2017

UM POUCO SOBRE A CULTURA CAIÇARA..............

2. CULTURA CAIÇARA

Ubatuba é uma cidade do litoral norte paulista que fica no meio da BR-101, estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Houve um tempo em que essa extensa cidade era habitada, em sua maior parte, por caiçaras, agricultores e exímios pescadores que moravam à beira-mar e tiravam seu sustento do mar e da terra, a qual eles mesmos cultivavam. Antes da década de cinqüenta do século passado, quando começou a abertura da estrada Caraguatatuba-Ubatuba, a antiga SP-55, conhecida hoje, como Rodovia dos Tamoios, e ainda mais em meados da década de setenta, com a abertura BR-101, rodovia translitorânea que liga o extremo norte ao extremo sul do país e passa pela cidade de Ubatuba, esse povo tinha a cultura baseada em crenças religiosas, respeito à natureza e ao próximo e solidariedade.





 Esses costumes eram expressos por meio da linguagem, da música, das rezas e também pelo artesanato voltado para a pesca, pela preparação da farinha de mandioca e pela confecção de alguns utensílios domésticos. Seus costumes eram transmitidos oralmente, de pai para filhos, e a narração era muito rica. Com o crescimento e com a especulação imobiliária local, a cidade que antes era uma vila de pescadores tornou-se uma estância turística, e seu povo de origem foi praticamente deslocado de seu espaço, em virtude de a praia ter se tornado comercialmente valorizada. Com isso, a conversa à beira-mar, durante a feitura das redes de pesca ou ao chegar das pescarias, durante as rezas ou ao anoitecer, quando era costume dos mais velhos contarem histórias de pescaria, de valores morais, ou cantarem para filhos e netos, foi paulatinamente se extinguindo. Essa cultura oral foi se perdendo à medida que outras pessoas foram chegando com outras culturas que foram se incorporando à língua e à cultura local, assim como o recente advento tecnológico. Hoje, Ubatuba conta, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2007, com 77.008 milhões de habitantes. Considerável parcela desses é oriunda de diferentes cidades e traz consigo diversas culturas e linguagens próprias de várias regiões ou até mesmo de outros países. A cultura caiçara popular traz consigo valores como o respeito, a amizade, a tolerância, a religiosidade e a harmonia, que fazem parte da memória cultural desse povo. Cada palavra mostra muitos valores agregados, e é importante descobrir, dentro de cada pessoa, os valores que podem se tornar esquecidos por conseqüência do desuso 26 imposto pelo novo tempo e somá-los àqueles que são comuns nos tempos atuais. Para Diegues (2004, p. 22), a cultura caiçara é definida como um conjunto de valores, visões de mundo, práticas cognitivas e símbolos compartidos, que orientam os indivíduos em suas relações com a natureza e com os outros membros da sociedade e que se expressam também em produtos materiais (tipo moradia, embarcação, instrumentos de trabalho) e não materiais (linguagem, música, dança, rituais religiosos). Indo além do saudosismo, e, somando-se os fatos de não fazerem o uso da escrita e de gerarem o conhecimento por meio da oralidade, de um linguajar próprio; terem conhecimento dos ciclos naturais e dependerem deles para sua sobrevivência, assim como viverem em comunidades familiares e utilizarem técnicas de baixo impacto sobre a natureza, os caiçaras podem ser definidos como “tradicionais”. A tradição caiçara é entendida como um conjunto de valores, de visões de mundo e simbologias, de tecnologias patrimoniais, de relações sociais marcadas pela reciprocidade, de saberes associados ao tempo da natureza, músicas, de saberes associados ao tempo da natureza, músicas e danças associadas à periodicidade das atividades de terra e de mar, de ligações afetivas fortes com o sítio e a praia. Essa tradição, herdada dos antepassados, é constantemente reatualizada e transmitida às novas gerações pela oralidade. É por meio da tradição que são usadas as categorias de tempo e espaço e é por meio dessas últimas que são interpretados os fenômenos naturais (DIEGUES, 2004, p. 22-23). É possível observar exemplos dessa tradição e dos valores culturais caiçaras em depoimentos de ubatubanos, colhidos por Rassam (2007, p.32), como o de seu Bimbim, de 85 anos, pescador da praia do Ubatumirim, segundo o qual, se com uma pessoa assim, podia ser seu irmão, a gente se tava com chapéu na cabeça ... tirava, dava a mão para “bença”, hoje tem isso? Hoje o mundo mudou muito[...] de primeiro não, “nóis” aqui só trabalhava. Não tinha esse negócio de brigalhada. Quando tinha festa, roda de chiba – um cateretê aí era de “ocê” “mostra” o que sabia “fazê” (RASSAM, p. 32) 




Trecho do Trabalho Escolar.....
 AUTOBIOFRAFIAS DE UBATUBANOS E DE UBATUBENSES E O SILENCIAMENTO DA CULTURA CAIÇARA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DOS TEXTOS DE ALUNOS DA EJA TAUBATÉ-SP 2008
De Luciana Aparecida Mesquita


 http://livros01.livrosgratis.com.br/cp074195.pdf

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