quinta-feira, 2 de março de 2017

OS PRIMEIROS MORADORES DE UBATUBA , OS PRIMEIROS CAIÇARAS........

Os primeiros moradores de Ubatuba, antes uma aldeia, eram os índios Tupinambás que, de acordo com Marcílio (1986, p.21), “eram de forte complexão física e saúde, e tinham suas formas de organização, de produção e de sociedade, antes do contato com os brancos”. Ainda, segundo Marcílio (1986, p.21), “esses moradores, à época da abordagem do europeu, formavam uma ‘pequena aldeia de choças’, no local aproximado do atual município, em outras espalhadas pelo seu território”. Sua sociedade era voltada para o campo e era uma coletividade calcada na família. 





Os primeiros caiçaras, assim como nos dias atuais, embora em uma quantidade menor, eram exímios pescadores, não apenas usavam flechas, mas também desenvolveram técnicas melhores de grande pescaria. Como se pode observar em Marcílio (1986, p.21), “...utilizavam pequenas redes feitas de cipó tucum e, em mutirão, recolhiam grande porção de peixes”. A vida dos primeiros caiçaras de Ubatuba era baseada na organização, coletividade e harmonia, tanto entre seus componentes como na natureza, à qual, respeitavam muito. Essa harmonia se desestruturou quando apareceram os primeiros 30 colonizadores e, com eles, as missões. Para Ubatuba, vieram os padres jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta cuja missão era dominar os índios para transformá-los em cristãos e colonos de Portugal. Entre a “paz” estabelecida por Nóbrega e Anchieta (1563) e a fundação da Vila da Exaltação de Santa Cruz, (1637), novas situações surgiram, novos habitantes aí se fixaram: por isso mesmo, os testemunhos desses períodos são raros. O jesuíta não volta mais às terras onde os índios não o acolheram mansamente. De resto, nenhuma outra ordem religiosa aventura-se a fundar qualquer instituição em Ubatuba. Com o extermínio e o terrorismo usado largamente, conseguiu o colonizador acabar com o índio, mas como conseguiu a mão-de-obra necessária para a agricultura que queria implantar? Pouco a pouco se monta uma operação muito mais delicada que consiste em retirar o índio como dono da terra, como plantador de roçado para si e sua tribo, e reintroduzi-lo de volta à mesma terra, já agora como plantador de cana, não mais como livre, mas como escravo (MARCÍLIO, 1986, p.22-23). Alguns sobreviventes dos primeiros Tupinambás conseguiram refugiar-se na densa Mata Atlântica, na Serra do Mar, onde sobreviveram livres, porém pobres e amedrontados, pois a perseguição a eles continuou por muito tempo. A segunda parte da organização do espaço, da posse, uso e transmissão da terra, da vida e da morte do novo morador que lá se estruturava, começou quando foi fundada a vila, em meados do século XVII. O morador daquela época, segundo Marcílio (1986, p.29), “apesar de seus grandes esforços, não conseguiu sair do estado da roça rústica de subsistência em quase toda a sua história”. Ubatuba viveu, por um período extenso, fora do círculo de ‘economia-mundo’. O caiçara de Ubatuba, roceiro prioritariamente, mas eventualmente pescador, é o povo novo do município. Em entrevista, Sr. Nestor, de 81 anos, morador da praia da Picinguaba, ex-lavrador, ex-posseiro de terras do sertão e da praia, terras essas todas griladas e expropriadas, relata que na roça havia muita fartura. O que a gente plantava era gasto da família. Mas o que sobrava a gente trazia no ombro, do sertão, por picada. Havia muita, muita fartura (MARCÍLIO,1986, p.30). 31 A comunicação com o mundo exterior, com a economia global, era feita ‘por fora’, pelo mar, pelas pequenas canoas de pesca ‘miorzinhas’, as ‘canoas de voga’; e os caiçaras faziam uso de uma tradição composta na tradição do índio e dos primeiros povos europeus, cujo exemplo é o calendário agrícola, mas, de tempo em tempo, como ainda acontece, o equilíbrio local era interrompido, pois o sistema dominante interferia na produção do caiçara. De acordo com Marcílio (1986, p.49), as terras cultiváveis de Ubatuba, descontínuas e limitadas, só em períodos muito curtos de sua história ofereciam efetiva atração aos colonizadores. Isso aconteceu quando parcelas de seu espaço foram usadas para lavouras comerciais, integrando-as temporariamente a “economia-mundo”. Mas o período foi curto, restringindo-se grosso modo, das últimas décadas do século XVIII até cerca de 1850. Na quase totalidade de sua existência, porém, a vila tirou seus recursos fundamentais das pequenas roças de subsistência encravados nas clareiras abertos na mata, mas bem próximas às praias e completandoos, intermitentemente com a pesca e coleta de frutos, ou caça nas florestas. Naquelas condições, Ubatuba foi sobrevivendo. A calma e a paz pareciam conviver na pacata comunidade, nos alvores do século XIX. Naquela calma aparente, contudo, latejaram zonas de conflitos, pontos de violência, pois um grupo de franceses que lá se instalara, a partir do ano de 1819, começou a disputar as terras com os antigos moradores, querendo expulsá-los. Assim, “se repete o processo de invasão de terras e de expulsão, pela violência, dos antigos moradores da comunidade” (MARCÍLIO, 1986 p.85). Os velhos moradores de Ubatuba, sempre que suas terras tiveram algum tipo de atração para grupos poderosos de fora, sofreram prejuízos irrecorríveis e definitivos. 


Trecho do Trabalho Escolar.....
 AUTOBIOGRAFIAS DE UBATUBANOS E DE UBATUBENSES E O SILENCIAMENTO DA CULTURA CAIÇARA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DOS TEXTOS DE ALUNOS DA EJA TAUBATÉ-SP 2008
De Luciana Aparecida Mesquita

 

Fonte...........http://livros01.livrosgratis.com.br/cp074195.pdf

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