sexta-feira, 11 de novembro de 2016

TRILHA DO TELÉGRAFO




Há quase trinta anos, quando eu comentava com a saudosa Dona Maria Balio que estivera na Justa, partindo da margem do Quiririm, cujo balseiro ainda era o Tio Dico, ela perguntou: “E você viu onde funcionava o telégrafo?”.



               Lógico que eu havia visto as ruínas, onde tinha funcionado o último posto telegráfico de Ubatuba! Dali, cruzando as terras do Altivo, do Dito Custódio e outros, passando pelo Sertão do Pasto Grande, pelo terreiro do Mané Grande,  grimpando pelo bananal do Lacerda, a linha plantada em postes de ferro ganhava o Estado do Rio de Janeiro. Satisfeita pela minha resposta, a Dona Maria esclareceu: “O meu pai trabalhava lá, tendo sido mais tarde transferido para o posto telegráfico do Sapê. Eu nasci na Justa. Ali está enterrado o meu umbigo”.

               Em 1990, um japonês cultivava mexilhão na Justa. Eu fiquei encantado porque jamais tinha imaginado aquilo. Naquela ocasião,  no caminho de servidão, passando pelo morro onde o Tio Durval e a Tia Belinha tinham seus roçados, ainda encontrei três postes de ferro da antiga linha telegráfica. Estava num sapezal, seguido de mata rala que se reconstituía. O meu primo Giovani, do Sapê, era o meu parceiro de caminhadas. Tenho uma fotografia dele no caminho, no meio de um milharal. Coisa que continua tendo fartamente: capim-navalha.

               Dias atrás, ao me encontrar com o Roberto Ferrero, logo escutei: “Legal as fotos da trilha, né Zé? Eu já estive muitas vezes no Puruba, ali na barra, mas nunca soube da Trilha do Telégrafo”. Pois é! Penso que é preciso conhecer, amar e defender tantos espaços de energia positiva que ainda temos. Por esse caminho de servidão, na década de 1960, além do passa-passa da caiçarada, ainda trafegava um carro de boi. Ele ia do canto do Puruba até a Justa, carregado de caxeta, onde acontecia o embarque. Testemunhou o Antônio Alexandre: “O Guelo Fileto era o condutor do carro puxado por dois bois. A fábrica era do Espanhol; só beneficiava caxeta tirada desse rio acima, dessa mata alagada por aí”. 

               Os postes sumiram... ficaram as histórias: 
               “Na encosta do primeiro morro – entre a Praia do Puruba e a Prainha do Ubatumirim – Sidônio, caiçara-pescador, foi surpreendido com a invasão se sessenta e um homens armados à sua modesta choupana recoberta de sapé. Aturdido atendeu às exigências dos bandoleiros visitantes.
               - Qual a cidade mais próxima aqui para cima? – Perguntou Lino.
               - É Parati – informou assustado Sidônio.
               - Grande?
               - Num é cidade grande cumo Ubatuba, não.
               - Muito bem – interpôs-se Ferreira – E quanto tempo demora para chegar a pé?
               O caiçara passou a pensar, mexia o corpo, receoso de errar:
               - Se subé toma o ataio do telefone, mais de cinco léguas”. (do livro Joatão e a Ilha)


                Um toco de um desses postes restou como prova. E o mano Clóvis fotografou.

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