Catarina de Oliveira Prado em sua casa. Ubatuba, Centro, 2008 (foto: Kilza Setti)
Apesar do contato cada vez mais intenso com a urbanização e com os valores que lhe são estranhos, introduzidos pela cultura global, o caiçara tem seu próprio modo de ver e analisar o mundo; tem seus sistemas referenciais para sentir o espaço, o tempo, a natureza; estabelece sua ordem social e moral e seus padrões estéticos e tem seus próprios parâmetros para avaliação do mundo. Usa, por exemplo, para localizar endereços, referenciais da natureza, tais como rios, pedreiras e árvores (jaqueiras, mangueiras, taquarais, etc). Outros marcos expressivos dentro de seu universo são também tomados como referências espaciais, tais como ‘a bomba de gasolina’, ‘o matadouro’, ‘o Grupo velho’, etc.
Para a idéia de tempo, utiliza imagens retiradas do cotidiano e do mundo natural, como, por exemplo, para expressar altas horas da madrugada, refere-se à ‘hora em que o galo cantava treis veis’.
A grandeza do mar, as distâncias, as montanhas que o separam do resto do mundo não lhes são desconhecidas. O caiçara sabe que existe um mundo além do seu, e parece estar informado de tudo o que se passa fora de seu âmbito de ação. Em Ubatuba, é comum se ouvir a expressão ‘lá fora’ para a área situada além do município, ou a expressão ‘serra-acima’ para as regiões do interior.
Uma constelação de símbolos e figuras povoa o mundo do caiçara, para o qual as imagens assumem grande importância. Além dos santos, ele recolhe, coleciona e expõe nas paredes da sala tudo o que lhe parece representativo: gravuras, fotos de família, flores de papel ou plástico, fitas, amuletos, folhinhas com imagens ou cromos, recortes de revistas, além naturalmente, de peças do mar, tais como cascos de tartaruga, estrelas, caramujos, etc. Está bastante preso ao símbolo; o respeito e a devoção que assume ante a Bandeira, nas casas de pouso do Divino, revelam a importância que dá à imagem, sobretudo quando representativa de categorias do sagrado. É, em geral, receptivo, cordial e cortês com os visitantes, demonstrando confiança e respeito, mesmo no trato com estranhos.
FONTE.......................................http://memoriacaicara.com.br/caicara.html
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