quinta-feira, 7 de abril de 2016

Memorial Ciccillo Matarazzo expõe história política de Ubatuba


A vida do político e amante das artes, que levou Ubatuba ao mundo, está em memorial no Centro da cidade. (Fotos: Raell Nunes)
“Depois de minha morte, ninguém mais se lembrará de mim”, disse Ciccillo Matarazzo ao jornalista Luiz Ernesto Kawall.
O Memorial Ciccillo Matarazzo, em homenagem ao ex-prefeito de Ubatuba, entre 1964 e 1969, Francisco Matarazzo Sobrinho, revela parte da história política da cidade, no Litoral Norte (SP). Inaugurado em 27 de junho de 2008, o espaço contém jornais de época, leis do Executivo, obras literárias, fotos antigas e quadros de ex-prefeitos da cidade.
A ideia do memorial é homenagear aquele que é considerado um dos personagens que, segundo historiadores, foi quem tornou Ubatuba divulgada em todo o País e no mundo. Ele era mais conhecido por Ciccillo Matarazzo, tendo sido prefeito pelo Partido Social Progressista.





A galeria é pouco visitada por munícipes e divide espaço com uma sala de computadores e a Biblioteca Municipal de Ubatuba. Alunos da região, conduzidos pelos seus professores, fazem visitações ao memorial para trabalhos escolares, de acordo com funcionários.
No local, situado na Praça 13 de Maio, nº52, Centro, encontram-se as mesas de gabinete, medalhas e outros pertences pessoais de Ciccillo Matarazzo. A trajetória do político no litoral também é detalhada em obras independentes que contam o seu constante envolvimento com a arte.

PARTE DA HISTÓRIA DE CICCILLO MATARAZZO
“Eu sempre me interessei por arte. Não sei por que. Somos uma família essencialmente de homens de negócios”.
Filho de um casal de origem italiana, Andréa Matarazzo e Virgínia Matarazzo, e sobrinho do Conde Francesco Matarazzo, homem que construiu um dos maiores complexos industriais da América Latina, Ciccillo Matarazzo nasceu em 20 de fevereiro de 1898, em São Paulo. Na sua infância, nunca teve problemas com o dinheiro. Sua família era proprietária de muitas indústrias.
Como era de costume naquela época, os filhos de homens ricos estudavam no exterior. Dos dez aos 20 anos, Matarazzo viveu na Europa. Terminou o ensino médio em Nápoles, Itália. Começou um curso de Engenharia em Liège, Bélgica. Devido à Primeira Guerra Mundial, ele não terminou seus estudos e voltou para São Paulo.
Aos 24 anos, o jovem assumiu o comando de sua primeira empresa: Pignatari & Matarazzo. Sua carreira se deu sob a tutela de seus parentes. Ciccillo Matarazzo tornou-se ainda mais milionário, por expandir os negócios da família pelo Brasil. Seu apogeu deu-se quando presidiu a Metalúrgica Matarazzo, maior fabricante brasileira de embalagens metálicas.
Milionário e industrial realizado, Ciccillo também era amante das artes. Ele partiu para a fundação do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Com o seu museu, inaugurou a primeira grande mostra de arte vista no Brasil e na América Latina. Mais adiante, passou a sediar as mais diversas bienais, reconhecidas mundialmente.
O admirador das artes não parou. Contribuiu para o cinema e o teatro moderno, com a fundação da Vera Cruz e do Teatro Brasileiro de Comédia. Ajudou a criar, também, na Universidade de São Paulo, o Museu de Arte e Arqueologia.

CICCILLO MATARAZZO, PREFEITO DE UBATUBA
“40 anos de progresso em 4 anos de administração”, antes das eleições. “Ontem pedi votos. Hoje, peço colaboração”, depois das eleições.
Juscelino Kubitschek prometeu uma modernização ao Brasil: “50 anos em 5 anos”. Anos depois, disputando a prefeitura de Ubatuba, em 1963, Cicillo Matarazzo prometeu “40 anos em 4 anos”. O governador do Estado, Adhemar de Barros (PSP), o apoiava, assim como o jornal O Atlântico, de circulação litorânea.
Eleito com 1.060 votos, Ciccillo Matarazzo prometeu mudanças. Em seu mandato, começando em 1964, criou o código tributário e de obras; regularizou a lei do funcionamento; fez o levantamento aerofotográfico da cidade; construiu a primeira rede de esgoto no Centro; deu início à obra do estádio do Perequê-Açu; incentivou a educação e o turismo.
Além da prefeitura de Ubatuba, Ciccillo era, na época, presidente da Bienal de Arte e Cultura de São Paulo. Ele viajava constantemente para o exterior. Certa vez, Ciccillo saiu do País sem autorização do Legislativo, fato que gerou um processo de cassação. O amante das artes também sofreu mais um processo por algumas denúncias de irregularidades. Ambos foram arquivados.
Após o desgaste no entrave com o Poder Legislativo, em 1967, Ciccillo dizia que era mais útil em SP. Seu vice, Altivo Simonetti, não quis assumir o cargo. Sobrou para o presidente da Câmara, Fiovo Fredianni, que realizou os trabalhos de prefeito. Mas depois de dois meses afastado, Ciccillo voltou a ser o chefe do Poder Executivo de Ubatuba.

IMPRENSA DA ÉPOCA
“Chega a vez de dirigir-me ao povo de Ubatuba. Pouco falei durante a campanha eleitoral. Não sou orador nem sei prometer para não realizar. E ainda só me dirijo ao povo para pedir”,  trecho do discurso de posse de Ciccillo Maratazzo.
A imprensa publicava notícias envolvendo o nome de Ciccillo Matarazzo por causa da sua carreira bem sucedida como industrial e sua dedicação às artes. Ubatuba pegou um pouco desse embalo e ficou muito conhecida.
“Alceu Maynard de Araujo (professor, estudioso do folclore brasileiro) falou no início da Semana Paulo Setúbal: ´Ubatuba toda firme com Ciccillo Matarazzo. Será um prefeitão`. Um podestá (autoridade) como manda o figurino”. (Diário da Noite)
“O Sr. Francisco Matarazzo Sobrinho aceitou, definitivamente, sua candidatura à prefeitura de Ubatuba e poderá executar o que tanto tenciona”. (Diários Associados)
“CICCILLO Matarazzo, o CICCILLO imenso da Bienal, o CICCILLO que realiza no Brasil um mecenato sem igual, CICCILLO merece ganhar a eleição para prefeito, em Ubatuba”. (A Gazeta)
“O pessoal de Ubatuba anda apregoando que logo a famosa Guarujá ficará para trás. É que o industrial Francisco Matarazzo, criador da Bienal, acaba de eleger-se prefeito de Ubatuba”. (Revista Visão)
“Foi com 1.060 votos que Ciccillo Matarazzo derrotou seu concorrente na disputa da prefeitura de Ubatuba”. (Shopping News)
“O Sr. Francisco Matarazzo Sobrinho foi eleito prefeito de Ubatuba. Que Ubatuba venha a ser uma das maiores atrações de São Paulo”. (Revista Confidencial)

FONTES
Memorial Ciccillo Matarazzo, acervo
Biblioteca Municipal Ateneu Ubatubense, acervo
Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart)
O Franciscano Ciccillo, livro de Fernando Azevedo de Almeida, 1976, editora Pioneira
Ciccillo Matarazzo – Enciclopédia Itaú Cultural
Ubatuba: Histórias de vidas, de Cunhambebe a Clodovil (documentário)
Jornal A Cidade, de 2008
Jornal Agito Ubatuba, de 2010
Jornal O Atlântico, de 1964 a 1965
Jornal Correio do Litoral, de 2004
O império Matarazzo, gazeta do povo: Vida e Cidadania
Uma bonita história de 105 anos, Folha de S. Paulo 
Ciccillo Matarazzo,  O Estado de S. Paulo (Estadão)
Ciccillo Matarazzo, Vídeo Vozoteca Lek (áudio da rádio Record da década de 60)

Colaboração: Douglas Oliveira 

http://www.focanaweb.com.br/cultura/memorial-ciccillo-matarazzo-expoe-historia-politica-de-ubatuba

Nenhum comentário: