Em plena Rio-Santos, sentido Rio de Janeiro, encontra-se a Fazenda da Caixa, onde funciona a Casa de Farinha, antigo engenho de álcool e açúcar construído no final do século retrasado.
Para chegar ao local, é necessário sair da rodovia, na altura do Km 10, no Núcleo Picinguaba, seguindo por alguns minutos uma estradinha de terra. Quando avistarem uma estrutura de pau a pique, os visitantes irão também provavelmente encontrar um banco de madeira, no qual diariamente senta José Vieira, conhecido por Mestre Quilombola Zé Pedro, que aos 78 anos não trabalha mais com a fabricação de farinha, mas recepciona os turistas e conta suas histórias e causos aos que visitam a tradicional Casa de Farinha em Ubatuba. Ele diz que a produção já foi maior e agora, com a roda d’água quebrada, teme pelo futuro da comunidade. Por conta disso, se faz cada vez mais necessária a complementação de renda a partir de outros trabalhos para ajudar na manutenção do lugar.
Seu Zé Pedro é pai de 14 filhos, todos com a mesma mulher. Onze deles, ainda vivos, são moradores da comunidade nos arredores da Fazenda. Neto de escravos, vindos da Angola, saiu da cidade de Cunha aos 13 anos e foi para Paraty trabalhar com o pai. Aos 18 anos, casou-se com dona Maria Nadir e veio morar em Ubatuba, onde começou a formar o que é hoje a comunidade de 45 famílias na Fazenda da Caixa. Veterano, Seu Zé Pedro, trabalhava com produção de farinha desde a juventude em Paraty.
Hoje em dia, quem produz a farinha de mandioca são os moradores locais, que colhem as raízes e a cana de açúcar e utilizam a roda d’água situada no quintal de seu Zé para produzir não só a farinha, mas outros produtos comercializados lá, como a rapadura e o melado de cana. Infelizmente, a roda d’água está quebrada e a produção está parada há seis semanas.
Por esse motivo, ele conta que muito do que recebe para sustentar sua família vem das palestras que faz pelo Litoral Norte e as vendas do seu livro e CD que apresentam a sabedoria e os causos do Mestre Quilombola. O livro foi ditado por ele e escrito pelo sociólogo e professor aposentado de São José dos Campos, Moacyr Pinto. O autor diz que um dos motivos que o levou a escrever foi justamente a divulgação, tanto da sabedoria do Mestre Zé Pedro, quanto da própria Casa de Farinha, fundamental para os moradores da comunidade.
Mestre Quilombola Zé Pedro é uma figura importante da história e cultura de Ubatuba, mantendo até hoje, com muita satisfação, as raízes quilombolas vivas. Orgulhoso de seu passado e presente, conta que todos que visitam a Casa de Farinha fazem questão de tirar uma foto ao seu lado. O local é aberto para visitação e excursões de escolas. Sem nenhum vínculo com a prefeitura municipal, a comunidade depende da venda de farinha de mandioca e dos outros produtos para manter o local vivo.
Veja outras fotos da Casa de Farinha:
Nenhum comentário:
Postar um comentário