Transcrevo, agora, como arremate da história publicada no mês de junho p.p., a manifestação aprovada pelos vereadores em solidariedade à Família Patural (dona Silvia e seus filhos) por ocasião da tragédia ocorrida.
Of. 47/61 Em 10 de outubro de 1961
Sra. Viúva Jean Pierre Patural.
Para vosso conhecimento, transcrevemos o teor do requerimento número 17/61, de autoria do vereador Mário Celso Guisard Cembranelli, aprovado por unanimidade na sessão ordinária realizada no dia 5 do corrente:
Requerimento nº17/61. Requeiro à Mesa, ouvido o Plenário, no sentido que seja constado em ata, um voto de pesar pela trágica morte de Jean Pierre Patural, como também oficiado a sua família.Justificativa: se a nossa vida é uma luta, o lugar onde vivemos é o nosso campo de batalha. Nem todos porém escolhem esse campo. Uns são sedentários e não gostam de mudar. Outros são levados, talvez, pelo espírito de aventura a sair pelo mundo à procura de um lugar para viver. E quando encontram esse lugar será também uma pátria, mas acolhida pelo coração. Aos vinte anos de idade, Jean Pierre conheceu Ubatuba e a amou. Desde então dirigiu sua vida no sentido de aqui se fixar. Sua alma de pioneiro impressionava-se com as imensas regiões incultas da nossa Ubatuba e o seu desejo era desbravá-las, levar até elas o progresso. Para conseguir isso lutou contra dificuldades que a muitos teriam feito desanimar, mas ele as soube vencer. Não há caiçara no Ubatumirim que não conheça o Jean, como era por eles chamado, e como se admiravam de seu esforço inédito e constante para arrancar da terra o seu fruto. Nós que o conhecemos e avaliamos o seu caráter, sua energia indomável, o seu saber vasto, mas modesto, sem alarde, sem exibições, suas maneiras suaves e polidas, seu ar tímido e o seu jeito calado; sua vida sempre branda e serena com todos os que lhe falavam; mão firme e decidida; não podemos deixar de ficar tristes e sentir toda a amargura pelo seu triste e doloroso fim. Ele, que afrontou sempre perigos do mar com o seu barquinho e no ar com o avião que ele mesmo construiu, que enfrentou a fúria dos elementos e foi um dia colhido por eles e a tragédia aconteceu. Porém, homem intrépido e corajoso, com as forças que lhe restavam, tenta salvar-se. Caminha com passos vacilantes e incertos, depois não pode mais, arrasta-se então, por vários dias e dias seguidos. Antes que o socorro possa alcançá-lo, ele morre. E que triste fim o seu: a dor, a fome, o frio, a solidão e a certeza do abandono. Ele que tanto ajudou os seus semelhantes, que curou feridas, que mitigou a dor, que transportou doentes no seu avião, sentir-se assim ao desamparo. Que ele encontre agora a recompensa pelos seus atos de bondade e pela sua caridade desinteressada. Que Deus o premie, pois nós nada mais podemos fazer. E nosso pesar é maior ainda por isso, por não podermos, digo, por não termos o encontrado a tempo. Sabemos que lutou com todas as suas forças para que aquela não fosse a separação definitiva dos seus entes queridos. Morreu com ele um sonho de progresso, uma ambição sadia de construir, plantar, traçar novos rumos para a exploração dos nossos sertões. Queremos levar agora aos seus entes queridos a nossa palavra de consolo, a expressão de nosso pesar, da nossa dor e da nossa admiração por aquele que tão cedo foi arrebatado do convívio familiar. É por isso, colegas, que conto com apoio integral dessa Egrégia Câmara Municipal para esse ato de solidariedade humana. Sala das Sessões da Câmara Municipal, 28 de setembro de 1961. a) Mário Celso Guisard Cembranelli. Vereador.
Aproveitamos a oportunidade para apresentar as nossas condolências.
José Alberto dos Santos
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