quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A NOSSA TERRA ENCANTA MESMO!



Igaraçu na Justa (Arquivo JRS)
            Na história do Brasil, desde a chegada dos portugueses em 1500, são muitos os registros de viajantes de outras nações descrevendo as pessoas desta terra, as características naturais, os costumes, as técnicas etc. Em relação ao nosso território, o alemão Hans Staden, depois de alguns meses num sufoco, quase virando refeição dos  tupinambás, voltou à sua terra e produziu o primeiro texto deste chão caiçara. Era o ano de 1556. Dele é a seguinte descrição, iniciando o capítulo vinte e seis,  que corrobora o nosso tema: “A cerca de quatro milhas de Ubatuba vivia um francês. Tendo ouvido a novidade a meu respeito, foi até a aldeia e dirigiu-se à cabana que ficava em frente ao meu cativeiro”.





 É isso! As migrações, que podem variar (necessidade, aventura etc.), levaram os homens ao maior conhecimento da Terra. E, graças aos registros, à transmissão oral, nós conhecemos e nos damos a conhecer. Victor Cousin assim escreveu: “Sim, senhores, deem-me a carta de um país, sua configuração, seu clima, suas águas, seus ventos e toda a sua geografia física; deem-me suas produções naturais, sua flora, sua zoologia, e eu me encarrego de vos dizer a priori que será o homem desse país, e que papel esse país desempenhará na História, não acidentalmente, mas necessariamente; não em tal época, mas em todas; o papel, enfim, que ele está chamado a representar”.
            O estimado José Nélio, agora morando no bairro do Corcovado, me incentivou a refletir um pouco mais neste tema (dos viajantes estrangeiros, num turismo cultural). Faço questão de compartilhar com vocês:

            “José Ronaldo, Bom dia. Tenho lido as suas crônicas e as suas iniciativas. Quero partilhar uma ideia que talvez nem seja novidade. Já falei em épocas diferentes com diversas pessoas, mas não consegui levar a conversa adiante. Tenho notado ultimamente um crescente interesse de turistas estrangeiros para a nossa região. Estou observando isto mais em Paraty. Creio que Ubatuba tenha tanto ou mais condições de atrair turistas estrangeiros, não em virtude (infelizmente) de sua arquitetura, mas em relação à história de vários países, que em momentos de guerras e de crises, fizeram com que muitas famílias  viessem para cá.
          Este assunto merece uma conversa sem hora para terminar. Mas como andamos em carreiros diferentes, esta é forma que achei para lhe passar algumas observações. No momento, toda essa movimentação de refugiados no mundo e um crescente interesse de turistas estrangeiros na região, principalmente em Paraty, chama a atenção para o que ocorreu no passado remoto e recente, com a vinda e o estabelecimento de pessoas e famílias para Ubatuba. Além dos portugueses, dos indígenas e africanos, aqui aportaram, entre muitos :

Franceses - várias famílias ainda conservam seus sobrenomes.
Italianos – No século XIX, vieram várias famílias para a Fazenda de Picinguaba. Telhas com a inscrição “fabriqué em Marseille” e o que hoje chamam de “casa de farinha”, são sinais que deixaram de sua presença. Ferreti e outras famílias continuam por aqui.
Russos – Alexandre Rodovitch. Segundo o que o próprio me falou : Formado em Direito na Universidade de São Petersburgo em 1910, ainda na época dos czares. Juiz Militar, condenou militares rebeldes. Estes vitoriosos com a Revolução Comunista de 1917, o prenderam. Esperava o fuzilamento. Não explicou como, mas na década de 1920 veio como refugiado para o Rio de Janeiro. Devido sua formação profissional foi designado para administrar a Fazenda Picinguaba que estava sob a propriedade do Banco Hipotecário do Brasil, após a falência da empresa que havia trazido os italianos. Conseguiu ser eleito vereador e Presidente da Câmara de Ubatuba. Recebeu em pagamento do Banco, extensa área no Sul da Praia da Fazenda. Dividiu em glebas e vendeu para russos, conforme documentação no Cartório de Registro de Imóveis de Ubatuba. Estas áreas estão no Parque da Serra do Mar e não foram desapropriadas.
Poloneses –No Perequê-açu,  o Jardim Cracóvia, loteamento, com os nomes de ruas de personalidades importantes da Polônia (inclusive M. Curie).  A família Swirsky veio para o Brasil e Ubatuba na época em que a Europa estava envolvida em conflitos. Deixaram sua marca também na Ressaca.
Japoneses – Além das várias plantações para atender inicialmente  a Ilha Anchieta, trouxeram do Japão a técnica do cerco flutuante para a região. Com a guerra (39-45) foram perseguidos. Os cercos ficaram com os caiçaras.
CONCLUSÃO que queria partilhar
            O estudo dessas migrações  poderia agregar valor histórico cultural a atividade turística, interessando sobretudo  estrangeiros,  que, no passado, a cada crise  buscavam nova vida em novas terras. E aqui se encontraram, viveram e continuam até hoje. Um abraço”.   


                 Agradeço ao Nélio. Preciso dizer mais o quê? Só devo recordar que nós temos, com toda essa riqueza cultural e ambiental, um chamado a representar. E este chamado está bem dizer pronto. Representá-lo bem é apenas questão de estratégia inteligente.

Texto  de  José Ronaldo dos Santos
publicado originalmente no blog  www.coisasdecaicara.blogspot.com.br

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