BAÍA DO FLAMENGO
Vista a partir do Saquinho Manso (Arquivo JRS -2014) |
Roberto, neto do finado Zé Henrique,
que foi um amigão do meu pai, teve um ano intenso, se dedicou às
competições de canoas, às observações biológicas e oceanográficas, mas
teve tempo de escrever suas reflexões a partir das lembranças do nosso
povo e do nosso lugar. O seu presente texto eu escolhi para homenagear a
Dona Gertrudes, que completou -oficialmente! - noventa e sete anos.
Parabéns a essa caiçara das Toninhas que tanto têm para nos ensinar!
Parabéns ao Roberto pelo engajamento nos movimentos! Ah! Achei o sumo da
sua esperteza ao deixar de comer carapau preparado pela Mercedes para
comer robalo no seu recanto tranquilo. Um abraço.
Dedico
aos meus amigos da
Baía do Flamengo, aos vivos e aos que já se foram. Essa é para seu pai,
Jéssica, e todos os Parús, que me ensinaram nomes e a arte da pescaria.
Os Góis que
faziam os equipamentos e cuidavam da nossa saúde. Os Henrique dos Santos
pela
descendência. Os Oliveira pela companhia e aulas. Para meus primos que
nunca
recusaram uma aventura nos mares, costões e praias da baía. Para os que
lutam
para conservá-la. Nem que seja na memória.
Parado,
Perdido entre tantas memórias e pescarias
Encarando Pedras e cruzando morros com lajes
Não se lembra mais.
Onde teria malhado aquela Corvina?
Onde foi que encontrou aquela Guaivira?
O Siri Candeia?
Já chegaram as Tainhas?
Aquela figura pálida
compondo a Baia do Flamengo
Pescador-Resistência
Remo e Canoa.
Persistindo feito o dia de amanhã
O trabalho de uma vida inteira.
Ou talvez não.
Talvez esteja cansado
E volte ao primeiro sinal de mudança.
Quem sabe o que se passa na
cabeça desse homem enquanto faz a marcação.
Sem ter para onde ir,
Desamparado
O pescador clandestino.
Ele que mede o mundo em
braças
As larguras em palmos
Que decifra nos ventos
o tempo.
E encontra resposta na temperatura da chuva
Ou na cor do mar.
A sua canoa do tamanho do mundo inteiro.
E Onde guarda tanto nome?
De Peixes, pedras, arpoadores
De onde vertem todos os fios d’agua?
De Baías, picos, lajes.
O seu território todo em sons e odores.
Um mundo de vida própria
prestes a explodir
Na iminência da próxima maré
Em sua Canoa
Debaixo de seus pés.
E aquele homem parado
De pele curtida pelo sol
Catarata nos olhos
Cruzando morros com lajes
Com outra percepção de tempo
De realidade ampliada
A Tarioba, a Pegoava, a
Tatuíra e o Guaruçá
O Santola, o Guaiá, o Pindá, e o Cambiá.
No lagamar da sua vida cabe tanta coisa
Que ele é tudo.
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