sábado, 2 de maio de 2015

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CRESCIMENTO DE UBATUBA




A professora e estudiosa Kilza Setti (1985, p.8) tece algumas considerações com relação ao crescimento local. Para ela, com abertura das estradas, SP-55, em 1954, e a BR-101, nos anos setenta e, com as vendas das terras, os caiçaras foram mudando-se para bairros. 34 Os novos bairros substituíram as praias; a comunicação já não se faz pelo mar, mas pelo asfalto; o rádio e a TV substituíram em muitos casos, as longas horas de bate-papo; a circulação se faz pelas novas estradas abertas e pelas linhas de ônibus até o Estado do Rio de Janeiro, instaladas após 1977; as distâncias são obstáculos, mais fáceis de serem vencidos. 







O caiçara foi se deixando seduzir por todas essas facilidades, sem se conscientizar do problema que estava sendo gerado, embora nem todos tenham se deixado seduzir. Alguns grupos que continuaram isolados, em pequenas colônias à beira-mar, notaram esse problema tardiamente. Isso se explica porque “é difícil aceitar a situação de dependência; geralmente, prefere viver sua vida de limitações, mas dificilmente renuncia à sua liberdade de trabalhador livre, sem patrão e sem submeter-se a horários rígidos de trabalho” (SETTI,1985, p.18). A riqueza dos símbolos está presente no dia-a-dia do caiçara, em virtude de ele ter seus próprios parâmetros para a avaliação do mundo, geralmente, usa como referências de espaço sinais próprios da natureza, tais como rios, pontes, pedreiras e, sobretudo, vegetais: junqueiras, mangueiras e taquarais servem para localizar endereços. Utiliza-se também de elementos muitas vezes retirados do mundo oficial civilizado e reinterpretados segundo significados mais ou menos expressivos para ele. (SETTI, 1985, p.18). O que se verifica hoje entre os caiçaras e que já foi verificado em 1986, por Setti (1986, p.17), “é uma consciência do fato já consumado; sabem que, a cada dia, terão menores possibilidades de permanecer em suas terras de origem e de preservar seus modelos de vida, e a resposta a essa imposição é um viver sabendo conviver com o mais forte”. Despojados, assim, de seus valores, seja por adoção dos novos hábitos que já foram impostos ou sugeridos, seja por se apresentarem como os únicos possíveis, os caiçaras foram recompondo suas vidas, mesclando o antigo e o novo, o conhecido e o estranho, “verdadeiro universo de fragmentos, como se num painel o artista juntasse materiais opacos e brilhantes, compactos e diluídos, de texturas opostas e contraditórias de si mesmas, mas que no conjunto resultam em algum sentido” (SETTI, 1985, p.18). Ainda, segundo Setti (1986), dá-se, pois, a fusão do elemento cultural conhecido e retomado em novas medidas de avaliação com o desconhecido – este reinterpretado sob padrões antigos.


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