Texto: Arnaldo Chieus
À época da abordagem do europeu, os moradores de Ubatuba formavam uma pequena aldeia de sete choças no local aproximado do atual centro de Ubatuba. Pelas descrições de Hans Staden, as choças mediam aproximadamente quatorze pés de largura e até cento e cinqüenta de comprimento, por duas braças de alto, tudo formando uma área de 195 metros quadrados.
Como sugere Ophélia Figueira de Camargo, “A história oficial de Ubatuba começa no século XVI, mais precisamente no ano de 1563, mas muito antes, aqui ocorreram fatos históricos que na verdade não mereceu a devida consideração por parte dos historiadores. Não foram os portugueses os primeiros brancos a entrar em contato com os silvícolas. Os fatos narrados por Hans Staden nos falam de que ele mesmo, viajante alemão, teria sido aprisionado e trazido para as terras de Iperoig para ser sacrificado aos deuses como inimigo português que os índios pensavam ser. E qual o porquê dessa inimizade aos portugueses e não aos franceses e até mesmo aos alemães, quando Staden afirmou não ser português?” (Ubatuba ou Ubachuva uma questão de geografia).
É que desde as primeiras décadas do século 16, todo o território “descoberto” pelos portugueses foi progressivamente integrado à economia européia. Com o início do processo de colonização, teve início o processo de desmantelamento das culturas indígenas.
Ubatuba nos séculos 18 e 19, só para se ter uma ideia, foi considerada uma cidade bastante próspera, econômica e socialmente falando. A esse respeito cumpre mencionar que os europeus não lusitanos que vão chegando à vila, a fim de plantar cana e café, trazem consigo, além de uma mentalidade mais empresarial e capitalista, o próprio capital inicial necessário para sua instalação e organização inicial das lavouras comerciais. Ao lado da Igreja, grande senhora de terras na localidade, estavam os grandes proprietários com terras obtidas por variados processos e formas de apropriação do solo, a saber: heranças, escrituras de compra, doações, aquisição, transferência ou expropriação de sesmarias, arrematação pública, legados e posses novas.
O que se pode afirmar é que todas essas formas de apropriação de terras foram arregimentando cada vez mais a vinda de novos investidores em razão da riqueza que à época passava pelo local.
Tudo o que sobe tende a cair. No passado tivemos a ascensão e a queda do império romano e de muitas outras formas de governo.
Com Ubatuba não foi diferente.
A partir de 1850 a cultura cafeeira passou a estender seus domínios pelo interior do estado, chegando a Campinas, Rio Claro e São Carlos dando início à mentalidade ferroviária quando atingiu a zona bragantina e mogiana. Os lombos dos burricos foram aos poucos sendo substituídos pelos trilhos do progresso e o antigo e fogoso porto de Ubatuba foi decaindo no esquecimento e, com ele, toda a cidade.
Todo o progresso até então adquirido ás custas do entreposto de comércio com o Vale do Paraíba deixou de existir, transferindo-se para um porto de Santos, mais moderno, centralizado e com melhor infra-estrutura.
Ouve ainda uma última tentativa para salvar a região com a construção de uma estrada de ferro que ligasse Taubaté a Ubatuba que teve a sua construção iniciada, mas que foi boicotada pelo governo federal que desviou a verba para outros fins, levando fazendeiros e comerciantes de Ubatuba a falência.
Ubatuba esquecida.
Ubatuba abandonada.
Todavia, nem tudo se perdeu. O antigo leito, atravessando a Serra do Mar foi parcialmente aproveitado pela estrada de rodagem, que atualmente é a Rodovia Oswaldo Cruz, SP-55. Com a abertura desta estrada teria início um novo ciclo de progresso para a cidade.
Progresso este bastante lento é bom que se diga.
Porém, trouxe para Ubatuba novos visitantes, principalmente de Taubaté, a progressista cidade do Vale do Paraíba, berço da industrialização através da C.T.I. de Felix Guizard, cujos veios tentáculos chegaram até Ubatuba, nos idos dos anos 20 do século passado.
E Idalina Graça foi uma dessas pessoas; não oriunda de serra acima, pois era caiçara de Ilhabela. Aportou em Ubatuba.
Extraordinária criatura, assim Paulo Florençano se referiu a Idalina Graça ao prefaciar seu livro (livro de Idalina), BOM DIA UBATUBA.
E explica:
“Ela, por causas que o misterioso, talvez astral traçado dos destinos não explica, mal pode cursar os primeiros anos da escola primária; e, na fase da vida em que outras crianças se divertiam em alegres folguedos, ela teve que trabalhar arduamente, ajudando os seus. Menina diferente que era, aproveitava as parcas horas de descanso, quando as havia e, aí, nem a grande fadiga e nem a incompreensão dos adultos a impediam de, embevecida, olhar as belezas do mar-oceano; a mulher colorida das vagas em seu constante vai-e-vem; o mistério profundo das matas revestindo a morraria; ...
Mais tarde, casou-se e, indo viver na atual Ilha Anchieta; depois foi morar em Ubatuba, onde, com o seu marido, num rasgo se audácia, alugou antigo sobrado, ficando com ele à testa do Hotel Ubatuba, juntamente por ocasião do ressurgir da cidade.
Nesse árduo e incessante mister de hoteleira, arrumadeira, cozinheira, lavadeira, copeira, Idalina Graça, como bem disse um seu cronista, ainda arrumava tempo para receber visitantes ilustres da cidade que se hospedavam em seu hotel.
FONTE..........http://doclek.blogspot.com.br/2014/12/idalina-graca.html
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