quinta-feira, 8 de maio de 2014

ESPECIAL DO LIVRO " UBATUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA " - PARTE 115





A entrevista realizada no Camburi nos permitiu, graças à ajuda de Claudia de Oliveira, observar com atenção as variantes da língua caiçara em uma transcrição quase literal do relato do entrevistado ante nossas perguntas.


Todo mundo criava, um criava dez, otro criava 20, otro criava 30 cabeça de porco, né. Ai, meu pai tinha 25, 30. Então, quando foi uma época, meu pai disse ansi. Tinha dois bem gordo, e ele achava que era muito pra mata pra família. Ai eu me lembro como se fosse onti né. Um dia meu pai disse ansi: -Meu filho ocê vai no vizinho, na vizinhança, onde mora seus tio e oferece quem interessa em compra uns quilo de carne de porco, eu quero mata ele, mas acho que é muita carne pra família, ele ta muito gordo, muito cevado. Ai eu sai de manhã, tomei o café em casa e vim pela vizinhança, que tinha muita gente. Ai eu comecei a chega na casa dum, na casa de outro e oferece.



Sabe o que ele dizia ansi: Meu filho vem cá, o sofrimento que o seu pai ta sofrendo por não acha quem compre. Ai eu ia no chiquerão, no manguerão do porco, aonde tinha, tinha dois também, causo que todo mundo daquele lugar que o sinhô vê hoje, todo mundo criava, então não tinha preço. Agora digo para o sinhô essa criação o sinhô não sai no comercio para compra ração para o animal, então era criado com a alimentação da roça, que era a alimentação dos porco, então numa sumana era alimentado os porco com batata doce, otra sumana com abóbora cuzida com um poquinho de sal, minha mãe lembro bem, minha mãe cuzinhava aquele tachão, né, de abóbora todo cortado, todo picado, dexava esfria pra da aos animal, ai comia os porco, comia as galinha, comia os pato, comia os marreco, todos junto, tudo comia junto. Otra sumana era mandioca cozida. Esta mandioca que já comemo frita, então a gente ia na roça trazia dois, três saco de mandioca. Minha mãe mandava minhas irmã descasca, cortava tudo de pedaço, cuzinhava, colocava um poquinho de sal pra dexava esfria pra da pros animal. Então o sinhô sabe tinha uma soma de uma mistura da alimentação. Era a abóbora, era o inhame, era a taioba, era as banana madura. O sinhô sabe que a mistura é a vitamina melho pra criança e a criação de galinha é a banana madura. A banana madura é acima do milho para ela bota os ovo, desmancha de bota os ovo. Então, cosa que o sinhô não hoje aqui no Camburi.

Naquele tempo passado... Então ela usava, a mãe da criança a tisoura na cabeceira da cama fincada pra que a bruxa não visse o pobre imbigo da criança, isso eu ouvi fala muitas veis.

O que eu falo aqui pro sinhô, não ixisti, agora o eu ixistia no passado era satanás, era o diabo, ele fazia toda a visão e aparecia em forma de que? Em forma de um cavalo, dum cachorro grande pintado, em forma dum animal, não é! Então a turma olhava ansi, era um lobisome, ai botava o nome ansi de lobosime, mas tudo aquela figura. Hoje se contava que na praia, toda sexta-feira, já ouviu fala muito isso, se encontrava duas cabeça, uma batendo na outra fazendo aquela faísca de fogo, as vezes o viajado, pescadô contavom que tavam umas hora no mar, contavom. Otro que ia viajando duas pessoa pelo canto da praia, purque o sinhô sabe que naquele tempo não tinha estrada, saia no canto da praia. Então por muitas veis a pessoa desviava daquele dois encontro, né. Então dizia: _ Ah! Mula sem cabeça! Agora eu digo pro sinhô, sabe pruque que eu so contra estas coisa que to contando pro sinhô pruque muito me contavom, eu num vi isto não sinhô; eu vi otras cosas, otras cosas eu vo fala pro sinhô eu vi. 


Segue pag. 344   do  livro

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