domingo, 23 de março de 2014

João Rosa, patriarca do Sertão da Quina

Gente da nossa história:
João Rosa
João Manoel dos Santos - "João Rosa"
(1902 - 1999)
Nascido em 07 de setembro de 1902 em meio as casas de pau-a-pique, roças e rios, o caiçara João Manoel dos Santos, carinhosamente conhecido como João Rosa, é considerado patriarca do Sertão da Quina. De família de agricultores, caçadores, pescadores e artesãos, seu pai, Manoel Gaspar dos Santos, a mãe, Rosa Félix de Jesus foram um dos colonizadores da região por volta de 1850.

João Rosa foi um homem alto, de pele e olhos claros, de musculatura forte, de passos firmes e determinados. Embora de aparência bruta por conta do modo de vida da época, por dentro havia um coração e um amor maior que seu peito. João sabia da sua tarefa na comunidade. Ficou viúvo por três vezes e destes matrimônios teve doze filhos, 43 netos, 72 bisnetos e 11 tataranetos.

Segundo Benedito Manoel dos Santos, 80, João Rosa tinha o costume de marcar cada um novo membro da família para não perder as contas. Existe um vídeo de um de seus últimos aniversários aonde é possível ver grande parte da família reunida, falta agora escolher um dos filhos para que esta tradição possa continuar.

João Rosa teve uma contribuição importante na formação da cultura, da educação, da construção do patrimônio imaterial e material, da amizade, da camaradagem e da formação histórica e religiosa desta localidade. 






Homem destemido para o trabalho, filho atencioso, pai dedicado, avô querido, bisavô herói e tataravô paciente, chegou a ir várias vezes a pé para Santos para trabalhar nos bananais. A saudade ainda é latente à maioria dos moradores da região e da cidade. Participou indiretamente da Revolução de 1936, colaborou com a catástrofe de Caraguatatuba, buscava ajuda em Ubatuba, levava nas costas barris de pinga do sertão até a Maranduba para serem vendidos em Santos. Saía a pé em busca de ajuda na cidade de Caraguatatuba, já que Ubatuba, mesmo naquela época, negava o atendimento.

Certa vez, com outros moradores, reclamou ao então deputado estadual Alberto Santos, sobre a situação do acesso principal do bairro, também participou do processo de tentativa de emancipação da região na década de 1940. Trabalhou ainda na obra da construção das duas primeiras capelas, na primeira ponte, na abertura de estradas. Fez muita amizade em Ubatuba, um deles foi seu Juquinha, antigo farmacêutico do centro da cidade, antecessor de seu filhinho, colaborou na abertura de vários acessos, era co-organizador dos eventos religiosos. Era o primeiro a receber as autoridades, organizador de vários mutirões, sua moradia era a primeira a abrir as portas para os visitantes, os padres e missionários, foi ele quem inaugurou a primeira capela em 1917, a iluminação pública em frente à igreja. A primeira bacia de privada, que veio de Santos, foi instalada em sua residência para atender os missionários.

João Rosa é símbolo da resistência histórica, cultural e religiosa, já que foi uma das testemunha da aparição da jovem mulher em 1915. Na década de 1990 temendo a tomada do morro de Emaús pela SABESP, João Rosa resolveu contar parte do segredo da Santa e da importância do Morro do Emaús (Morro do São Cruzeiro). Felizmente a companhia respeitou seus moradores e desistiu da obra. Foi, para todos os moradores, o evento de maior tensão.

Considerado uma biblioteca ambulante, João Rosa foi fonte de inspiração de vários historiadores e diversas pesquisas. Sua simplicidade refletia na liberdade de um bom bate papo, na transmissão de seu etnoconhecimento, na informação específica sobre o tempo, a fauna, flora, o modo de vida, na surpresa de sua sabedoria e no acerto de seus conselhos. Foi através dele que foi levantado o primeiro histórico sobre a aparição de Nossa Senhora das Graças, que até então era considerado um mistério.

A ele, ainda em vida, fora perguntado se gostaria de nascer na década de 1990, ele responde que não e reforça sua opinião dizendo: “Deus me deu mais do que eu precisava e muito mais do que eu merecia, agora é só esperar Ele me chamar”, e Ele chamou. Foi no dia 19 de setembro de 1999. Neste dia o tempo parou para despedir do tio, do pai, do avô, do amigo, do compadre João Rosa.

Sentir apenas saudades deste cidadão é pouco ainda pelo o que ele fez a nossa região. Mesmo singela, João Rosa teve como homenagem, através de uma Lei Municipal, a colocação de seu nome na ponte sobre o Rio Maranduba, ou rio da Laje e que até o momento a prefeitura ainda não colocou a devida placa, assim como em outras homenagens a outros amigos de João Rosa.



Do  site    www.maranduba.com.br
EZEQUIEL DOS SANTOS

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