domingo, 12 de janeiro de 2014

ESPECIAL DO LIVRO " UBATUBA, ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA " - PARTE 109





Claudia de Oliveira nos forneceu neste relato, uma idéia do pensar e do sentir caiçara, embora ela mesma se reconheça contagiada com o ritmo do tempo na era da informática, pode se observar conhecedora de sua cultura e costumes no fluir de sua escrita. Mas, esse modo próprio de ver e de analisar o mundo, o caiçara de um modo geral, o baseia na sua percepção sensorial “olhar o tempo, a chuva, o sol e sentir o vento”, capaz de estabelecer a partir dela a ordem social que pauta, em termos de comportamento, seus procederes éticos e morais, e a criação de padrões estéticos sobre o mundo admirável do seu entorno. No relato caiçara há sempre um saudosismo do passado, a inevitável evocação, daqueles que outrora foram por direito “os donos da terra” e os conquistadores do mar, pois tiravam dele os frutos que garantiriam sua sobrevivência. O apelo do cântico poético esboçado por esta amante da Ubatuba é claro “ninguém mais ouve minha gente”, neste sentido, a reivindicação da cultura autóctone caiçara, deslocada de seu próprio habitat, interrompida e distanciada de suas tradições, há de ser uma força motriz para as instituições que têm como último fim, amparar a pesquisa e a produção de conhecimento nos interditos da cultura.



Outro de nossos entrevistados foi Jorge Fonseca, nascido e criado no litoral. Ele aprendeu a conhecer seu espaço e dele obter  informações  



para garantir sua sobrevivência e de seus numerosos  descendentes. Este depoimento nos mostra a força e a sabedoria do cotidiano de um caiçara.

Jorge Fonseca tem 81 anos, nascido em Ubatuba, é filho de Jesuíno Joaquim da Fonseca e Donária Maria da Conceição. Ele fala da origem de sua família e diz que seu avô, pai de Donária, era Antônio Lopes Guimarães - neto de francês, que juntamente com Dona Maria Alves, chegou ao município vindo de Rio de Janeiro. Antonio já estava viúvo, porém casou-se novamente com Izabel da Conceição, uma índia mestiça descendente de escravos. Antônio Lopes, avô de Jorge Fonseca adquiriu terras em Ubatuba de Dona Maria Alves, transformando-as em fazenda. Eram grandes áreas localizadas nas Toninhas, Casanga e Cedro, onde se cultivava plantações de fumo, café e cana, que depois transportavam à Santos em canoa de voga.


A família de Jorge Fonseca era formada por mais sete irmãos, eram eles: Hortência, Nestor, Maria, “Guaiá”, Luiz e “Biscoito”. Este último, tornou-se muito conhecido em Ubatuba pelo ofício de tintureiro. Biscoito, como era carinhosamente conhecido por todos, morava bem no centro de Ubatuba, nas proximidades onde hoje se encontra a casa lotérica, ao lado do Cartório Eleitoral. Biscoito passava roupas para os clientes da lavanderia de sua mulher: eram ternos, camisas e vestidos. Sua janela, que fazia frente à Rua Coronel Domiciano, era local conhecido por muitos ubatubenses, pois ao mesmo tempo em que Biscoito passava as roupas, sua televisão - a primeira de Ubatuba vivia ligada, servindo de passatempo para muitas pessoas que ali paravam para jogar uma conversa fora e assistir a programação diária. 


Confira  sequência no dia 15 de janeiro.

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