sábado, 9 de novembro de 2013

ESPECIAL DO LIVRO " UBATUBA, ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA " PARTE 104






O espaço ficcional entre a câmera e a tela produz mais dois espaços: o filmado e aquele que ocupa o cameraman. Assim, o enquadramento dos filmes institui um ponto de vista, o chamado “fora de campo”, lugar potencialmente virtual, mas também de desapropriação e desvanecimento: o lugar do futuro e do passado, muito antes de ser presente.

Isto, explicamos no nosso livro Sonhar de Olhos Abertos (Droguett, 2004). Os efeitos de realidade no cinema, coexistem com os efeitos de ficção, estes últimos têm a ver com o espaço virtual, não visível, ainda que presentes na mente do espectador – sempre fora de campo. Portanto, o cinema não só é visibilidade: a imagem em evidência e a noção de realismo não têm base tecnológica sustentável, e sim psicológica, social e histórica.




A crise do Brasil moderno consiste, justamente em ocultar boa parte dessas experiências do cotidiano da vida social que se fundamenta na emergência das representações cinematográficas que apontam para a pluralidade e o multiculturalismo, para as diferenças e para a exacerbação dos conflitos. A idéia de nação e de “uma identidade nacional” foi construída dialeticamente no confronto dos universais do conquistado e do conquistador, do caiçara, do negro, do migrante e do imigrante, alternativas para o mundo globalizado e dos mercados integrados. A universalidade hoje só existe de forma onipresente no mercado capitalista e esta questão apaga o protagonismo daqueles que com esforço forjam a idéia de nação. Portanto, o mito fundador da nação brasileira é necessário compreendê-lo como um lugar de encontro afetivo – simbólico, na medida em que a idéia de nação brasileira, constitui-se em uma identidade fragilizada, quase diluída 


ou incapaz de dar conta simultaneamente, do conjunto de questões e interesses que mobilizaram os diferentes grupos sociais do país.

Por isso, procuramos pensar o cinema também do ponto de vista dos efeitos receptivos. O cinema é olhar, um ponto de vista em movimento para ver, muitas coisas e sabê-las ordenar com uma única finalidade: transmitir sensações, idéias, conceitos e paixões. O cinema é uma mescla de ficção e realidade, que se vive no interior de uma sala escura ou nos televisores domésticos, mas convém vivê-lo fora ou distantes das telas, sintonizados para captar e experimentar intensamente o mundo.

O público prefere reconhecer que conhecer, pois reconhecer – se é um jogo, conhecer implica esforço como responde o realizador norte – americano James Brook, em 1893, “o público busca no cinema uma experiência; as teorias vêm depois”, ante a pergunta se o espectador busca reconhecer-se na tela ou bem consumir uma fantasia alheia a sua realidade cotidiana. O cinema, sem dúvida oferece uma tríade instigante: conhecer, reconhecer e experimentar, é isto o que possibilita a verdadeira experiência cinematográfica.

Edgard Morin, na sua obra Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro (2001), afirma a necessidade de uma reforma do pensamento para uma compreensão mais ampla da condição do ser humano como ser físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico, que em sua unidade e diversidade complexa, tem sido desintegrado no campo da educação. Sem querer nos afastar da mídia cinema e dos efeitos que esta é capaz de produzir na cultura ubatubense, frisamos este aspecto relevante da condição humana que desemboca em questões existenciais a ser ensinadas, envolvendo o

universo da vida, a consciência planetária e a gama de interferências de toda ordem, como a globalização econômica, a comunicação massiva, a social e a política das quais os meios de comunicação social também são responsáveis.

CONTINUA...............



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