quarta-feira, 9 de outubro de 2013

1957, O DIA EM QUE O AVIÃO DC-3 PP- ANX CAIU EM UBATUBA



Modelo identico ao do avião  que bateu na Ilha Anchieta
em Ubatuba em 1957

Queda do DC-3 PP-ANX foi um acidente aéreo ocorrido em 10 de abril de 1957.1 Operado pelo consórcio Real-Aerovias-Nacional, o Douglas DC-3 prefixo PP-ANX realizava o voo Rio – São Paulo das 17h30 min, previsto para pousar na capital paulista as 19h00 min. No entanto, uma pane em um dos motores obrigaria o piloto a tentar um pouso de emergência em Ubatuba. Enfrentando condições climáticas adversas, o DC-3 PP-ANX acabaria por bater na encosta do Pico dos Papagaios na Ilha Anchieta. Dos 26 passageiros e 4 tripulantes à bordo do aparelho, sobreviveriam apenas 1 tripulante e 3 passageiros.





AERONAVE

Douglas DC-3 foi uma aeronave desenvolvida para o transporte de passageiros no final da década de 1930. Por conta de suas qualidades como versatilidade (poderia ser rapidamente adaptado para o transporte de passageiros/cargas), robustez, fácil manutenção e baixo custo de operação, seriam empregados em larga escala pelas Forças Armadas Americanas durante a Segunda Guerra Mundial. Seriam fabricados mais de 10 mil aeronaves para o transporte militar, sendo batizadas C-47 Dakota. Após o final do conflito, o governo americano decidiu vender a maioria das aeronaves para operadores civis e demais forças aéreas do mundo. Com isso, milhares de aeronaves de transporte de carga do tipo C-47 Dakota seriam convertidas para a versão civil DC-3.
No Brasil, a REAL Transportes Aéreos seria fundada em 1946 e operaria inicialmente voss entre Rio de Janeiro e São Paulo. Na década de 1950, a REAL iria se converter em uma das maiores companhias aéreas do país (em 1959 já era a maior empresa área do Brasil, superando as tradicionais Panair do Brasil,VASPVARIG e Cruzeiro do Sul2 ) controlando cerca de 30% do mercado aéreo doméstico.3 . Após receber seus primeiros DC-3 em 1946, a Real chegaria a operar 32 aparelhos desse tipo pouco mais de 10 anos depois. Em 1957, com a incorporação da maior parte das ações das empresas Aerovias Brasil e Nacional ao seu patrimônio (formando o Consórcio REAL-Aerovias–Nacional), a REAL se tornaria um dos maiores operadores de DC-3 do mundo com 89 aeronaves.4
A aeronave acidentada tinha o número de construção 13048 e havia sido construída em 1944. Após voar em missões de transporte na Segunda Guerra pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, seria vendida a empresa Ranier Air Freights onde voaria por algum tempo até ser vendida em 1956 para a REAL Transportes Aéreos. Ao chegar ao Brasil, a aeronave seria convertida para o transporte de passageiros e receberia o prefixo PP-ANX.5

O  ACIDENTE

O Douglas DC-3 prefixo PP-AXN do consórcio REAL-Aerovias–Nacional decolaria do aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, às 17 h 30 min de 10 abril de 1957.6 O voo tinha como destino o aeroporto de Congonhas, São Paulo, e estava lotado por conta do cancelamento do voo anterior das 15h00min que faria escala em Santos antes de pousar em Congonhas.7
O mau tempo na região da baixada Santista que impediria que o voo das 15h00min fosse realizado complicaria ainda mais as condições do voo das 17h30 min. Previsto para pousar as 19h 00 min em Congonhas, o DC-3 PP-AXN encontraria mau tempo na divisa estadual Rio São Paulo. Por volta das 18h00 min quando sobrevoava em velocidade de cruzeiro a região de Ubatuba, o motor esquerdo entraria em pane, incendiando-se em seguida. 8 Após infrutíferas tentativas de combater o incêndio, que crescia e ameaçava a segurança do voo, a tripulação fez um pedido de socorro e informou que tentaria pousar em alguma praia no litoral de Ubatuba. 9
No entanto, o mau tempo encobria a visão da tripulação de forma que a aeronave sobrevoava perigosamente a Ilha de Anchieta. Quando a tripulação descobriu estar na iminência de um choque contra a encosta do Pico dos Papagaios, tentou-se desviar a aeronave da trajetória do Pico. A aeronave, porém, estava com apenas um de seus motores operando e não teve força suficiente para responder aos comandos, perderia sustentação e bateria na encosta do pico dos Papagaios por volta das 18h20 min.10
O choque da aeronave com as árvores da encosta separaria as asas da fuselagem, salvando a vida de 3 passageiros e 1 tripulante, enquanto que 23 passageiros e 3 tripulantes morreriam por conta dos ferimentos causados por ferimentos múltiplos causados pelo choque e ou queimados pelo combustível da aeronave.11

A aviação comercial do Brasil estava em seu auge nos anos 1950. No entanto apesar da concorrência acirrada entre as companhias, principalmente na linha Rio - São Paulo, que originaria a criação da Ponte aérea em 1959.12 No entanto, seriam realizados apenas investimentos pontuais na infraestrutura aeroportuária. Com isso, as aeronaves voariam com o auxílio de poucos equipamentos e recursos em terra para auxiliá-las durante voos em condições climáticas adversas. Somente em meados da década de 1960 que os aeroportos nacionais receberiam grandes investimentos em equipamentos e tecnologia, melhorando as condições de monitoramento e navregação de aeronaves.
As companhias aéreas, porém pouco investiam no reaparelhamento de suas frotas, operando aviões obsoletos como o DC-3 e C-46, por conta do baixo custo de aquisição, operação e manutenção dessas aeronaves. Essa situação só mudaria no final dos anos 1950, com o início da crise aérea nacional, onde o custo de operação dessas aeronaves obsoletas cresceu ao ponto de torná-las pouco atraentes.
O acidente com o DC-3 PP-ANX ocorreu 3 dias depois do Desastre aéreo de Bagé e marcaria o início do declínio da REAL. Entre 1957 e 1961, a REAL perderia sete aeronaves em acidentes que causariam a morte de 99 pessoas entre passageiros e tripulantes, sendo quatro deles ocorridos em um curto intervalo de um ano.13 Esses acidentes enfraqueceriam a empresa que acabaria sendo adquirida pela VARIG em processo ocorrido em agosto de 1961.14

A aeronave cairia no sopé do Pico do Papagaio, localizado na Ilha Anchieta. Por ser uma área de mata fechada de difícil acesso, as equipes de socorro levariam várias horas para alcançarem os destroços.





Vista de motor Pratt & Whitney R-1830 Twin Wasp. Esse motor equipava os DC-3 e C-47. Uma pane no motor da asa esquerda seguida de incêndio à bordo causaria a queda do PP-AXN, embora nunca fosse determinada a causa da pane.


BIBLIOGRAFIA...
  • SILVA, Carlos Ari Cesar Germano da; O rastro da bruxa: história da aviação comercial brasileira no século XX através dos seus acidentes; Porto Alegre Editora EDIPUCRS, 2008, pp 159-161.

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