segunda-feira, 23 de setembro de 2013

QUILOMBO DA CAÇANDOCA - PARTE 1

O QUILOMBO DA CAÇANDOCA (I)


          Há coisa de um ano, o cronista Francisco Ruiz, passando uns dias de verão em Ubatuba, fez questão de conhecer um espaço que recebia muita badalação: o Quilombo da Caçandoca. É muito interessante o seu texto; deverá provocar boas reflexões aos mais sensatos. Afinal, são observações de uma área no espaço da cultura caiçara, com reflexos de uma mentalidade que se distancia do ser caiçara trabalhador, preservador da natureza e do espírito comunitário. É triste ver pobres degradando e querendo fazer o mesmo papel dos exploradores, muitas vezes por ganância, ingenuidade ou por ausência de uma reflexão em torno da identidade cultural. São poucos  que remam contra a maré. Pior ainda é saber que grande parte desses pobres se alimenta da cultura do assistencialismo, de esperar as cestas básicas do governo e por aí afora.





      Depois de mais de uma semana tomando sol na praia da Lagoinha, meu corpo já estava se sentindo como bacalhau de porta de venda e implorando por um banho de cachoeira na mata. Seguindo indicação de amigos, peguei o carro e parti para o Sertão do Quina, na encosta da Serra do Mar, bem atrás da Praia da Maranduba, Ubatuba SP.

        Saí da BR-101 e fui perguntando aqui e ali, para não errar o caminho, sonhando com a minha cachoeira gelada. Depois de uns 6 km rodados, qual não foi minha surpresa quando dou de cara com a BR novamente! Eu havia percorrido uma ferradura e cheguei quase no mesmo lugar! Que fazer agora? Já meio desanimado, resolvi voltar para casa, o tempo não estava mesmo lá essas coisas, achei melhor retornar.

         Ao pegar a pista, a primeira placa que vejo, indicava a Praia da Caçandoca, onde existe um quilombo que há dias eu estava programando visitar, mas vinha evitando por causa do difícil acesso. Num ato impensado, resolvi mudar os planos e tentar a sorte na Caçandoca. De quilombos, eu só conhecia o que havia lido nos livros escolares, que eram grupamentos formados por escravos fugitivos. Como seria um quilombo no séc XXI?

          A estrada era de desanimar qualquer cristão, um atoleiro só. Só segui em frente porque mais de um informante me garantiu que com meu celtinha 2006 eu conseguiria varar os 7 km de barro até a praia. Larguei mão do apego ao carro e meti o pé no acelerador. Em alguns trechos de subida, se o carro não estivesse embalado não ia passar não, o negócio era muito feio…

       Antes da praia, cartazes indicam que estou adentrando os limites do quilombo. Preparo-me para encontrar os primeiros negros, que eu imaginava instalados, pacata e bucolicamente, 
naquele recanto à beira-mar. 

(Continua! Oba!)

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