O programa de televisão, tem-se transformado em um
produto cultural devido à vertiginosa expansão do mercado da comunicação. Neste
contexto de recepção, a cultura pode ser concebida como um vasto tecido de
relações existentes: políticas, econômicas, religiosas e artísticas. Desta
forma, a temporalidade é um eixo sobre o qual gira a produção para televisão,
fortes seqüências de aceleração do tempo se unem às novas tecnologias que
propiciam a desapropriação do mundo contemporâneo, assombrando a originalidade
a sacralidade da arte e dando lugar à reprodução e à produção em série.
O ser humano habita um espaço desterritorializado,
fragmentado e fractalizado, perdendo a noção daquilo que é transcendente. A
cultura brasileira nesse sentido sempre foi aberta, receptiva demais em relação
ao estrangeiro, ao diferente e às novidades. O movimento modernista de 22,
citado no item 2 do capítulo II deste livro, já falava do caráter antropófago
do povo brasileiro em uma alusão aos antepassados ancestrais de raiz Tupi. Esse
caráter antropófago aplicado ao afã apropriador e transformador se aplica ao
meio mais voraz da cultura contemporânea – a televisão, máquina antropofágica
por excelência.
A onipresença da televisão e o fácil acesso a esse
mundo ficcional provocou uma crise de identidade na cultura brasileira. Do lado
da recepção, explica Anna Maria Balogh no artigo Cultura e Intertextualidade – Mídia e Transformações (2002), o
fenômeno das transformações provocado pela televisão, revela-se mais complexo,
os espectadores veteranos da televisão brasileira adquiriam competência para
ver TV, a partir dos “enlatados” das séries americanas e dos melodramas latino
– americanos importados. Só depois que a teledramaturgia adquiriu conotações da
realidade brasileira, multiplicando as tramas e incorporando o humor, ganhou visualidade
e ação.
Na década de 80 – afirma Balogh, os espectadores
veteranos começaram a envelhecer e era necessário criar novos públicos cativos.
A Rede Globo trouxe então a estratégia de “novos formatos” para sua tela, a
idéia era conquistar o público jovem, incorporando o seriado na sua
programação. Os jovens da época viram nessas novas armações, referências a
outros discursos de moda: o cinema, a história em quadrinhos, jornalismo, música pop,
esportes radicais, tudo isto em clima de irreverência e alegria. Nada escapou a
esses novos diálogos propostos pela Rede Globo: teledramaturgia, noticiário,
cinema, making – ofs, etc.
continua no dia 18/setembro
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