quinta-feira, 7 de março de 2013

MORAR EM UBATUBA...


MORAR EM UBATUBA



       Hoje é aniversário do blog: está completando dois anos. Faço questão de apresentar o texto de alguém muito especial, que acompanha as nossas coisas com muito interesse: o amigo Jorge, da terra de outros Jorges, inclusive o Amado e tantas outras pessoas que fazem este país.
       Ubatuba hoje é essa mistura de gente de todas as partes deste Brasil, numa simbiose que vai dando nova feição à cultura local que se refaz entre a serra e o mar.
        Aos leitores... Um forte abraço!

“Valeu a pena ter ido morar em Ubatuba‭?”‬ Essa é uma das‭  ‬perguntas que costumo ouvir quando encontro amigos que deixei em São Paulo.‭  ‬Achavam falta de bom senso deixar um cargo de professor efetivo no município de São Paulo e o‭ ‬cosmopolitismo dessa cidade‭  (‬Ainda mais,‭ ‬possuindo casa própria e tendo pais,‭ ‬irmãos,‭ ‬outros parentes e amigos por perto.‭) ‬para‭ “‬aventurar-se‭”‬ no litoral.



‬Eu sempre lhes falava em mudar-me para uma cidade em que pudesse criar meus filhos com mais liberdade e menos preocupação com violência,‭ ‬mas não sabia onde era esse lugar nem me levavam a sério.‭ 

Em‭ ‬1997,‭ ‬vim com Joana,‭  ‬minha mulher‭ ‬-‭ ‬atendendo‭  ‬a um convite de Rui Grilo‭ ‬– a um curso com duração de uma semana,‭ ‬ministrado aqui na EMEI‭ “‬Maria Alice‭”‬ por um casal de Volta Redonda.‭ ‬Gostamos tanto de Ubatuba que voltamos para São Paulo com a compra do terreno da casa onde moramos hoje já definida.‭ ‬Vendemos a linha telefônica e o carro‭  ‬para fazer parte do pagamento.‭ ‬Em‭ ‬98,‭  ‬começamos a construir e,‭  ‬em janeiro de‭ ‬99,‭ ‬mudamos com a casa só‭  ‬parcialmente terminada.‭ ‬Grande surpresa para meus amigos e parentes.‭ 

O primeiro ano foi um pouco difícil financeiramente porque meu salário ficou reduzido a menos da metade.‭ ‬Lá na capital,‭  ‬eu recebia mais da Prefeitura‭ ‬ do que‭  ‬Estado,‭ ‬mas,‭ ‬vindo para cá,‭ ‬tive de exonerar-me da rede municipal.‭  ‬Além disso,‭ ‬a maior parte da casa ainda precisava receber acabamento.‭  

Também perdemos a comodidade que tínhamos lá,‭ ‬já que a‭ ‬moça que nos auxiliava em casa‭ ‬não nos acompanhou.‭ ‬Passamos a dar aulas em turnos diferentes para cuidarmos dos‭  ‬quatros filhos.‭ ‬O mais velho tinha só oito anos de idade.‭ ‬Some-se a isso o fato de‭  ‬minha sogra,‭ ‬que veio‭  ‬conosco morar na edícula com meu cunhado,‭ ‬ser‭  ‬cadeirante e requerer,‭  ‬em muitos momentos,‭ ‬a presença da Joana.‭  

Os nossos filhos demoraram a aceitar a mudança.‭ ‬O Henrique,‭ ‬que tinha cinco anos na época,‭ ‬vivia nos perguntando quando voltaríamos‭  ‬para o Brasil.‭ ‬Hoje,‭ ‬quando mencionamos isso em sua presença,‭ ‬ele fica meio encabulado,‭ ‬não só‭ ‬por causa do desconhecimento de Geografia,‭ ‬mas sobretudo porque adora Ubatuba.‭ ‬Ivan Lucas,‭ ‬o mais velho,‭ ‬acostumado a passear com as tias,‭ ‬vivia reclamando da inexistência‭  ‬de shopping e Mc Donalds.‭ ‬Ainda não tinham chegado aqui esses ícones do consumismo.‭ ‬O Caio,‭ ‬que,‭ ‬apesar de,‭ ‬nos primeiros meses,‭ ‬sofrer de alergia a picadas de insetos e por isso ficar com o corpo cheio‭  ‬de perebas,‭  ‬foi o primeiro que viu‭  ‬vantagens em morar em Ubatuba.‭ ‬O mar era seu trunfo para argumentar com seu irmão gêmeo:‭  “‬Ah,‭  ‬Henrique,‭ ‬lá só‭  ‬tem uma aguinha‭”‬.‭ ‬Dizia,‭ ‬referindo-se‭  ‬à pequena piscina de plástico‭ ‬que tinham em São Paulo contra a imensa praia do Perequê-Açu.‭ 

O Ivan Lucas logo começou a‭ ‬ir à escola sozinho,‭ ‬de bicicleta.‭ ‬Depois os outros,‭  ‬à‭  ‬medida que iam‭  ‬crescendo,‭  ‬ganhavam autonomia,‭ ‬e essa possibilidade de poderem andar sozinhos na cidade foi fundamental no desenvolvimento deles.‭ ‬Uma vez que não precisavam de ser levados para os cursos,‭ ‬puderam ter aulas de natação na piscina municipal,‭ ‬de capoeira,‭ ‬desenho,‭ ‬dança,‭ ‬teatro,‭ ‬circo,‭ ‬música,‭ ‬na Fundart,‭ ‬inglês na BP English.‭ ‬Se,‭ ‬nessa época,‭ ‬morássemos ainda em São Paulo,‭ ‬eles só poderiam sair para a escola e para as atividades extraescolares acompanhados de um adulto,‭ ‬o que seria inviável.‭ ‬Hoje há três deles‭  ‬morando fora do município por contingências da vida,‭ ‬mas amam Ubatuba.‭ ‬Se não tivessem necessidade,‭ ‬não sairiam daqui.

‬Em‭ ‬2001,‭ ‬assumi o cargo de professor na rede municipal,‭ ‬para o qual eu tinha feito concurso no ano anterior.‭ ‬Fui trabalhar na EM‭ “‬José Belarmino‭”‬,‭ ‬no Puruba.‭ ‬Fiquei lá até‭ ‬2010.‭ ‬Os alunos eram bastante dóceis e amáveis.‭ ‬O grupo de professores e funcionários também era muito acolhedor e amigo.‭ ‬Sentia-me em casa.‭ ‬Ademais,‭ ‬eu‭  ‬ia para o trabalho vendo da janela do ônibus o sol surgir dourando as‭ ‬águas do mar e a folhagem da Mata Atlântica.‭ ‬No retorno,‭ ‬ao meio-dia,‭  ‬meus olhos queriam manter-se voltados para o mar azul,‭ ‬salpicado de ilhotas verdes e ondas brancas,‭ ‬mas a cada curva eram atraídos pelo colorido da Serra do Mar com suas quaresmeiras,‭ ‬seus manacás e numerosas outras plantas que matizam com suas flores o verdor da mata.‭ ‬Era uma viagem.‭ ‬Viagem extasiante.‭ 

O melhor de tudo é que‭  ‬a todas essas coisas positivas que relatei‭  ‬soma-se uma numerosa quantidade de excelentes amigos que temos feito aqui.‭ ‬Por tudo isso,‭ ‬sempre respondo com convicção àquela pergunta de meus amigos da capital.‭  ‬Sim,‭ ‬valeu a pena ter vindo morar em Ubatuba.

‬Jorge Ivam Ferreira


Matéria extraída do excelente blog COISAS DE CAIÇARA  do amigo , professor e 100% ubatubense José Ronaldo


www.coisadecaicara.blogspot.com.br

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