Outro pico de importância para
Ubatuba, também fazendo parte desde o início da história da Aldeia Iperoig, é o
“Pico do Frade”. De acordo com informações de Hélio Graciano, ubatubense amante
das histórias caiçaras, o “Pico do Frade” é um dos mais elevados de Ubatuba,
com duas saliências pontiagudas, está entre os bairros do Horto Florestal e o
Perequê-Açú. A face do morro que é voltada para o bairro do Perequê-Açú é de
formação acústica que proporciona uma grande ressonância nos ecos, repetindo-se
por várias vezes e que a cada repetição, o som muda de direção. A razão deste
fenômeno é por conta de que a formação é constituída por rochas de granito
verde e de uma pedra que tem uma consistência de um ferro, vibrando igual a um
sino, fazendo assim com que muitas pessoas que residem longe da localidade
consigam ouvir latidos de cães, galos cantando e gritos de outras pessoas.
Já
na outra face, do lado do bairro do Horto Florestal, ao sopé do pico tem um
pequeno morro chamado de “Morro da Pipoca”, que no seu topo se forma uma bacia.
Próximo desse lugar, quando foi aberta a Rodovia Oswaldo Cruz, no trecho da
serra, centenas de escravos trabalharam em sua pavimentação com pedras do rio
que eram lavradas e cortadas, um trabalho muito penoso exigindo um esforço
físico muito grande que os levava à morte. Seus corpos eram trazidos e
sepultados no “Morro da Pipoca” pelos próprios escravos sobreviventes, que
protegiam as covas com pedras, afastando assim muitos caçadores que ali
apareciam.
A denominação de pico como sendo
“Pico do Frade”, tem relação com o mistério de lendas e superstições da época
em que o Padre José de Anchieta ficou prisioneiro nas terras de Iperoig. Dizem
que os Tupinambá em tempos da Confederação dos Tamoio, costumavam se reunir em
volta de um morro de dois picos na
evocação de proteção aos seus deuses para uma grande batalha da confederação.
Dizem ainda que o alemão Hans Staden publicou em seu livro, que de passagem
pela aldeia Iperoig, encontrou com um frade espanhol que fez daquele pico o seu
reduto para se abrigar, escondendo-se de corsários franceses, ingleses e de
outros índios mais selvagens, perigosos que o pretendiam matar, denominando-se
assim “Pico do Frade”.
* * *
Ubatuba na década de 80 continuava o
seu desenvolvimento no que diz respeito ao turismo do local. A cidade entra
definitivamente para o mercado de exploração do turismo, pois suas belezas
naturais que proporcionavam praias, ainda, quase intocadas eram atrações e
chamariz para este crescente mercado. Comerciantes de vários tipos de
estabelecimento aumentavam cada ano, novos hotéis, restaurantes e outros afins
procuravam seu lugar. A exploração imobiliária cada vez mais em ascensão,
trouxe interessados na exploração turística, buscando em Ubatuba, a razão para
seus investimentos. A procura por Ubatuba era tão grande por veranistas que
despertou rapidamente, mesmo antes dos anos oitenta, o interesse também dos
habitantes residentes em ganhar o seu dinheiro com os turistas que aqui vinham
nos meses de verão.
Alugar as suas próprias residências
passou a ser para o caiçara ubatubense uma forma de ganham dinheiro fácil,
mesmo que para isso tivesse que sair da sua comodidade estável por 1 ou 2
meses. Logo, para muitos desses ubatubenses, ou mesmo aqueles que aqui estão há
pouco residindo, passaram a ter além de suas próprias moradias, mais uma outra,
especificamente para o aluguel temporário aos turistas. Na verdade, a idéia de
investimento para muitos é a construção de pequenas moradias como prédios de
apartamentos especificamente para aluguéis temporários. Até os dias atuais,
estabelecimentos de hospedagens como hotéis têm como concorrentes as
residências de aluguel temporário, mesmo tendo diminuído um pouco a febre das
casas para alugueis.
Nos anos oitenta também, um
acontecimento veio de encontro com a cidade, sendo notícia e debate por muito
tempo, a realização de um projeto imobiliário de 600 milhões de dólares e que
se denominaria “Porto Flamengo”. O projeto previa a derrubada de parte da
floresta e de morros em declives, uma ação que ia contra o Código Florestal e
que deveria desencadear profundas alterações no litoral da cidade de Ubatuba. O
projeto previa a construção de 300 apartamentos e mais 100 casas nos taludes da
Serra do Mar. Para a Embratur, o projeto era visto como uma alternativa de
desenvolvimento e atração de turistas nacionais e estrangeiros;falava-se em uma
nova Caribe que geraria oportunidades de
emprego para toda região.
Uma movimentação de milhões de
dólares que trouxe a cidade de Ubatuba, técnicos de várias secretarias de
Estado e representantes da Embratur, Marinha, USP, Ministério Público e os
principais interessados na preservação da localidade e do município, os
ambientalistas, tornaram o encontro, promovido pelo Movimento de Preservação de
Ubatuba, um ato de militância. Tal encontro tinha o objetivo de levar a
discussão para toda a comunidade local, demonstrando as vantagens e
desvantagens do projeto. Um debate que não acabou rendendo tanta discussão,
sendo prejudicado pela ausência dos principais interessados na realização do
projeto, os representantes da Selecta Indústria e Comércio, responsável pelo
empreendimento.
Nos anos noventa, Ubatuba continua
com outras preocupações, dentre elas a convivência harmoniosa do turismo e meio
ambiente. iAs praias de Ubatuba, algumas consideradas anos atrás desertas, hoje
já não mais são. As mais charmosas praias do lado norte da cidade já sofrem
concorrência de freqüentadores que procuram pelos mesmos atrativos naturais. O turismo continua, depois de umas décadas, a
ser a mola propulsora, a engrenagem principal na busca de um progresso estável,
mas que em seu desenvolver deve ser responsável, sustentável, ecológico e
conservador do meio ambiente, um patrimônio natural da cidade.
As paisagens, a natureza , a beleza
de Ubatuba serão, sem dúvida, se conscientemente e respeitosamente explorados,
a fonte do desenvolvimento social, econômico, turístico, cultural,educacional ,
da saúde e lazer.
CONFIRA A PARTE 289, DO LIVRO " UABTUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA...'.....A SER PUBLICADA NO DIA 10 DE OUTUBRO
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