quarta-feira, 11 de abril de 2012

ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO , MEMÓRIA E CULTURA...PAGINA 72


Colonizadores começaram a chegar nas terras de Iperoig, povoando-as e radicando-se nelas. Os irmãos portugueses Gonçalo Corrêa de Sá, Martim de Sá e seus filhos, instalaram-se nestas propriedades no início do século XVII, assim como também Inocêncio de Unhate, Miguel Gonçalves e Belchiol Couqueiro. Este último, e seu irmão Diogo foram os primeiros a ganhar a concessão de sesmarias pelo governador da Capitania de São Vicente. Os irmãos Couqueiros alegaram esses territórios, uma vez que não possuíam terras para trabalhar e que tinham prestado serviços à Coroa de Portugal na luta pela conquista[1].




A repartição das terras de Iperoig começava a partir do rio Maranduba, chamado de Marajahimirindiba seguindo no sentido Rio de Janeiro até o rio Hubatyba, hoje o Rio Grande ou da Barra, estas mesmas medidas acabavam sendo esticadas ou retificadas de acordo com a apropriação que os colonizadores faziam delas.

A Condessa de Vimieiro, a principal donatária da Capitania de São Vicente, Dona Mariana de Sousa Guerra e outros beneficiários, doaram desde Portugal muitas terras à viúva Dona Maria Alves, que por sua vez as doou ao Jordão Homem da Costa, considerado o fundador da cidade de Ubatuba[2].

Jordão Homem da Costa foi um português, natural da Ilha Terceira dos Açores que, com sua família, estabeleceu-se na Aldeia por ordem do Governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, mais tarde este fundaria a Vila de Ubatuba. Para a fundação era necessária a construção de uma Câmara, de uma Cadeia e de uma Igreja, que eram considerados elementos básicos na instituição de uma vila. Sendo assim, Jordão Homem da Costa providenciou em primeiro lugar a construção de uma capela. No dia 28 de outubro de 1637, o Governador elevou a antiga aldeia de Iperoig à categoria de Vila, nomeando-a como Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba.

No início dos assentamentos, Ubatuba era uma grande soma de várias fazendas ao longo de toda a costa. Os portugueses não eram os únicos que tinham a exclusividade da colonização da região. Outros estrangeiros como ingleses, holandeses e franceses tornaram-se também donos, fazendeiros de grandes áreas. Fazendas, por exemplo, localizadas nos bairros Ubatumirim, Lagoinha, Caçandoca, Marafunda, Perequê Açu e Corcovado, entre outras localidades, configuravam uma pluralidade de estrangeiros em Ubatuba.

Hoje em dia, pode-se perceber um pouco desse legado histórico, nas ruínas das antigas fazendas que ainda podem ser encontradas na região. Um exemplo são as ruínas da Lagoinha, que foi uma grande fazenda colonial, do Capitão Romualdo, na época de maior esplendor econômico da cidade. Vestígios de uma época em que Ubatuba começava a prosperar e se firmava como um dos pólos exportadores da região, que cultivava a cana de açúcar e a aguardente.

Uma variedade de produtos agrícolas, além do café, como a cana-de-açúcar, eram culturas praticadas em algumas destas fazendas que mantinham engenhos para tais cultivos.  Da cana-de-açúcar fabricavam produtos como o açúcar mascavo e a aguardente que eram inclusive embarcados de Ubatuba para outros países europeus. Isso influenciou positivamente no crescimento da cidade: centro urbano, comércio e construções foram erguidos. Além dos vários engenhos de cana-de-açúcar das fazendas, outras pequenas indústrias apareceram como serrarias, fornos de olarias, etc. Estaleiros construíam embarcações, servindo assim para o comércio de toda a produção das fazendas que utilizavam o mar ao longo de toda a costa ubatubense como via hidroviária que ligava comercialmente, as várias fazendas próximas das praias.

Para o escoamento de toda a produção cultivada em suas terras e a fabricação de outros produtos, Ubatuba foi a primeira cidade a ter um porto de exportação e importação, utilizando a baía do Cruzeiro ou praia de Iperoig como parada de navios no carregamento e descarregamento dos produtos. A chamada prainha do Matarazzo servia de acesso às terras firmes para os embarque e desembarque rotineiros para o escoamento de tais produtos[3].

Depois de alguns anos de prosperidade, A primeira decadência, não só de Ubatuba como de todo o Litoral Norte, iniciou-se no ano de 1787/1788. Foi um período de opressão e intransigências por parte do Presidente da então Província de São Paulo, o Capitão-General Bernardo José de Lorena. Foi um governo que ganhou a antipatia não só dos comerciantes e produtores rurais de Ubatuba como também de São Sebastião. Estas vilas eram as que mais prosperavam e progrediam por conta de sua crescente agricultura de suas fazendas e engenhos, enquanto que a Vila de Santos nada produzia e nem sequer comercializava a partir das possibilidades que a atividade portuária oferecia.

Bernardo José de Lorena exigia que as negociações comerciais dos produtos ou mesmo das exportações feitas para Europa fossem negociadas apenas do porto de Santos. Os comerciantes de Ubatuba e São Sebastião não aceitavam a idéia, pois as ofertas da Vila de Santos eram quantias de baixo valor e lá tinham pouquíssimos compradores, enquanto que no Rio de Janeiro e outros portos do litoral brasileiro eram preços mais interessantes. Imposições do Governo da província forçavam a negociação somente com o porto de Santos e levavam cada vez mais aos ubatubenses a revoltar-se e agirem contra, não acatando mais ordens, agindo com independência nas decisões comerciais. Com isso, Ubatuba passou a ser “mal vista”, ganhando a antipatia das autoridades provincianas.

Martin Lopes Lobo Saldanha, foi o governador da província de São Paulo que mais dificultou as relações com as vilas do Litoral Norte. Este aumentou as opressões vividas pelos fazendeiros e comerciantes, tornando o comércio cada vez mais fraco. Nem mesmo os apelos do Tenente Coronel Cândido Xavier de Almeida e Sousa, comandante da Vila de Ubatuba em 1797, que mais tarde tornou-se governo da Província de São Paulo (1822/1823) e, o primeiro Presidente do Governo Provisório (1823/1824), conseguiram mudar a situação crítica que a cidade vivia. Ele foi afastado e substituído por Manoel Lourenço Justiniano da Fonseca, um Quartel-Mestre de pouca integridade e má reputação, que levou a Vila, durante seu comando, a desajustes e prejuízos incontáveis, ajudando na decadência da vila de Ubatuba.

Ubatuba foi ainda, severamente castigada e obrigada, a só fazer o comércio com a Vila de Santos, portanto era impedida de negociar com qualquer outra vila ou porto. Manoel José de Faria Lima, o então Capitão- Mor de Ubatuba, embora ressentido como todos os ubatubenses e contra sua própria vontade, passou a atender as ordens do Governador, encaminhando parte da produção da vila de Ubatuba para a vila de Santos.

Não restou alternativa aos agricultores ubatubenses, senão acatar a triste decisão e sacrificar toda a produção cultivada nas suas plantações, queimando canaviais e parando seus engenhos, em um gesto de protesto contra aquele faccioso governo opressor. As maiores atividades produtivas que levavam a vila a prosperar foram abandonadas, cultivando apenas o necessário para a sobrevivência, sem saber o que os esperava no futuro. Fazendas foram abandonadas e largadas ao “esmo”, sendo seus escravos vendidos e as várias embarcações paradas. Sem o exercício do comércio costumeiro, isto significava o fim da Vila e marca de sua primeira decadência, um dos episódios mais sombrios da história cívica da cidade.

Uma década se passou e Ubatuba viu a chance de se restabelecer novamente na esperança dos novos ventos que trariam o progresso e o Apogeu. 1808 foi o ano de mudanças no cenário europeu, trazendo a família real às terras brasileiras. Dom João VI, em seu reinado no Novo Mundo – o Brasil, propiciou grandes mudanças que levaram o país ao progresso e desenvolvimento. Deu às províncias e respectivamente às vilas, a possibilidade do desenvolvimento cívico e cultural. Para isso houve instalações de tribunais, criação da Casa da Moeda, do Banco do Brasil, entre outras ações importantes. Mas, a re - abertura dos portos ao comércio exterior, trouxe de volta a bonança à decadente e esquecida Ubatuba.

A baía de Ubatuba, daquele então, passou a ser freqüentada por grandes navios com bandeiras de várias nacionalidades em seus mastros. Era o ressurgimento do comércio potencial reacendendo as atividades econômicas mais promissoras e comerciais da cidade. As fazendas voltaram a serem ativadas: cafezais, milharais, canaviais e engenhos, há anos parados.  A Fazenda do Ubatumirim, que pertenceu ao Barão de Araújo Ferraz; a Fazenda da Lagoinha, do Capitão Romualdo; a Fazenda da Lagoa, na Caçandoca, dos Antunes de Sá, descendentes de Mem de Sá e de Estácio de Sá; a Fazenda Bonsucesso Galhardo, na Marafunda; no Perequê Açu, dos Camilher; e no Corcovado, as fazendas dos Lamoza e Coelho, foram algumas das propriedades reativadas, na nova fase da vida comercial de Ubatuba.

Em 1818, Ubatuba passou a receber mais imigrantes, estrangeiros que vinham fugidos de suas nações em guerra, buscando refúgio em terras americanas. Eram franceses e ingleses, que assim passaram a dividir junto com os portugueses, na sua maioria, as atividades da


[1] Estas doações foram registradas no Terceiro Livro de Registro de Sesmarias, no Arquivo da Tesouraria da antiga Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional na capital de São Paulo (De Oliveira, 1977:42 ). Nestes registros, a petição e despachos mostram como era fácil naquela época obter grandes terrenos medidos em léguas e virar grandes proprietários de terras.
[2] A Condessa de Vimieiro nunca esteve no Brasil, através de correspondência ordenou a Jordão Homem da Costa para que fundasse a futura Vila de Ubatuba, conquistando o reconhecimento dos futuros habitantes. Por outro lado, sobre Dona Maria Alves que ajudou indiretamente na fundação de Ubatuba não se tem dados precisos nas crônicas dos historiadores que possam oferecer uma imagem detalhada desta donatária.
[3] A praia do Matarazzo está localizada bem na região central de Ubatuba, exatamente no morro que separa as praias do Perequê – Açu e de Iperoig -Cruzeiro. Seu acesso é fácil passando pela ponte que vai ao Perequê Açu, logo na cabeceira da ponte à direita, sobe-se uma estrada passando pelo mirante da estátua de São Pedro pescador, seguindo 5 minutos de carro ou uns 15 a pé. A Praia do Matarazzo recebe esse nome em homenagem ao ilustre empresário paulistano, Francisco Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como “Cicillo” Matarazzo, que foi também prefeito de Ubatuba em 1934. 


CONFIRA    DIA  16 DE ABRIL, a  sequencia deste especial , com a publicação das paginas...238 

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