segunda-feira, 2 de abril de 2012

ESPECIAL " UBATUBA, ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA " - PARTE 70




....conhecimento. Para tanto, nos empenhamos em compilar dados históricos em fontes primárias, documentos oficiais que colocam Ubatuba no cenário nacional brasileiro. Indagamos sobre os meios de comunicação social e a imagem que estes veiculam, usando a cidade como cenário de obras televisivas e cinematográficas, assim como também sondamos o desenvolvimento da imprensa e rádio local. Mas, o momento crucial serão as entrevistas feitas a historiadores, artistas, velhos, mulheres , negros e caiçaras que neste livro têm a última palavra, pela força da paixão revelada no relato de suas histórias e estórias de Ubatuba.

Estes nossos entrevistados são mediadores entre o presente e o passado da cidade, intermediários informais da cultura, visto que existem mediadores formais como a universidade, a escola, a igreja, a prefeitura, etc., e que existe a transmissão de valores, conteúdos, atitudes, também constituintes dessa cultura (Bosi, 2003:15). Participamos da aventura de ser ouvintes atentos a nossos narradores, com os quais viajamos a distância temporal para situarmos no território dos sonhos, dos afetos, das imagens, das impressões e intuições que foram comunicadas.




A metodologia de pesquisa nos foi revelando, no decorrer deste trabalho, uma forma de montagem baseada em fontes documentais e orais. Passamos da reflexão teórica à prática da entrevista e a sua transcrição para, finalmente, analisar e interpretar o fenômeno de interação entre o ser humano e o espaço.

Nesta última fase, nos interessa salientar o contexto histórico social em que uma pluralidade de culturas: descendentes de portugueses, índios e negros, mas também da mestiçagem ao longo dos anos com a presença de holandeses, franceses e espanhóis fizeram surgir o caboclo do litoral – o caiçara, um homem em comunhão com a serra do mar. A terra e o mar são prolongamentos das comunidades e com ambos o caiçara vive em verdadeira comunhão espiritual, respeitando-os como fontes de vida – diz Dalmo Dallari no prefácio do livro, Genocídio dos caiçaras, de Priscila Siqueira (1984).

A oralidade - como já mencionamos, em forma de hipótese, parece ser de fundamental importância na configuração desta cultura na serra do mar, pois representa um meio primário de comunicação e agregação no sentido de integração social. De fato, o registro da voz dos próprios protagonistas do acontecer em Ubatuba, confere a nosso livro, um caráter participativo e nos impele a interpretar o imaginário que aparece nas representações sociais como um fenômeno espacial de conotações humanas em um processo de humanização.

Mas, tem um motivo que nos mobilizou o tempo todo nesta pesquisa, despertar às instituições públicas e privadas para olhar Ubatuba como um potencial aberto do ponto de vista turístico, investindo na cultura local, na sua história e na preservação do meio ambiente com o qual foi abençoada.


1. ASPECTOS RELEVANTES DA VIDA CÍVICA E CULTURAL DE UBATUBA

Toda cultura é fruto da história de uma população que compartilha uma língua e um território comum. Desta forma, a cultura em Ubatuba nasce e se desenvolve em um espaço “espetacular”, na serra do mar. A percepção do espaço, portanto, se dá de forma natural e espontânea aguçando os sentidos e criando uma sensibilidade particular para com as formas que seguem o movimento do entorno. A ação em relação ao tempo já é determinada por outros fatores que têm a ver com a força de vontade e com o compromisso naqueles valores nos quais se acredita, para isso, os seres humanos representam por meio da língua, esses valores e ideais.

A história indígena de Ubatuba é o começo de um processo de civilização no qual procuramos encontrar as fontes de um passado original. Trata-se de um traço adormecido que desejamos despertar com o fim de reivindicar esses princípios que nortearam a vida dos precursores e daqueles que ainda hoje refletem o espírito Tupinambá.

Para os Tupinambá, os Tamoio destas terras, silvícolas e pescadores por excelência, a morte não era um tabu, por isso o desejo de imortalização era sacramentado nas suas práticas antropofágicas, ligadas ao desejo do “outro” pelo que representava em termos de valor e de coragem. Essa memória viva hoje aparece na expressão das comunidades caiçaras, na voz quilombola e na variedade de sotaques de imigrantes e migrantes que compartilham este espaço singular da serra do mar.

O devir do tempo, após a colonização configurou o contexto histórico de Ubatuba, sempre regido pela flutuação dos recursos de sobrevivência e pela forma em que os cidadãos ubatubenses simbolizam a passagem do tempo, construindo sua cultura. Todo dia 28 de Outubro, por exemplo, Ubatuba comemora seu aniversário de fundação, tal acontecimento demarca o trânsito de aldeia para vila e de vila para cidade. Com mais de trezentos anos de existência, reconhecida na história do Brasil, Ubatuba tem uma população residente, hoje em dia, que passa de 70 mil habitantes, sofrendo significativas mudanças na chamada “alta temporada”. O turismo, principal atividade econômica do município possibilita a mobilidade social da chamada população “flutuante”, dando destaque à cidade nesta época do ano.

O espaço humano de Ubatuba é composto por paulistanos, mineiros, baianos, espalhados por diversos bairros como o centro urbano, praias, sertões, sítios, chácaras, estradas, ruas e vielas. O centro comercial denota uma cidade voltada para essa atividade turística, cujo atrativo principal é o mar. Os serviços públicos são uma extensão do governo do Estado, representado, em primeiro lugar, pela Prefeitura Municipal, a Câmara, o Fórum, a Cadeia e o Hospital. Por outro lado, os serviços da iniciativa privada colaboram com a cidade, no sentido de oferecer alternativas como clínicas particulares, bancos e prestadoras de serviços que aumentam consideravelmente a atividade econômica, política, social e cultural da cidade.

Saúde e educação também são representadas na atividade do cotidiano do ubatubense, a esta última dedicaremos as nossas considerações finais, uma vez que a vida cívica exige o cumprimento de regras e normas que pautam a vida do cidadão. Em contrapartida, a cultura oferece um leque de possibilidades de expressão, da liberdade no sentir, pensar e agir para o qual as instituições, principalmente as de ensino superior devem voltar-se, na tentativa de promover a universalidade do conhecimento e o bem - estar da população.


CONFIRA NO DIA 05 DE ABRIL 2012....A   71 ª PARTE , DO ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO , MEMÓRIA E CULTURA -

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