....conhecimento. Para tanto, nos empenhamos em
compilar dados históricos em fontes primárias, documentos oficiais que colocam
Ubatuba no cenário nacional brasileiro. Indagamos sobre os meios de comunicação
social e a imagem que estes veiculam, usando a cidade como cenário de obras
televisivas e cinematográficas, assim como também sondamos o desenvolvimento da
imprensa e rádio local. Mas, o momento crucial serão as entrevistas feitas a
historiadores, artistas, velhos, mulheres , negros e caiçaras que neste livro
têm a última palavra, pela força da paixão revelada no relato de suas histórias
e estórias de Ubatuba.
Estes nossos entrevistados são mediadores entre o
presente e o passado da cidade, intermediários informais da cultura, visto que
existem mediadores formais como a universidade, a escola, a igreja, a
prefeitura, etc., e que existe a transmissão de valores, conteúdos, atitudes,
também constituintes dessa cultura (Bosi, 2003:15). Participamos da aventura de
ser ouvintes atentos a nossos narradores, com os quais viajamos a distância
temporal para situarmos no território dos sonhos, dos afetos, das imagens, das
impressões e intuições que foram comunicadas.
A metodologia de pesquisa nos foi revelando, no
decorrer deste trabalho, uma forma de montagem baseada em fontes documentais e
orais. Passamos da reflexão teórica à prática da entrevista e a sua transcrição
para, finalmente, analisar e interpretar o fenômeno de interação entre o ser
humano e o espaço.
Nesta última fase, nos interessa salientar o
contexto histórico social em que uma pluralidade de culturas: descendentes de
portugueses, índios e negros, mas também da mestiçagem ao longo dos anos com a
presença de holandeses, franceses e espanhóis fizeram surgir o caboclo do
litoral – o caiçara, um homem em comunhão com a serra do mar. A terra e o mar
são prolongamentos das comunidades e com ambos o caiçara vive em verdadeira
comunhão espiritual, respeitando-os como fontes de vida – diz Dalmo Dallari no
prefácio do livro, Genocídio dos
caiçaras, de Priscila Siqueira (1984).
A oralidade - como já mencionamos, em forma de
hipótese, parece ser de fundamental importância na configuração desta cultura
na serra do mar, pois representa um meio primário de comunicação e agregação no
sentido de integração social. De fato, o registro da voz dos próprios
protagonistas do acontecer em Ubatuba, confere a nosso livro, um caráter
participativo e nos impele a interpretar o imaginário que aparece nas
representações sociais como um fenômeno espacial de conotações humanas em um
processo de humanização.
Mas, tem um motivo que nos mobilizou o tempo todo
nesta pesquisa, despertar às instituições públicas e privadas para olhar
Ubatuba como um potencial aberto do ponto de vista turístico, investindo na
cultura local, na sua história e na preservação do meio ambiente com o qual foi
abençoada.
1.
ASPECTOS RELEVANTES DA VIDA CÍVICA E CULTURAL DE UBATUBA
Toda cultura é fruto da história de uma população
que compartilha uma língua e um território comum. Desta forma, a cultura em
Ubatuba nasce e se desenvolve em um espaço “espetacular”, na serra do mar. A
percepção do espaço, portanto, se dá de forma natural e espontânea aguçando os
sentidos e criando uma sensibilidade particular para com as formas que seguem o
movimento do entorno. A ação em relação ao tempo já é determinada por outros
fatores que têm a ver com a força de vontade e com o compromisso naqueles
valores nos quais se acredita, para isso, os seres humanos representam por meio
da língua, esses valores e ideais.
A história indígena de Ubatuba é o começo de um
processo de civilização no qual procuramos encontrar as fontes de um passado
original. Trata-se de um traço adormecido que desejamos despertar com o fim de
reivindicar esses princípios que nortearam a vida dos precursores e daqueles
que ainda hoje refletem o espírito Tupinambá.
Para os Tupinambá, os Tamoio destas terras,
silvícolas e pescadores por excelência, a morte não era um tabu, por isso o
desejo de imortalização era sacramentado nas suas práticas antropofágicas,
ligadas ao desejo do “outro” pelo que representava em termos de valor e de
coragem. Essa memória viva hoje aparece na expressão das comunidades caiçaras,
na voz quilombola e na variedade de sotaques de imigrantes e migrantes que
compartilham este espaço singular da serra do mar.
O devir do tempo, após a colonização configurou o
contexto histórico de Ubatuba, sempre regido pela flutuação dos recursos de
sobrevivência e pela forma em que os cidadãos ubatubenses simbolizam a passagem
do tempo, construindo sua cultura. Todo
dia 28 de Outubro, por exemplo, Ubatuba comemora seu aniversário de fundação,
tal acontecimento demarca o trânsito de aldeia para vila e de vila para cidade.
Com mais de trezentos anos de existência, reconhecida na história do Brasil,
Ubatuba tem uma população residente, hoje em dia, que passa de 70 mil
habitantes, sofrendo significativas mudanças na chamada “alta temporada”. O
turismo, principal atividade econômica do município possibilita a mobilidade
social da chamada população “flutuante”, dando destaque à cidade nesta época do
ano.
O espaço humano de Ubatuba é composto por
paulistanos, mineiros, baianos, espalhados por diversos bairros como o centro
urbano, praias, sertões, sítios, chácaras, estradas, ruas e vielas. O centro
comercial denota uma cidade voltada para essa atividade turística, cujo
atrativo principal é o mar. Os serviços públicos são uma extensão do governo do
Estado, representado, em primeiro lugar, pela Prefeitura Municipal, a Câmara, o
Fórum, a Cadeia e o Hospital. Por outro lado, os serviços da iniciativa privada
colaboram com a cidade, no sentido de oferecer alternativas como clínicas
particulares, bancos e prestadoras de serviços que aumentam consideravelmente a
atividade econômica, política, social e cultural da cidade.
Saúde e educação também são representadas na
atividade do cotidiano do ubatubense, a esta última dedicaremos as nossas
considerações finais, uma vez que a vida cívica exige o cumprimento de regras e
normas que pautam a vida do cidadão. Em contrapartida, a cultura oferece um leque
de possibilidades de expressão, da liberdade no sentir, pensar e agir para o
qual as instituições, principalmente as de ensino superior devem voltar-se, na
tentativa de promover a universalidade do conhecimento e o bem - estar da
população.
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