A repartição das terras de Iperoig começava a
partir do rio Maranduba, chamado de Marajahimirindiba seguindo no sentido Rio de Janeiro até o rio Hubatyba,
hoje o Rio Grande ou da Barra, estas mesmas medidas acabavam sendo esticadas ou
retificadas de acordo com a apropriação que os colonizadores faziam delas.
A Condessa de Vimieiro, a principal donatária da
Capitania de São Vicente, Dona Mariana de Sousa Guerra e outros beneficiários,
doaram desde Portugal muitas terras à viúva Dona Maria Alves, que por sua vez
as doou ao Jordão Homem da Costa, considerado o fundador da cidade de Ubatuba[1].
Jordão Homem da Costa foi um português, natural da
Ilha Terceira dos Açores que, com sua família, estabeleceu-se na Aldeia por
ordem do Governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, mais
tarde este fundaria a Vila de Ubatuba. Para a fundação era necessária a
construção de uma Câmara, de uma Cadeia e de uma Igreja, que eram considerados
elementos básicos na instituição de uma vila. Sendo assim, Jordão Homem da
Costa providenciou em primeiro lugar a construção de uma capela. No dia 28 de outubro de 1637, o Governador
elevou a antiga aldeia de Iperoig à categoria de Vila, nomeando-a como Vila
Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba.
No início dos assentamentos, Ubatuba era uma grande
soma de várias fazendas ao longo de toda a costa. Os portugueses não eram os
únicos que tinham a exclusividade da colonização da região. Outros estrangeiros
como ingleses, holandeses e franceses tornaram-se também donos, fazendeiros de
grandes áreas. Fazendas, por exemplo, localizadas nos bairros Ubatumirim,
Lagoinha, Caçandoca, Marafunda, Perequê Açu e Corcovado, entre outras
localidades, configuravam uma pluralidade de estrangeiros em Ubatuba.
Hoje em dia, pode-se perceber um pouco desse legado
histórico, nas ruínas das antigas fazendas que ainda podem ser encontradas na
região. Um exemplo são as ruínas da Lagoinha, que foi uma grande fazenda
colonial, do Capitão Romualdo, na época de maior esplendor econômico da cidade.
Vestígios de uma época em que Ubatuba começava a prosperar e se firmava como um
dos pólos exportadores da região, que cultivava a cana de açúcar e a
aguardente.
Uma variedade de produtos agrícolas, além do café,
como a cana-de-açúcar, eram culturas praticadas em algumas destas fazendas que
mantinham engenhos para tais cultivos.
Da cana-de-açúcar fabricavam produtos como o açúcar mascavo e a
aguardente que eram inclusive embarcados de Ubatuba para outros países
europeus. Isso influenciou positivamente no crescimento da cidade: centro
urbano, comércio e construções foram erguidos. Além dos vários engenhos de
cana-de-açúcar das fazendas, outras pequenas indústrias apareceram como
serrarias, fornos de olarias, etc. Estaleiros construíam embarcações, servindo
assim para o comércio de toda a produção das fazendas que utilizavam o mar ao
longo de toda a costa ubatubense como via hidroviária que ligava
comercialmente, as várias fazendas próximas das praias.
Para o escoamento de toda a produção cultivada em
suas terras e a fabricação de outros produtos, Ubatuba foi a primeira cidade a
ter um porto de exportação e importação, utilizando a baía do Cruzeiro ou praia
de Iperoig como parada de navios no carregamento e descarregamento dos
produtos. A chamada prainha do Matarazzo servia de acesso às terras firmes para
os embarque e desembarque rotineiros para o escoamento de tais produtos[2].
Depois de alguns anos de prosperidade, A primeira decadência, não só de
Ubatuba como de todo o Litoral Norte, iniciou-se no ano de 1787/1788. Foi um
período de opressão e intransigências por parte do Presidente da então
Província de São Paulo, o Capitão-General Bernardo José de Lorena. Foi um
governo que ganhou a antipatia não só dos comerciantes e produtores rurais de
Ubatuba como também de São Sebastião. Estas vilas eram as que mais prosperavam
e progrediam por conta de sua crescente agricultura de suas fazendas e
engenhos, enquanto que a Vila de Santos nada produzia e nem sequer
comercializava a partir das possibilidades que a atividade portuária oferecia.
Bernardo José de Lorena exigia que as negociações
comerciais dos produtos ou mesmo das exportações feitas para Europa fossem
negociadas apenas do porto de Santos. Os comerciantes de Ubatuba e São
Sebastião não aceitavam a idéia, pois as ofertas da Vila de Santos eram
quantias de baixo valor e lá tinham pouquíssimos compradores, enquanto que no
Rio de Janeiro e outros portos do litoral brasileiro eram preços mais interessantes.
Imposições do Governo da província forçavam a negociação somente com o porto de
Santos e levavam cada vez mais aos ubatubenses a revoltar-se e agirem contra,
não acatando mais ordens, agindo com independência nas decisões comerciais. Com
isso, Ubatuba passou a ser “mal vista”, ganhando a antipatia das autoridades
provincianas.
Martin Lopes Lobo Saldanha, foi o governador da
província de São Paulo que mais dificultou as relações com as vilas do Litoral
Norte. Este aumentou as opressões vividas pelos fazendeiros e comerciantes,
tornando o comércio cada vez mais fraco. Nem mesmo os apelos do Tenente Coronel
Cândido Xavier de Almeida e Sousa, comandante da Vila de Ubatuba em 1797, que
mais tarde tornou-se governo da Província de São Paulo (1822/1823) e, o
primeiro Presidente do Governo Provisório (1823/1824), conseguiram mudar a
situação crítica que a cidade vivia. Ele foi afastado e substituído por Manoel
Lourenço Justiniano da Fonseca, um Quartel-Mestre de pouca integridade e má
reputação, que levou a Vila, durante seu comando, a desajustes e prejuízos
incontáveis, ajudando na decadência da vila de Ubatuba.
Ubatuba foi ainda, severamente castigada e
obrigada, a só fazer o comércio com a Vila de Santos, portanto era impedida de
negociar com qualquer outra vila ou porto. Manoel José de Faria Lima, o então
Capitão- Mor de Ubatuba, embora ressentido como todos os ubatubenses e contra
sua própria vontade, passou a atender as ordens do Governador, encaminhando
parte da produção da vila de Ubatuba para a vila de Santos.
Não restou alternativa aos agricultores
ubatubenses, senão acatar a triste decisão e sacrificar toda a produção
cultivada nas suas plantações, queimando canaviais e parando seus engenhos, em
um gesto de protesto contra aquele faccioso governo opressor. As maiores
atividades produtivas que levavam a vila a prosperar foram abandonadas,
cultivando apenas o necessário para a sobrevivência, sem saber o que os
esperava no futuro. Fazendas foram abandonadas e largadas ao “esmo”, sendo seus
escravos vendidos e as várias embarcações paradas. Sem o exercício do comércio
costumeiro, isto significava o fim da Vila e marca de sua primeira decadência,
um dos episódios mais sombrios da história cívica da cidade.
Uma década se passou e Ubatuba viu a chance de se
restabelecer novamente na esperança dos novos ventos que trariam o progresso e o Apogeu. 1808 foi o ano de mudanças no
cenário europeu, trazendo a família real às terras brasileiras. Dom João VI, em
seu reinado no Novo Mundo – o Brasil, propiciou grandes mudanças que levaram o
país ao progresso e desenvolvimento. Deu às províncias e respectivamente às
vilas, a possibilidade do desenvolvimento cívico e cultural. Para isso houve
instalações de tribunais, criação da Casa da Moeda, do Banco do Brasil, entre outras
ações importantes. Mas, a re - abertura dos portos ao comércio exterior, trouxe
de volta a bonança à decadente e esquecida Ubatuba.
[1] A Condessa de Vimieiro nunca esteve no Brasil,
através de correspondência ordenou a Jordão Homem da Costa para que fundasse a
futura Vila de Ubatuba, conquistando o reconhecimento dos futuros habitantes.
Por outro lado, sobre Dona Maria Alves que ajudou indiretamente na fundação de
Ubatuba não se tem dados precisos nas crônicas dos historiadores que possam
oferecer uma imagem detalhada desta donatária.
[2] A praia do Matarazzo está localizada bem na região
central de Ubatuba, exatamente no morro que separa as praias do Perequê – Açu e
de Iperoig -Cruzeiro. Seu acesso é fácil passando pela ponte que vai ao Perequê
Açu, logo na cabeceira da ponte à direita, sobe-se uma estrada passando pelo
mirante da estátua de São Pedro pescador, seguindo 5 minutos de carro ou uns 15
a pé. A Praia do Matarazzo recebe esse nome em homenagem ao ilustre empresário
paulistano, Francisco Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como “Cicillo”
Matarazzo, que foi também prefeito de Ubatuba em 1934.
TRECHOE XTRAIDO DO LIVRO " UABTUBA ,ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA " Editado em 2005 , por Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguet
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