Desconhecida em terras do Novo Mundo, a lepra chegou à América com os primeiros colonizadores. Doença temida foi, e num certo sentido ainda continua sendo, causa de muita discriminação e sofrimento entre aqueles que a contraíram, ou seus familiares.
A lepra, também conhecida por morféia, gafo ou doença de São Lázaro - todas denominações antigas, vinculadas a preconceitos seculares e cuja simples menção nos fazem pensar em “morfético”, “gafaria” e “lazarento”, e tantas outras denominações pejorativos, ofensivas, depreciativas-. A partir da segunda metade do século 20, com a introdução de medicamentos eficazes para o tratamento, a doença passou a ser denominada hanseníase, designação esta que pretendia refletir uma nova concepção, no manejo da dermatose. Mas isso é uma outra história. Voltemos aos primeiros tempos. Chegando às terras coloniais, a hanseníase rapidamente se propagou entre os escravos, fato esse decorrente das péssimas condições de vida a que eram submetidas essas populações. Um medico francês, trabalhando no Rio de Janeiro no século 19 registrou a elevada ocorrência do mal entre os negros, sem relacionar o fato a uma possível causa. No vale do Paraíba varias são os documentos que enfocam o tema da lepra, como pode ser visto nas “Atas da Câmara de Taubaté (1842-1856)” onde se lê na pagina 31: “Para se recomendar ao fiscal uma exata relação nominal de todos os pretos lázaros existentes nesta cidade, uma designação de oito homens e duas mulheres, para seguirem para o Hospital respectivo.” Aqui, no semanário Echo Ubatubense, um dos primeiros jornais da então província de São Paulo vamos encontrar várias menções ao “morphético da Enseada”. Entre os meses de maio a agosto de 1897 surgem nas páginas do Echo Ubatubense uma curiosa lista de donativos, em dinheiro, sob o título “Subscrição promovida em favor do morphético Pedro Vicente de Oliveira residente em Ubatuba”. Nas seis listagens por nós consultadas estão relacionados 69 doadores, tendo a arrecadação final atingido a quantia de 134 mil réis, segundo informa o jornal datado de 22 de agosto de 1897. No mês seguinte o jornal publica um extenso verso de autoria de Pedro Vicente de Oliveira, do qual reproduzimos um pequeno fragmento: “Uso viver separado Por esta bem triste herança Procuro a mente saber Mas não acho na lembrança Um consolo posso ter Não ser de família um dote, Não sendo ninguém a causa Foi a minha triste sorte!” Outros tempos! Colaborou: João Luiz Cardoso Correio eletrônico: ofisboitata@uol.com.br |
sexta-feira, 16 de março de 2012
O morphético da Enseada
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