sexta-feira, 16 de março de 2012

Dança de Boi de Ubatuba

 
A FOTO É DO ARQUIVO / BLOG UBATUBENSE.

Por onde passa o Boi? 


A manifestação da Dança de Boi de Ubatuba (cidade do litoral norte do Estado de São Paulo) começou a fazer parte do Carnaval dos anos 30, como registra o jornal Echo Ubatubense, da prensa local na época. O folguedo era apresentado pelo Sr. Carlinhos, também chamado Carrinho por tratar-se do filho de Armindo Carros, oficial aposentado do Exército, maranhense de nascimento, quem sabia confeccionar o boizinho e também os cavalinhos para a brincadeira... As primeiras apresentações aconteceram no bairro do Itaguá e, segundo depoimentos colhidos junto a antigos moradores da cidade, diversos personagens tomavam parte no entrecho dramático da dança. No Carnaval de 1940, o patrão-de-todos e mestre de canto foi o senhor Leopoldo Scongelo, e Joaquim Thiago, o velho Quincas, era então angariador de donativos. Curiosamente, o enredo será outro e aparecerão Anísio José dos Santos e Lauro Bougert, ambos vestidos de mulher como ricas fazendeiras que brigavam entre si para comprar o boi...






Sebastião Rita era o contador de estórias e consta que Dito Paratiano era quem desejava matar o boi a fim de repartir a carne entre os pobres... Euclides Estevam, vulgo Quidi, fazia a vez de tripa, isto é, o dançador que fica debaixo da carcaça oca do boi. Miguelzinho Firme e Joaquim Firme (que até parecem possuir nomes de personagem) encarregavam-se de movimentar os cavalinhos. Ainda aparecia um toreador, interpretado pelo senhor Augusto Bernardo, o Patera, e dois mascarados (Antonio Pinho e Antonio Pedro). O som vinha de cinco violas mais um tocador de rabeca. A Dança do Boi do Itaguá fez enorme sucesso no Carnaval de 40 e sofreu ameaças de quebra-quebra e pancadaria para não aparecer mais à rua. No entanto, no ano seguinte, o mestre de dança Leopoldo Scongelo, solicitou auxílio ao delegado da polícia e seu grupo pode chegar até o centro da cidade em segurança... De 1950 a 70, outros grupos foram se formando, deixando a dramatização de lado, permanecendo apenas a folia. Mas o Boi permanecia figura importante no Carnaval caiçara, desfilando e bailando nas ruas dentro da competição instituída entre os grupos do Morro da Pedreira, da Praia do Perequê-Açu, do Sertão do Taquaral, do Bairro da Estufa, entre outros. Na Terça-Feira Gorda, às 15h00, os grupos se reuniam na Praça Nóbrega e acontecia a Briga de Bois: aquele que se mantivesse inteiro era o vencedor. Fatos pitorescos recheiam a história da Dança de Boi de Ubatuba. Em 1958, Augusto Cristiano do Morro da Pedreira preparou o boizinho com uma caveira recheada de cimento para aguentar as cabeçadas de qualquer adversário... e vai o tal boi, à tarde no domingo de Carnaval, para a Praia do Perequê-Açu dançar nos ranchos (bares), como era costume, quase obrigação de mostrar a folia em dois ranchos. Quando o grupo se encontrava no meio da ponte sobre o Rio Grande, deparou-se com o Boi do Perequê-Açu comandado por Mestre Sidônio, vindo a partir da cidade, em sentido contrário: a brida de boi começou ali mesmo. O Boizinho do Morro da Pedreira, com a cabeça de cimento, acertou bonito o adversário que não resistindo ao impacto, foi para a água com tripa e tudo mais -- quer dizer, mergulhou carcaça e Sidônio dentro dela. Contam que foi um verdadeiro pega-pra-capar, depois de tantas gargalhadas, pois a maré estava alta, na vazante mesmo, e Sidônio quase morre afogado. Investe, investe, meu boi Pro lado que tem mais gente. Gerando muita graça no círculo familiar foi outra vez, o Boizinho dançando em frente ao armazém do Ponciano, ao lado do cinema da cidade, investindo como manda os versos da canção... Na multidão, onde tinha mais gente, estava uma senhora com uma criança nos braços que não parava de chorar, assustada que estava com a folia. A mulher, que não era mãe da criança e nem queria perder o que estava bom, dizia: "Não chore, seu bobo: o boi é seu pai!" De fato, era o pai da criança que servia de tripa, mas a maneira como a mulher se expressou (contrariando qualquer cantiga de ninar conhecida), serviu de chacota e risos por um bom tempo. Outro episódio recontado por Ubatuba é a vez que o Boizinho Canarinho do Bairro do Taquaral, comandado por Mestre Veiga, estava em marcha para a cidade quando se deparou com algumas vacas e um boi verdadeiros... assustadas e talvez ensurdecidas com a algazarra, as vacas correram para o mato, mas o boi não foi atrás... sem se importar com aquela cantoria e batucada, arremeteu enfurecido: corre-corre, cada um tratando de salvar o que era seu, deixando o Canarinho a ter com o boi... Se o Tempo não apagou essas memórias, outra sorte teve o Boizinho caiçara de Ubatuba, desaparecendo aos poucos, juntamente com os espaços propícios para a folia (se é que eles existem, ou deveriam ser criados pela vontade e paixão do povo, quando o assunto é boi). A partir de 1983, a Seção de Cultura da Prefeitura local iniciou um trabalho de resgate, preservação e apoio aos grupos folclóricos. No intuito, veio colaborar também a FUNDART e, no de 1985, a Dança do Boi voltava a acontecer como fora visto nos anos 40, entre as mesmerices dos encontros folclóricos de agosto e nas festas do Divino e de São Pedro. Atualmente, Ubatuba conta com dois grupos de Dança de Boi. Apresentando-se no Carnaval, o Boi Dourado é acompanhado por uma bateria de Escola de Samba (!), adaptado a novos conceitos (?), tomando de empréstimo os sambas de enredo das agremiações de São Paulo e do Rio de Janeiro. Por seu turno, o outro grupo conta com os filhos do mestre Veiga, seguindo a tradição dos anos 40 com violas, rabeca, caixa, pandeiro... Qualquer vestígio da dramatização do antigo folguedo, nem pensar: os costumes tomam outros rumos (é como dizem) e o investimento continua pro lado que tem mais gente. FONTE: http://caracol.imaginario.com/beloboi/boiubatuba.html

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