domingo, 5 de fevereiro de 2012
“Tá russo!”
José Ronaldo dos Santos
Por um tempo fomos vizinhos, no Perequê-mirim, isso no início da década de
1970, do russo Viktor Kornílov, um tranquilo velhinho que deixou a sua terra
logo após a Revolução Russa (1917).
O seo Vito adorava pescar. A sua casa mais parecia uma ilustração de conto de
fadas, com uma cerca viva maravilhosa. Ah! A sua edícula servia como oficina,
de onde saíam engenhosidades fantásticas! Ele tinha uma embarcação (um
bote) tratada com tanto carinho que até dava para comparar a um membro da
família. Até desconfio que existe ainda hoje, preservada em algum lugar a
servir de base para histórias aos seus descendentes.
Foi convivendo com os caiçaras que o seo Vito aprendeu um monte de coisas,
de nomes, de técnicas etc. Porém, o espírito brincalhão de vários dos meus
antigos era muito forte. Tudo tinha que render algumas risadas. Assim, por
exemplo, alguns nomes de peixes foram ensinados erradamente ao bondoso
russo. Mira, um tranquilo peixe da costeira, passou a ser chamado de mierda;
o carapicu tornou-se cara de... ; a sarambiguara provocava risos quando ele
dizia orgulhosamente sarnanacara; o coitado do roncador virou coçador.
Coitado do seo Vito! Nunca entendeu porque em muitas ocasiões, quando
descrevia satisfatoriamente as suas pescarias, exagerando sempre um
pouquinho mais como bom pescador, todos riam gostosamente das suas
palavras. Imagine ele narrando: “Eu pescar, depois do Saco Manso, um peixe
mierda que cansar demais. Ficar entocado no buraco preto da Pedra do
Rendido”.
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