sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ESPECIAL"UBATUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA "....PARTE 62..



Entre os anos 1554 e 1575, os Tupinambá, uma raça guerreira e destemida que vivia sob os princípios de suas crenças, estabelecendo a partir delas um sistema de organização social travou contra os portugueses uma guerra sem precedentes no litoral, lugar de entrada dos europeus e o território dos indígenas por excelência.

Men de Sá, amigo incondicional dos jesuítas como mencionamos anteriormente, abateu em 1560, o reduto de Nicolau Durand de Villegagnon – cavalheiro de Malta e Vice-almirante da Bretanha, que havia renegado o catolicismo pelo calvinismo, desfraldando sobre as Ilhas de Guanabara, Rio de Janeiro, a bandeira da França Antártica. 




Desde 1559, este temido líder se ausentou do Brasil, deixando em seu lugar seu sobrinho, Bois –le – Conte. A batalha pela posse desse forte teve lugar por terra e por mar e foi comandada pelo capitão Bartholomeu de Vasconcellos, nos dias 15 e 16 de março de 1560. A frota lusitana contou com o derradeiro apoio dos jesuítas que trouxeram para o combate aliados Tupiniquim e mamelucos com o fim de ajudar nesta afronta contra os inimigos de raça e religião. Apesar de estar quase vencidos, portugueses e aliados se depararam com uma surpresa ao ver incrementado seu exercito repentinamente, o que fez com que franceses e Tupinambá recuassem e fugissem como o reconhece Nóbrega e Anchieta em cartas do 1º de junho de 1560. Mas, o assalto ao forte Coligny não apaziguou a rebeldia Tupinambá.

Efetivamente, de São Vicente à Bertioga e por toda a margem do Paraíba, os Tamoios confederados lutavam. Esta parcela da família Tupi que queria ser chamada de Tupinambá, hostilizava sem descanso as demais tribos, devorando seus inimigos em rituais antropofágicos tão repelidos pelos religiosos jesuítas amigos dos portugueses. Instigados pelos franceses e gravemente ofendidos pela cobiça do reino de Portugal, os Tamoios - Tupinambá se aliaram às ordens de Cunhambebe e de Aimberé para varrer das costas os indesejados portugueses. Os Tamoio constituíam varias tribos indígenas Tupinambá que se uniram para formar a chamada Confederação, tinham como cabeças: Cunhambebe, o chefe da Confederação, por ser considerado um temível guerreiro; Aimberé, filho de Kairuçú que fora aprisionado pelos perós como eram conhecidos os portugueses; Pindabuçu, chefe de aldeia, no Rio de Janeiro; Araraí, chefe dos Guaianá e Coaquira, da aldeia de Iperoig.

Tudo começou com a chegada dos europeus cujos propósitos de colonização nada tinham a ver com a consciência de um passado indígena que forneceu as bases para uma ação perante a situação histórica da conquista.

Fortes expressões desta tendência surgiram ao longo do século XVI, nos movimentos sociais nativos, em manifestações messiânicas dos xamães, nos movimentos de resistência armadas, às vezes envolvendo diversas aldeias, como no caso da Confederação dos Tamoios. Levando em consideração esta dinâmica interna do grupo tupi e o choque desta com o processo de expansão portuguesa, as relações luso-indígenas mostraram-se contrárias às expectativas portuguesas. Os portugueses passaram, portanto a aplicar suas políticas de dominação, buscando impor diferentes formas de organização do trabalho. Mas, apesar das diferentes maneiras de exploração ensaiadas, nenhuma delas resultou satisfatória, contribuindo para a desorganização social e o declínio demográfico do povo nativo (Monteiro, 1995:18). Conseqüentemente, os colonizadores optaram pelo trabalho forçado na tentativa e construir a base da economia e sociedade colonial.  Os franceses eram traficantes do pau-brasil por todo o litoral brasileiro, ameaçavam o reinado de Dom João III, soberano de Portugal, nos primórdios do século XVI.

Ao sul de Iperoig, São Vicente era colônia portuguesa e o Planalto de Piratininga - hoje São Paulo, estava sendo povoada por estes colonos que tinham como aliados os Tupiniquim, habitantes daquele litoral. Esta aliança se deu pelo casamento da índia Bartira, filha de Tibiriçá com o português João Ramalho, homem de confiança dele, Tibiriçá era um grande chefe Tupiniquim convertido à causa dos portugueses, iniciando assim uma grande inimizade entre os Tupinambá e os Tupiniquim.

Já ao norte da aldeia de Iperoig, no Rio de Janeiro, os franceses estabeleceram-se sob o comando de Nicolau Durand de Villegagnon. A intenção dos franceses era a colonização da região, para isso, lutavam contra os portugueses na conquista das terras. Os Tupinambá aliaram-se a estes franceses na esperança e na promessa de não serem eles escravizados, tendo seus direitos garantidos e a posse de suas terras. A intenção dos franceses e dos portugueses era clara e objetiva, com esforços antagônicos pretendiam atrair estes “selvagens” para seus propósitos de colonização, incentivando e atiçando tal rivalidade.

Durante muitos anos houve confrontos entre portugueses e franceses, Tupiniquim e Tupinambá. Batalhas sangrentas que no final de cada uma delas, além dos muitos mortos e feridos, centenas de índios eram capturados e assim transformados em escravos pelos portugueses em plantações de cana de açúcar e em engenhos.

Os primeiros relatos coloniais de missionários jesuítas e franciscanos apresentam as causas desta Guerra de Tamoio, originada nas relações ancestrais dos tupi: 1) a trama de vingança 2) as práticas de sacrifício e antropofagia 3) a complexa configuração das alianças entre as aldeias. Portanto, na região do planalto, os Tupiniquim e seus tradicionais inimigos, os Tupinambá, principalmente, os Tamoio do litoral são um exemplo daquilo que John Manuel Monteiro no seu livro Negros da Terra (1995), veio a chamar de “guerra intestina”. No decorrer de todo o século XVI, Tupiniquim e Tupinambá envolveram-se em um ciclo de enfrentamentos armados cujo ápice foi a Confederação dos Tamoio, pela implicância colonialista que esta teve. Centenas e até milhares de combatentes seja por terra ou por mar, deram a esta guerra, um caráter espetacular. A guerra era um fator decisivo para os índios, porque situava o povo tupi em uma dimensão entre o passado e o futuro dos grupos locais, assim a vingança podia ser realizada por duas vias: pela morte do inimigo na batalha ou pela captura do mesmo e o conseqüente banquete antropofágico. Desta forma, a guerra, o cativeiro e o sacrifício constituíam as bases das relações entre as aldeias Tupi do Brasil pré-colonial (Monteiro, op. cit: 28).

Mas, o outro lado da história, aquele que mais nos interessa é descrito em História dos povos indígenas – Confederação dos Tamoios (1984), uma iniciativa do CIMI - Conselho Indígena Missionário que encomendou esta tarefa a crianças indígenas, com este valioso material e com o livro Meu querido Canibal de Mario Torre (2000), procuramos saber alguns detalhes desta Confederação que se iniciou com um audacioso plano de Aimberé, capturado e feito prisioneiro por Brás Cuba, o fundador da capitania de Santos. Este tinha comandado o ataque e a destruição de uma aldeia chamada Uruçumirim no Rio de Janeiro. Brás Cuba prendeu todos os sobreviventes, inclusive o cacique Kairuçú que era o pai de Aimberé. Aimberé revoltado planejou em silêncio a rebelião para libertar a seus irmãos de nação, esperou o momento propício para isto, o funeral do seu pai. Kairuçú morreu velho e cansado pelo trabalho forçado em uma plantação de cana de açúcar, na fazenda do implacável português em São Vicente.

Aimberé se fez dócil a Brás Cuba, tal estratégia funcionou, conseguindo a permissão para realizar junto com outros índios o enterro do pai. A rebelião e a fuga aconteceram no funeral, os escravos libertos mataram muitos portugueses, estes últimos, que já não tinham sossego com os costumeiros ataques de Cunhambebe, a partir de então, tiveram que contar com mais este herói tupi e seu ousado plano de reunir às tribos em uma nação só. Assim, Aimberé correu de aldeia em aldeia, acompanhado dos seus seguidores que constatavam junto ao líder a situação lamentável em que se encontrava seu povo. O estado de miséria de tribos como os guaianases, goitecas, aimorés e carijós, forçadas ao trabalho pesado deixaram a estes caudilhos revoltados. Aimberé exultou o ânimo dos Tupinambá, convocando-os à ação por meio da luta organizada.


CONFIRA  A PARTE   63 DESTE  ESPECIAL , NO DIA  15 DE FEVEREIRO, AQUI NO BLOG

UBATUBENSE - A VERDADEIRA HISTÓRIA DE UBATUBA....

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