Entre os anos 1554 e 1575, os
Tupinambá, uma raça guerreira e destemida que vivia sob os princípios de suas
crenças, estabelecendo a partir delas um sistema de organização social travou
contra os portugueses uma guerra sem precedentes no litoral, lugar de entrada
dos europeus e o território dos indígenas por excelência.
Men de Sá, amigo incondicional dos
jesuítas como mencionamos anteriormente, abateu em 1560, o reduto de Nicolau
Durand de Villegagnon – cavalheiro de Malta e Vice-almirante da Bretanha, que
havia renegado o catolicismo pelo calvinismo, desfraldando sobre as Ilhas de
Guanabara, Rio de Janeiro, a bandeira da França Antártica.
Desde 1559, este
temido líder se ausentou do Brasil, deixando em seu lugar seu sobrinho, Bois
–le – Conte. A batalha pela posse desse forte teve lugar por terra e por mar e
foi comandada pelo capitão Bartholomeu de Vasconcellos, nos dias 15 e 16 de
março de 1560. A
frota lusitana contou com o derradeiro apoio dos jesuítas que trouxeram para o
combate aliados Tupiniquim e mamelucos com o fim de ajudar nesta afronta contra
os inimigos de raça e religião. Apesar de estar quase vencidos, portugueses e
aliados se depararam com uma surpresa ao ver incrementado seu exercito
repentinamente, o que fez com que franceses e Tupinambá recuassem e fugissem
como o reconhece Nóbrega e Anchieta em cartas do 1º de junho de 1560. Mas, o
assalto ao forte Coligny não apaziguou a rebeldia Tupinambá.
Efetivamente, de São Vicente à Bertioga e por toda
a margem do Paraíba, os Tamoios confederados lutavam. Esta parcela da família
Tupi que queria ser chamada de Tupinambá, hostilizava sem descanso as demais
tribos, devorando seus inimigos em rituais antropofágicos tão repelidos pelos
religiosos jesuítas amigos dos portugueses. Instigados pelos franceses e
gravemente ofendidos pela cobiça do reino de Portugal, os Tamoios - Tupinambá se
aliaram às ordens de Cunhambebe e de Aimberé para varrer das costas os
indesejados portugueses. Os Tamoio
constituíam varias tribos indígenas Tupinambá que se uniram para formar a
chamada Confederação, tinham como cabeças: Cunhambebe, o chefe da Confederação,
por ser considerado um temível guerreiro; Aimberé, filho de Kairuçú que fora
aprisionado pelos perós como eram conhecidos os portugueses; Pindabuçu,
chefe de aldeia, no Rio de Janeiro; Araraí, chefe dos Guaianá e Coaquira, da
aldeia de Iperoig.
Tudo começou com a chegada dos europeus cujos
propósitos de colonização nada tinham a ver com a consciência de um passado
indígena que forneceu as bases para uma ação perante a situação histórica da
conquista.
Fortes expressões desta tendência surgiram ao longo
do século XVI, nos movimentos sociais nativos, em manifestações messiânicas dos
xamães, nos movimentos de resistência armadas, às vezes envolvendo diversas
aldeias, como no caso da Confederação dos Tamoios. Levando em consideração esta
dinâmica interna do grupo tupi e o choque desta com o processo de expansão
portuguesa, as relações luso-indígenas mostraram-se contrárias às expectativas
portuguesas. Os portugueses passaram, portanto a aplicar suas políticas de
dominação, buscando impor diferentes formas de organização do trabalho. Mas,
apesar das diferentes maneiras de exploração ensaiadas, nenhuma delas resultou
satisfatória, contribuindo para a desorganização social e o declínio
demográfico do povo nativo (Monteiro, 1995:18). Conseqüentemente, os colonizadores
optaram pelo trabalho forçado na tentativa e construir a base da economia e
sociedade colonial. Os franceses eram
traficantes do pau-brasil por todo o litoral brasileiro, ameaçavam o reinado de
Dom João III, soberano de Portugal, nos primórdios do século XVI.
Ao sul de Iperoig, São Vicente era colônia
portuguesa e o Planalto de Piratininga - hoje São Paulo, estava sendo povoada
por estes colonos que tinham como aliados os Tupiniquim, habitantes daquele
litoral. Esta aliança se deu pelo casamento da índia Bartira, filha de Tibiriçá
com o português João Ramalho, homem de confiança dele, Tibiriçá era um grande
chefe Tupiniquim convertido à causa dos portugueses, iniciando assim uma grande
inimizade entre os Tupinambá e os Tupiniquim.
Já ao norte da aldeia de Iperoig, no Rio de
Janeiro, os franceses estabeleceram-se sob o comando de Nicolau Durand de
Villegagnon. A intenção dos franceses era a colonização da região, para isso,
lutavam contra os portugueses na conquista das terras. Os Tupinambá aliaram-se
a estes franceses na esperança e na promessa de não serem eles escravizados,
tendo seus direitos garantidos e a posse de suas terras. A intenção dos
franceses e dos portugueses era clara e objetiva, com esforços antagônicos
pretendiam atrair estes “selvagens” para seus propósitos de colonização,
incentivando e atiçando tal rivalidade.
Durante muitos anos houve confrontos entre
portugueses e franceses, Tupiniquim e Tupinambá. Batalhas sangrentas que no
final de cada uma delas, além dos muitos mortos e feridos, centenas de índios
eram capturados e assim transformados em escravos pelos portugueses em
plantações de cana de açúcar e em engenhos.
Os primeiros relatos coloniais de missionários
jesuítas e franciscanos apresentam as causas desta Guerra de Tamoio, originada
nas relações ancestrais dos tupi: 1) a trama de vingança 2) as práticas de
sacrifício e antropofagia 3) a complexa configuração das alianças entre as
aldeias. Portanto, na região do planalto, os Tupiniquim e seus tradicionais
inimigos, os Tupinambá, principalmente, os Tamoio do litoral são um exemplo
daquilo que John Manuel Monteiro no seu livro Negros da Terra (1995), veio a chamar de “guerra intestina”. No
decorrer de todo o século XVI, Tupiniquim e Tupinambá envolveram-se em um ciclo
de enfrentamentos armados cujo ápice foi a Confederação dos Tamoio, pela
implicância colonialista que esta teve. Centenas e até milhares de combatentes
seja por terra ou por mar, deram a esta guerra, um caráter espetacular. A
guerra era um fator decisivo para os índios,
porque situava o povo tupi em uma dimensão entre o passado e o futuro dos
grupos locais, assim a vingança podia ser realizada por duas vias: pela morte
do inimigo na batalha ou pela captura do mesmo e o conseqüente banquete
antropofágico. Desta forma, a guerra, o cativeiro e o sacrifício constituíam as
bases das relações entre as aldeias Tupi do Brasil pré-colonial (Monteiro, op.
cit: 28).
Mas, o outro lado da história, aquele que mais nos
interessa é descrito em História dos povos indígenas
– Confederação dos Tamoios (1984), uma iniciativa do CIMI - Conselho
Indígena Missionário que encomendou esta tarefa a crianças indígenas, com este
valioso material e com o livro Meu
querido Canibal de Mario Torre (2000), procuramos saber alguns detalhes desta
Confederação que se iniciou com um audacioso plano de Aimberé, capturado e
feito prisioneiro por Brás Cuba, o fundador da capitania de Santos. Este tinha
comandado o ataque e a destruição de uma aldeia chamada Uruçumirim no Rio de
Janeiro. Brás Cuba prendeu todos os sobreviventes, inclusive o cacique Kairuçú
que era o pai de Aimberé. Aimberé revoltado planejou em silêncio a rebelião
para libertar a seus irmãos de nação, esperou o momento propício para isto, o
funeral do seu pai. Kairuçú morreu velho e cansado pelo trabalho forçado em uma
plantação de cana de açúcar, na fazenda do implacável português em São Vicente.
Aimberé se fez dócil a
Brás Cuba, tal estratégia funcionou, conseguindo a permissão para realizar
junto com outros índios o enterro do pai. A rebelião e a fuga aconteceram no
funeral, os escravos libertos mataram muitos portugueses, estes últimos, que já
não tinham sossego com os costumeiros ataques de Cunhambebe, a partir de então,
tiveram que contar com mais este herói tupi e seu ousado plano de reunir às
tribos em uma nação só. Assim, Aimberé correu de aldeia em aldeia, acompanhado
dos seus seguidores que constatavam junto ao líder a situação lamentável em que
se encontrava seu povo. O estado de miséria de tribos como os guaianases,
goitecas, aimorés e carijós, forçadas ao trabalho pesado deixaram a estes
caudilhos revoltados. Aimberé exultou o ânimo dos Tupinambá, convocando-os à
ação por meio da luta organizada.
CONFIRA A PARTE 63 DESTE ESPECIAL , NO DIA 15 DE FEVEREIRO, AQUI NO BLOG
UBATUBENSE - A VERDADEIRA HISTÓRIA DE UBATUBA....
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