Preso pelos Tupinambás, Hans Staden conversa c/ uma india..( foto do filme Hans Staden"
Hans Staden partiu daquele local, no navio francês
Catherine de Vatteville, cujo capitão chamava-se Guilherme de Moner. Ainda, no
porto do Rio de Janeiro, o alemão teria sua vida posta em risco em uma batalha
contra um navio português, levando alguns franceses a morte e outros feridos,
entre eles o próprio Hans Staden que ficou em estado grave. Mais uma vez, seu
divino protetor, livrou-o da morte atendendo as suas suplicas, assim
recuperou-se rapidamente, comprometendo com isto sua eterna gratidão.
No final do mês de Outubro do ano de 1554, Hans
Staden partiu em viagem de volta à França. Dependendo dos fortes ventos, a
embarcação soçobrou entre uma grande calmaria, daí a mediação de Hans Staden
veio a propiciar, por obra divina, o vento tão almejado. Içaram-se as velas e
um forte sopro deslizou o navio pelo mar conduzido segundo o alemão pela força
de Deus. No dia 20 de fevereiro do ano de 1555, os tripulantes da embarcação
chegaram à pequena cidade francesa de Honfleur.
O livro que orientou a pesquisa sobre as aventuras
do alemão foi publicado pela Editora Terceiro Nome Hans Staden – Primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil
e seus habitantes (1999), tradução de Angel Bojadsen. Nele, os relatos,
desenhos e as xilogravuras, foram feitos com uma descrição primorosa do próprio
Hans Staden. Uma tradução de documentos de grande importância para uma
compreensão fundamental da formação do Brasil que despertou grande interesse em
todo o mundo sendo publicado em vários idiomas.
Um fato interessante aconteceu na publicação de uma
edição no ano de 1557. Numa nova tiragem - pirateada -, pela pressa e sem os
devidos cuidados, os desenhos que acompanhavam o texto, em vez dos indígenas
nus, apresentavam árabes tão
vestidos que sequer dava para ver os rostos.
Tanto os registros escritos de Hans Staden sobre
suas reais e verídicas aventuras entre os Tupinambá, quanto os desenhos das
xilogravuras originais, causam até os dias de hoje grande admiração nos
leitores.
Estes registros guardam detalhes e passagens
descritas pelo alemão, capazes de atiçar o imaginário de cada um daqueles que
os lê. Baseado nesses relatos o cinema , o veiculo capaz de reproduzir os
grandes mitos da humanidade ,retratou na grande tela parte desta aventura. O filme baseado no livro anteriormente
mencionado foi produzido no ano de 2001, tendo como cenário, maravilhosas
paisagens da mata atlântica, na atual cidade de Ubatuba.
3.IPEROIG,
O ADVENTO DO TEMPO E A CONQUISTA DO ESPAÇO
Iperoig, segundo Teodoro Sampaio em O
Tupi na geografia
nacional (1987), significa o rio ou água do tubarão. Pode proceder também
afirma o tupinólogo de iperó – yg, que se traduza como rio de perobas. Iperoig é um
cenário ímpar entre a serra e o mar, na ribeira dos rios os Tamoio encontraram
o lugar para viver, transformando-se nos protagonistas de uma das maiores
façanhas do período da conquista do Brasil. Já para o conquistador e
evangelizador, o jesuíta José de Anchieta, Iperoig adquire uma conotação
religiosa, pois foi o lugar onde este viveu com maior intensidade sua missão
catequética no Brasil. José de Anchieta foi um dos precursores dessa integração
tão complexa e discutível no contexto da apropriação, da conquista e da
inculturação estrangeira em terras tupi, afirmamos em recente publicação
(Droguett, 2004:164), cientes de que um território e uma língua configuram o
atributo de uma nação. O trabalho de aculturação lingüística demarca uma
situação original desse espanhol que procurou no interior dos códigos tupi –
guarani, moldar a trova hispânica e penetrar no imaginário indígena,
encontrando aí, a alma do nascente povo brasileiro. Outro aspecto relevante
está na obra escrita deste religioso, da qual recolhemos alguns fragmentos para
o propósito da nossa obra.
A chegada de portugueses, franceses, espanhóis e
holandeses às costas brasileiras, trouxe como conseqüência o encontro entre a
América e a Europa. Sem determos em pormenores históricos, a questão que
pretendemos abordar, neste final do capítulo segundo, é o advento do tempo,
marcado pela chegada dos europeus ao litoral brasileiro, território dos guerreiros
Tupinambá que como vimos no decorrer deste capítulo, eram os donos naturais
desse espaço, cujo valor excepcional consistia em ser um legado ancestral de
seus antepassados. Por esta razão, a luta pela conquista do território físico e
espiritual, isto é, a alma, adquire conotações singulares, sejam estas de
caráter econômico ou de caráter religioso, sendo este último um precedente
importante na reivindicação do Paraíso Perdido de jesuítas e franciscanos que
vieram para estas terras, o lugar propício para a salvação de suas próprias
almas e as daqueles que deviam se converter para Deus.
Mesmo sendo Iperoig um cenário intermediário entre
a serra que leva seus rios até o mar, nela escreve-se a saga dos Tamoio, tribo
Tupinambá que promoverá uma Confederação a favor da unidade contra a forma de
conquista e imposição dos europeus. A paz de Iperoig simboliza as tentativas de
intercessão dos jesuítas que não verão consolidado esse Tratado de fato e sim
de direito segundo a própria utopia cristã do Reino, um momento ímpar da
história do Brasil e da América Latina.
Os cenários de confrontos com a chegada dos
estrangeiros são múltiplos, entretanto, neste último item, nos referiremos
exclusivamente àqueles que tiveram lugar em Iperoig, nome outrora de Ubatuba.
Usaremos como referencial bibliográfico Anchieta
(1929), de Celso Vieira para ilustrar os acontecimentos da Confederação dos
Tamoio e da Paz de Iperoig, ambos atrelados ao advento do tempo e à conquista
do espaço.
Nas Obras
Completas (1990) do Pe. José de Anchieta: encontramos uma Breve Informação do Brasil – 1584.
Os
primeiros portugueses que vieram ao Brasil foram Pedro Álvares Cabral com
alguma gente em uma nau que ia para índia Oriental no ano de 1500 e aportou em Porto Seguro , ao qual
pôs este nome porque achou o porto que se diz Santa Cruz muito seguro e bom
para as naus. E toda a província ao princípio se chamava Santa Cruz; depois
prevaleceu o nome de Brasil por causa do pau que nela há que serve para tintas[1].
Nas descrições de Anchieta há alusão aos
gentios de índios que viviam na costa, “nações de bárbaros de diversíssimas
línguas a que estes índios chamavam de tupi”. Mas, o evangelizador da Companhia
de Jesus estava ciente de que se tratava de uma travessia onde se confundiam os
interesses temporais da Coroa com os interesses religiosos de seus
correligionários, assim aponta dados históricos de relevância e afirma, por
exemplo, que em 1549, veio de Portugal ao Brasil Tomé de Souza, o primeiro
Governador do Brasil, homem religioso e devoto da Companhia de Jesus, no tempo
em que esta terra estava cheia de mato e de índios. A prudência do primeiro
Governador fez com que se mantivesse a Paz com os nativos. No ano de 1553,
arribou o segundo Governador Dom Duarte da Costa, no seu tempo houve o levantamento
de algumas aldeias, às quais, este deu a guerra, pacificando os nativos com os
quais edificou igrejas. A chegada em 28 de dezembro de 1557 de Mem de Sá é um
episódio de particular importância no relato do jesuíta, pois este “segurou o
Brasil”, expressão usada para falar do rigor com que tratou os índios que
tentaram se sublevar ao poder dos portugueses, Mem de Sá edificou igrejas e
aumentou a conversão entre os gentios.
[1] A
afirmação de Anchieta a respeito da embarcação de Pedro Álvares Cabral não
corresponde à complexa empresa e ao acontecimento em si. Tratava-se de
uma esquadra de 13 velas e de mais de 1.200 tripulantes e viajantes advindos de
Portugal.
CONFIRA , NO DIA 10/02/2012...., A PARTE 66, com a sequencia deste Especial, o qual apresenta na integra , o belo documentário :
UBATUBA , ESPAÇO , MEMORIA E CULTURA, um livro escritoa quatro mãos , pelo Professor Juan Drouguet e Jorge Otavio Fonseca , este último um caiçara da gema.... PAGINA 198 em diante....
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