quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ESPECIAL '" UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA " - PARTE 61....



Preso pelos Tupinambás, Hans Staden conversa c/ uma india..( foto do filme Hans Staden"



Hans Staden partiu daquele local, no navio francês Catherine de Vatteville, cujo capitão chamava-se Guilherme de Moner. Ainda, no porto do Rio de Janeiro, o alemão teria sua vida posta em risco em uma batalha contra um navio português, levando alguns franceses a morte e outros feridos, entre eles o próprio Hans Staden que ficou em estado grave. Mais uma vez, seu divino protetor, livrou-o da morte atendendo as suas suplicas, assim recuperou-se rapidamente, comprometendo com isto sua eterna gratidão.




No final do mês de Outubro do ano de 1554, Hans Staden partiu em viagem de volta à França. Dependendo dos fortes ventos, a embarcação soçobrou entre uma grande calmaria, daí a mediação de Hans Staden veio a propiciar, por obra divina, o vento tão almejado. Içaram-se as velas e um forte sopro deslizou o navio pelo mar conduzido segundo o alemão pela força de Deus. No dia 20 de fevereiro do ano de 1555, os tripulantes da embarcação chegaram à pequena cidade francesa de Honfleur.

O livro que orientou a pesquisa sobre as aventuras do alemão foi publicado pela Editora Terceiro Nome Hans Staden – Primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes (1999), tradução de Angel Bojadsen. Nele, os relatos, desenhos e as xilogravuras, foram feitos com uma descrição primorosa do próprio Hans Staden. Uma tradução de documentos de grande importância para uma compreensão fundamental da formação do Brasil que despertou grande interesse em todo o mundo sendo publicado em vários idiomas.

Um fato interessante aconteceu na publicação de uma edição no ano de 1557. Numa nova tiragem - pirateada -, pela pressa e sem os devidos cuidados, os desenhos que acompanhavam o texto, em vez dos indígenas nus, apresentavam árabes tão vestidos que sequer dava para ver os rostos.

Tanto os registros escritos de Hans Staden sobre suas reais e verídicas aventuras entre os Tupinambá, quanto os desenhos das xilogravuras originais, causam até os dias de hoje grande admiração nos leitores.

Estes registros guardam detalhes e passagens descritas pelo alemão, capazes de atiçar o imaginário de cada um daqueles que os lê. Baseado nesses relatos o cinema , o veiculo capaz de reproduzir os grandes mitos da humanidade ,retratou na grande tela parte desta aventura.  O filme baseado no livro anteriormente mencionado foi produzido no ano de 2001, tendo como cenário, maravilhosas paisagens da mata atlântica, na atual cidade de Ubatuba.

3.IPEROIG, O ADVENTO DO TEMPO E A CONQUISTA DO ESPAÇO

Iperoig, segundo Teodoro Sampaio em O Tupi na geografia nacional (1987), significa o rio ou água do tubarão. Pode proceder também afirma o tupinólogo de iperó – yg, que se traduza como rio de perobas. Iperoig é um cenário ímpar entre a serra e o mar, na ribeira dos rios os Tamoio encontraram o lugar para viver, transformando-se nos protagonistas de uma das maiores façanhas do período da conquista do Brasil. Já para o conquistador e evangelizador, o jesuíta José de Anchieta, Iperoig adquire uma conotação religiosa, pois foi o lugar onde este viveu com maior intensidade sua missão catequética no Brasil. José de Anchieta foi um dos precursores dessa integração tão complexa e discutível no contexto da apropriação, da conquista e da inculturação estrangeira em terras tupi, afirmamos em recente publicação (Droguett, 2004:164), cientes de que um território e uma língua configuram o atributo de uma nação. O trabalho de aculturação lingüística demarca uma situação original desse espanhol que procurou no interior dos códigos tupi – guarani, moldar a trova hispânica e penetrar no imaginário indígena, encontrando aí, a alma do nascente povo brasileiro. Outro aspecto relevante está na obra escrita deste religioso, da qual recolhemos alguns fragmentos para o propósito da nossa obra.

A chegada de portugueses, franceses, espanhóis e holandeses às costas brasileiras, trouxe como conseqüência o encontro entre a América e a Europa. Sem determos em pormenores históricos, a questão que pretendemos abordar, neste final do capítulo segundo, é o advento do tempo, marcado pela chegada dos europeus ao litoral brasileiro, território dos guerreiros Tupinambá que como vimos no decorrer deste capítulo, eram os donos naturais desse espaço, cujo valor excepcional consistia em ser um legado ancestral de seus antepassados. Por esta razão, a luta pela conquista do território físico e espiritual, isto é, a alma, adquire conotações singulares, sejam estas de caráter econômico ou de caráter religioso, sendo este último um precedente importante na reivindicação do Paraíso Perdido de jesuítas e franciscanos que vieram para estas terras, o lugar propício para a salvação de suas próprias almas e as daqueles que deviam se converter para Deus.

Mesmo sendo Iperoig um cenário intermediário entre a serra que leva seus rios até o mar, nela escreve-se a saga dos Tamoio, tribo Tupinambá que promoverá uma Confederação a favor da unidade contra a forma de conquista e imposição dos europeus. A paz de Iperoig simboliza as tentativas de intercessão dos jesuítas que não verão consolidado esse Tratado de fato e sim de direito segundo a própria utopia cristã do Reino, um momento ímpar da história do Brasil e da América Latina.

Os cenários de confrontos com a chegada dos estrangeiros são múltiplos, entretanto, neste último item, nos referiremos exclusivamente àqueles que tiveram lugar em Iperoig, nome outrora de Ubatuba. Usaremos como referencial bibliográfico Anchieta (1929), de Celso Vieira para ilustrar os acontecimentos da Confederação dos Tamoio e da Paz de Iperoig, ambos atrelados ao advento do tempo e à conquista do espaço.

Nas Obras Completas (1990) do Pe. José de Anchieta: encontramos uma Breve Informação do Brasil – 1584.

Os primeiros portugueses que vieram ao Brasil foram Pedro Álvares Cabral com alguma gente em uma nau que ia para índia Oriental no ano de 1500 e aportou em Porto Seguro, ao qual pôs este nome porque achou o porto que se diz Santa Cruz muito seguro e bom para as naus. E toda a província ao princípio se chamava Santa Cruz; depois prevaleceu o nome de Brasil por causa do pau que nela há que serve para tintas[1].


Nas descrições de Anchieta há alusão aos gentios de índios que viviam na costa, “nações de bárbaros de diversíssimas línguas a que estes índios chamavam de tupi”. Mas, o evangelizador da Companhia de Jesus estava ciente de que se tratava de uma travessia onde se confundiam os interesses temporais da Coroa com os interesses religiosos de seus correligionários, assim aponta dados históricos de relevância e afirma, por exemplo, que em 1549, veio de Portugal ao Brasil Tomé de Souza, o primeiro Governador do Brasil, homem religioso e devoto da Companhia de Jesus, no tempo em que esta terra estava cheia de mato e de índios. A prudência do primeiro Governador fez com que se mantivesse a Paz com os nativos. No ano de 1553, arribou o segundo Governador Dom Duarte da Costa, no seu tempo houve o levantamento de algumas aldeias, às quais, este deu a guerra, pacificando os nativos com os quais edificou igrejas. A chegada em 28 de dezembro de 1557 de Mem de Sá é um episódio de particular importância no relato do jesuíta, pois este “segurou o Brasil”, expressão usada para falar do rigor com que tratou os índios que tentaram se sublevar ao poder dos portugueses, Mem de Sá edificou igrejas e aumentou a conversão entre os gentios.



[1]        A afirmação de Anchieta a respeito da embarcação de Pedro Álvares Cabral não corresponde à complexa empresa e ao acontecimento em si. Tratava-se de uma esquadra de 13 velas e de mais de 1.200 tripulantes e viajantes advindos de Portugal.


CONFIRA   , NO DIA 10/02/2012....,  A  PARTE  66, com a sequencia deste Especial, o qual apresenta na integra , o belo documentário :
UBATUBA , ESPAÇO , MEMORIA   E  CULTURA, um livro escritoa quatro mãos , pelo Professor Juan Drouguet e Jorge Otavio Fonseca , este último um caiçara da gema....  PAGINA  198 em diante....

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