O primeiro a juntar-se
às fileiras Confederadas foi Pindabuçu – grande palmeira -, conhecido por sua
destreza e impetuosidade, amigo de infância de Aimberé que o encontrou no
sepultamento de seu filho Camorim, assassinado pelas costas por um português. A
morte de Camorim revoltou a toda a aldeia e todos aderiram ao plano de Aimberé
que também estava interessado na filha de Pindabuçu, Iguaçu. Peregrinaram de
tribo em tribo, começando por Angra dos Reis, reduto de Cunhambebe, o chefe
mais importante entre os Tupinambá. Os incipientes confederados sabiam que não
ia ser fácil convencê-lo a entrar na luta, mas ele acabou cedendo. Este foi o
passo mais importante na nascente Confederação dos Tamoio. A partir daí,
Aimberé foi ganhando aliados em todas as tribos, como Coaquira de Iperoig que
teve seu território invadido em várias ocasiões com destruição, morte e prisão
dos “filhos da terra”.
Na primeira reunião do
conselho das tribos confederadas foi proposto por Aimberé o nome de Cunhambebe
para chefiar a Confederação. O velho guerreiro aceitou a indicação e fez sua
famosa declaração de guerra aos perós. A Confederação dos Tamoios durou
aproximadamente 12 anos, período em que se destacou por ser a maior organização
indígena de resistência à invasão dos portugueses na história do Brasil.
Infernizava-os em suas fazendas e nos navios que chegavam, principalmente no
Rio de Janeiro, praça das grandes batalhas confederadas, mais do que no
planalto de Piratininga, onde foi fundada a cidade de São Paulo.
* * *
A mentalidade primitiva dos índios Tamoio gozava do
fascínio de tais vitórias nas profecias de libertação e vingança de seus
feiticeiros. Tal fervor atraiu tribos neutras e indecisas do sertão e em 1562
houve um avanço em segredo contra a vila cristã de Piratininga, celeiro e
abrigo dos jesuítas que ali estavam desde 1561, trás a horrível penúria de São
Vicente. Este era o lugar de José de Anchieta que testemunhou e descreveu os
combates de 8 e 9 de julho.
O verdadeiro salvador de Piratininga foi Tibiriçá,
batizado com o nome de Martim Afonso, ele mobilizou o gentio de 9 a 10 aldeias
de Tupiniquim fieis à coroa e assim rejeitou o oferecimento de Araraig e do seu
feroz sobrinho Jagoanhara – Cão Bravo que lhe propunha abandonar a causa
jesuíta que era a causa de Portugal. Milhares de flechas caíram sobre
Piratininga crescendo em furor a batalha e a gritaria dos combatentes. “Os
montes ruíam no estrondo e na poeira da batalha. Cão Bravo morreu e logo a
seguir Jagoanhara, o que fez com que os Tamoio fugissem. Martim Afonso também
sucumbiu após sua vitória com “tanto senso e maturidade” – dirá o Padre
Anchieta que foi sepultado com as honras cristãs na Igreja, sendo proclamado
bem – feitor e conservador da casa de Piratininga.
Na quaresma de 1563, Anchieta visitou Santos e Itanhaém,
exercendo seu papel missionário. A seu regresso a São Vicente encontrou o Padre
Manoel da Nóbrega preocupado com a sorte da capitania. Urgia salvar a colônia
com um ato de intrepidez e ostentosa religiosidade. Nesta ação, pode-se
observar o espírito que movia aos congregados de Ignácio de Loyola. O plano era
estabelecer diretamente a paz com os Tamoio de Iperoig, onde a visita dos
padres era desejada, indo Anchieta como interprete. Assim, ambos decidiram ir
até aquele perigoso lugar de “penhascos e tormentas”, “quartel geral das nações
confederadas para o extermínio dos portugueses”.
Os padres foram de São Vicente a Bertioga em canoa,
na Páscoa de 1564. Desembarcaram na aldeia de Iperoig, não sem antes ter
passado por uma ilha deserta em São Vicente, onde celebraram a missa. A sua
chegada em Iperoig foram reconhecidos pelos Tamoio, Anchieta e Nóbrega desceram
da embarcação e de face para o céu e o mar rezaram louvando a Deus pelo êxito
da travessia. Existiam naquele então, duas aldeias em Iperoig. Dirigindo-se a
seus habitantes Anchieta proclama a viva voz:
Alegrai-vos
com a nossa vinda e nosso amor. Queremos ficar entre vós, ensinar-vos as coisas
de Deus, para que Ele vos de farto alimento, boa saúde, vitória sobre os vossos
inimigos (Carta de Anchieta, 8 de junho de 1565, 1.301).
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