costuma haver a chamada piracema, um movimento de cardumes de peixes chamados de
tainhas, lisas em espanhol e piratis pelos indígenas, que sobem o rio para desovar.
Nesta época os selvagens costumavam praticar as guerras, tanto os Tupinambá
quanto os Tupiniquim aproveitavam este momento do deslocamento para
eles também se mobilizar.
Portanto, os Tupinambá levaram Hans Staden nesta
expedição guerreira, por ordem de Cunhambebe, desfazendo desta maneira todo seu
projeto de fuga. Nas proximidades da Aldeia de Iperoig, soprava um forte vento
e os selvagens questionaram ao alemão o que poderia significar aquilo. O alemão
disse em tom profético que estava soprando sobre muitos mortos, referindo-se a
um outro grupo de sua gente que tinha subido pelo rio Paraíba. Um segundo
acampamento foi feito e desta vez numa ilha, a de São Sebastião - Ilha Bela -,
chamada assim pelos portugueses, e Maembipe pelos selvagens. Cunhambebe percorreu parte da floresta em volta do acampamento
e afirmava não estarem longe do território inimigo.
Os Tupinambá acreditavam nos seus sonhos,
principalmente se estes eram bons. Sendo assim, cada selvagem deveria estar
muito atento aos presságios de felicidade. Após uma noite de festejos e danças,
eles pediram ao alemão que ao dormir tivesse sonhos bons, mas o alemão disse
não acreditar em sonhos porque eles poderiam ser enganosos. Então, pediram que
intercedesse junto ao seu Deus para que eles conseguissem capturar muitos
inimigos.
Ao partirem da ilha Maembipe, os selvagens queriam saber do alemão a sua
opinião, do que viria acontecer. Hans Staden respondeu que deviam ser
corajosos, pois os inimigos viriam de Boiçucanga ao encontro deles. Hans Staden sabia do que estava
falando, pois no encontro a bordo do navio português tempos atrás, em conversa fora alertado do ataque Tupinambá. Os
portugueses deixaram escapar que também, os Tupiniquim, pretendiam um ataque na
mesma época. Neste confronto, o alemão planejava fugir dos selvagens já que Boiçuganga
não ficava tão longe de onde os índios o haviam feito prisioneiro.
“Lá vem os nossos inimigos, os Tupiniquim!”
– assim gritaram os Tupinambá ao avistarem os inimigos vindo por trás da ilha
em cinco canoas. Houve o confronto entre Tupiniquim e Tupinambá, estes últimos
foram superiores com mais homens em suas 30 canoas. Mataram alguns e capturaram
outros, entre eles dois mamelucos, os irmãos chamados Diogo e Domingos de
Braga, que lutaram bravamente por mais de duas horas até que foram vencidos, e
alguns Tupiniquim.
De volta da expedição, os Tupinambá acamparam em Maembipe e
os prisioneiros que estavam gravemente feridos foram levados até a praia e
mortos, sendo golpeados e cortados em pedaços segundo seus costumes. À noite
foram assados estes pedaços que eram de mamelucos cristãos. Outros que ainda
estavam vivos permaneciam amarrados em uma cabana de cativos. O alemão foi até
uma das cabanas em que se encontravam dois prisioneiros irmãos, conhecidos dele
na época que foi esteve em
Bertioga. Eles conversaram e lamentaram a desgraça que viria
a acontecer e, o alemão, ao mesmo tempo, tentava consolá-los. Choravam muito
pensando no destino que os esperava, assim como os seus amigos que naquele
momento serviam de carne assada aos selvagens.
Hans Staden obedecendo aos Tupinambá, afastou-se
dos prisioneiros, após pronunciar
mensagens de fé. Ao sair da cabana, olhou para outros prisioneiros espalhados
pelo acampamento e naquele momento percebeu que estava sozinho, podendo fugir
como havia planejado. Mas, em consideração aos prisioneiros que ainda estavam
vivos, decidiu ficar. Achava que a ira dos selvagens seria grande e que com a
sua fuga poderiam matar todos os seus camaradas.
Seguindo viagem de volta, os Tupinambá fizeram mais
uma parada para acampar, agora mais próximos de sua terra. Hans Staden tentou
em uma conversa persuadir Cunhambebe para evitar que aqueles prisioneiros fossem mortos e
devorados. O grande chefe retrucou dizendo que, efetivamente, eles seriam comidos.
Quando chegaram nas terras próximas da aldeia, os Tupinambá dividiram-se entre
si os prisioneiros. Os prisioneiros da aldeia com os quais Hans Staden estava,
eram oito. Dentro das cabanas foram guardadas as carnes assadas dos cristãos,
enquanto preparava-se a bebida para a grande festa que pretendiam fazer. No dia
seguinte, os índios continuaram a devorar as carnes assadas dos cristãos
capturados em combate.
De acordo com os registros de Hans Staden, fica
evidente a devoção do artilheiro alemão. Muitas vezes, talvez por coincidência
ou, pela força da fé que o movia, sua vontade de viver. Hans Staden conseguiu
convencer os índios, deixando-os admirados, fazendo com que estes acreditassem
em um poder sobrenatural ou em uma espécie de proteção divina.
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