A situação mais difícil enfrentada pelo Seu Trajano foi essa: a chegada de um novo médico no Posto de Saúde, permanecendo menos de 60 dias que de tão rápida foi a sua passagem por aqui ninguém lembra o seu nome, mas deve ser algum daqueles que o Seu Filhinho diz ser seus amigos relatados no livro A Farmácia do Filhinho pg. 106.
O Centro de Saúde, naquela época, era bem suprido de remédios e esse médico, neste curto espaço de tempo no comando, deixou que os estoques de remédios chegassem ao fim, e já se falava em fechamento, como tal aconteceu. Mas para o seu Filhinho, tendo a única farmácia da cidade, foi um prato cheio, em 30 dias vendeu tudo o que tinha e até o que não tinha. Seu Trajano, por várias vezes já tinha solicitado providências ao médico, sendo seus pedidos ignorados, mas quando o médico anunciou aos funcionários a intenção de fechar o Centro de Saúde por falta de medicamentos, foi a gota d’água que faltava. Seu Trajano retrucou imediatamente.
- Então o Senhor é pau-mandado dos politiqueiros e veio exclusivamente para fechar o Centro de Saúde? Vou denunciá-lo.
Mediante a decisão do médico, Seu Trajano, envia um relatório estatístico da situação da cidade ao presidente Getulio Vargas, acusando o médico de negligente e favorecimento a única farmácia da cidade, mas como o fato era de âmbito estadual, o presidente Vargas enviou a denúncia a Secretaria de Estado da Saúde (Coordenadoria de Saúde da Comunidade), em São Paulo na capital Bandeirante. Após 30 dias da denúncia, veio a bomba... até aquele momento, o tiro tinha saído pela culatra. Seu Trajano foi notificado que ficaria suspenso sem remuneração até as apurações da denúncia, a suspensão não foi fruto da denúncia, mas ao desrespeito de ter passando por cima da Secretaria da Saúde e do próprio Interventor Federal de São Paulo, o Dr. Adhemar Pereira de Barros - 1938 a 1941. Mediante a notificação, Seu Trajano foi até a Secretaria da Saúde na capital bandeirante, para obter informações sobre o andamento do seu processo e é informado pelo funcionário responsável do protocolo que até aquele momento a Secretaria tinha optado pela exoneração do funcionário desrespeitoso, mas o processo se encontrava na mesa do gabinete do Interventor Federal, “Adhemar de Barros”, que tinha a palavra final:
- Agora é só senhor esperar.
Seu Trajano volta abatido, quase irreconhecível, inconformado com a punição por defender uma causa justa, de interesse público. Perder um emprego público naquela época com 3 filhos pequenos para criar não é brincadeira, não! O falatório tomou conta da cidade (essa falta de remédio foi de caso pensado...). E 20 dias se passaram, e pela falta de notícia, Seu Trajano resolve voltar a Secretaria da Saúde e, dessa vez, recebeu a grata notícia do funcionário do protocolo, que exibindo o processo disse:
- Veja, o interventor suspendeu a sua exoneração e despachou na capa do processo, em letras de forma: REABRA O CENTRO DE SAÚDE DE UBATUBA E DEIXE O FUNCIONÁRIO COMO ESTAVA. - e finalizou - O Senhor é um homem de sorte! Pode voltar e ocupar o seu cargo novamente.
E quando aqui chegou, o tal médico já tinha sido exonerado e não se encontrava mais na cidade. Quinze dias depois chegaram caixas e mais caixas de remédios para todos os males. O Centro de Saúde ficou abarrotado.
[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado IV - Anjos da saúde.]
Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail parathecaliforniakid61@hotmail.com.
DO ORIGINAL DO SITE WWW.UBAWEB.COM
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