Depois de alguns anos de prosperidade, A primeira decadência, não só de
Ubatuba como de todo o Litoral Norte, iniciou-se no ano de 1787/1788. Foi um
período de opressão e intransigências por parte do Presidente da então
Província de São Paulo, o Capitão-General Bernardo José de Lorena. Foi um
governo que ganhou a antipatia não só dos comerciantes e produtores rurais de
Ubatuba como também de São Sebastião. Estas vilas eram as que mais prosperavam
e progrediam por conta de sua crescente agricultura de suas fazendas e
engenhos, enquanto que a Vila de Santos nada produzia e nem sequer
comercializava a partir das possibilidades que a atividade portuária oferecia.
Bernardo José de Lorena exigia que as negociações
comerciais dos produtos ou mesmo das exportações feitas para Europa fossem
negociadas apenas do porto de Santos. Os comerciantes de Ubatuba e São
Sebastião não aceitavam a idéia, pois as ofertas da Vila de Santos eram
quantias de baixo valor e lá tinham pouquíssimos compradores, enquanto que no
Rio de Janeiro e outros portos do litoral brasileiro eram preços mais interessantes.
Imposições do Governo da província forçavam a negociação somente com o porto de
Santos e levavam cada vez mais aos ubatubenses a revoltar-se e agirem contra,
não acatando mais ordens, agindo com independência nas decisões comerciais. Com
isso, Ubatuba passou a ser “mal vista”, ganhando a antipatia das autoridades
provincianas.
Martin Lopes Lobo Saldanha, foi o governador da
província de São Paulo que mais dificultou as relações com as vilas do Litoral
Norte. Este aumentou as opressões vividas pelos fazendeiros e comerciantes,
tornando o comércio cada vez mais fraco. Nem mesmo os apelos do Tenente Coronel
Cândido Xavier de Almeida e Sousa, comandante da Vila de Ubatuba em 1797, que
mais tarde tornou-se governo da Província de São Paulo (1822/1823) e, o
primeiro Presidente do Governo Provisório (1823/1824), conseguiram mudar a
situação crítica que a cidade vivia. Ele foi afastado e substituído por Manoel
Lourenço Justiniano da Fonseca, um Quartel-Mestre de pouca integridade e má
reputação, que levou a Vila, durante seu comando, a desajustes e prejuízos
incontáveis, ajudando na decadência da vila de Ubatuba.
Ubatuba foi ainda, severamente castigada e
obrigada, a só fazer o comércio com a Vila de Santos, portanto era impedida de
negociar com qualquer outra vila ou porto. Manoel José de Faria Lima, o então
Capitão- Mor de Ubatuba, embora ressentido como todos os ubatubenses e contra
sua própria vontade, passou a atender as ordens do Governador, encaminhando
parte da produção da vila de Ubatuba para a vila de Santos.
Não restou alternativa aos agricultores
ubatubenses, senão acatar a triste decisão e sacrificar toda a produção
cultivada nas suas plantações, queimando canaviais e parando seus engenhos, em
um gesto de protesto contra aquele faccioso governo opressor. As maiores
atividades produtivas que levavam a vila a prosperar foram abandonadas,
cultivando apenas o necessário para a sobrevivência, sem saber o que os
esperava no futuro. Fazendas foram abandonadas e largadas ao “esmo”, sendo seus
escravos vendidos e as várias embarcações paradas. Sem o exercício do comércio
costumeiro, isto significava o fim da Vila e marca de sua primeira decadência,
um dos episódios mais sombrios da história cívica da cidade.
Trecho do Livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA....
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