sábado, 31 de dezembro de 2011

ESPECIAL : UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - PARTE 57...


 Mais uma vez o destino conspira a favor do alemão e o ataque por ele anunciado acontece . Chegam as 25 canoas em uma manhã e um grande confronto se estabelece entre as duas tribos inimigas. Os Tupinambá chegaram a ficar apavorados. Então o artilheiro alemão resolveu ajudá-los no ataque e com arco e flecha em punho começou a defender suas cabanas ,atirando e gritando ao modo dos selvagens. A intenção era escapar chegando até os atacantes que o conheciam, mas os Tupiniquim bateram em retirada e o alemão foi colocado sob guarda novamente.Na volta do ataque invadiram a aldeia  de  Mambucaba mas todos  seus habitantes conseguiram fugir,embora   cabanas tenham sido  queimadas e a aldeia completamente destruída. Nhaêpepô-oaçú ordenou a Ipiruiguaçu, a quem havia dado o alemão de presente, que o vigiasse, pois partiriam a Mambucaba para reconstruir a aldeia onde tinham parentes e amigos, também trariam de lá farinha de raízes para festa em que comemorariam a morte do alemão.


Dias depois o irmão do chefe Nhaêpepô-oaçu veio de Mambucaba com a noticia de que seu irmão e família que moravam em Mambucaba, estavam muito doentes. Nhaêpepô-oaçu pediu ao irmão que voltasse e pedisse ao alemão, Hans Staden, que conseguisse junto a seu Deus a cura para todos eles. O selvagem disse: “Meu irmão acha que teu Deus está zangado”.- Respondeu o alemão: “Sim. O meu Deus está zangado, porque seu irmão queria me comer, foi à Mambucaba e lá este está preparando a minha morte. Vocês afirmam que eu sou português, e eu não sou!. Vá ao encontro de seu irmão. Ele precisa voltar para a cabana dele aqui. Depois eu falarei com o meu Deus para que ele fique bom.” - Assim o selvagem voltou à Mambucaba levando a resposta do alemão.

O retorno do chefe Nhaêpepô-oaçu e de sua família doentes à aldeia, fez com que Hans Staden fosse chamado à sua cabana. Ele já imaginava que isso fosse acontecer, pois se lembrou do dia em que comentou sobre a lua estar zangada e que ela olhava para a cabana do chefe, e de ter sido um presságio de Deus. Daí passou pela cabeça do alemão que poderia contar com Deus, e isso lhe garantiria a vida. Logo, o alemão, disse confirmando ao Nhaêpepô-oaçú que era verdade, que todos haviam ficado doentes porque eles queriam comê-lo e que a desgraça deles vinha deste motivo. O chefe deu ordens insistentes para que nada fizessem ao alemão e para que todos ficassem bem de saúde. Staden pediu a Deus e entregou a vida daqueles selvagens enfermos em suas mãos.

 Aproximando-se de cada enfermo, Hans Staden fez imposição de mãos sobre suas cabeças como o exigia o ritual das curas. Mas, morreram um a um; primeiro, uma criança depois a mãe do chefe, e dias  velha, um irmão do chefe e outra criança. O pai da família com medo da iminência da morte pediu, novamente ao alemão para que seu Deus parasse com a ira e o deixasse a ele e a sua mulher viver. O alemão o acalmou dizendo que não haveria perigo, mas que quando sarasse nenhum mal deveria lhe acontecer.  Na hora, o chefe ordenou a todos que não o denegrissem e nem o ameaçassem. Dias depois, Nhaêpepô-oaçu e sua mulher, recuperaram-se.

Na aldeia encontravam-se mais dois chefes de aldeias vizinhas . Eles compartilhavam uma série de experiências, um deles havia sonhado com o alemão que teria anunciado sua morte. Tanto um como outro chefe estavam preocupados e sofrendo com os pesadelos, e diziam ao alemão que não lhe fariam mal e não o comeriam. Até as mulheres idosas que o haviam feito sofrer proferindo golpes, arrancando-lhe os cabelos, os pêlos e ameaçando-o em comê-lo passaram a chamá-lo de Chê-raira, quer dizer: “meu filho”, pedindo a este que não os deixasse morrer.

Cada vez mais indecisos em relação a nacionalidade do prisioneiro os selvagens decidiram poupá-lo por mais um tempo.

Caruatá–uára, o francês que tinha aconselhado os selvagens a comê-lo, voltou à aldeia de Ubatuba. Achava que Hans Staden já havia sido morto pelos selvagens. Encontrou-o dentro da cabana e na língua dos selvagens perguntou se ainda estava vivo. Staden respondeu: “Sim, e agradeço a Deus por ter-me protegido durante tanto tempo”. Como já tinha a liberdade de se locomover sem as amarras, procurou um lugar longe dos selvagens e assim poder conversar com o francês. Explicou todo o ocorrido na segunda viagem ao Brasil, que esteve entre os portugueses, pois tinha naufragado com os espanhóis nas proximidades de São Vicente. Pediu ao francês que contasse aos índios que ele era seu amigo e parente, e também que o levasse aos navios franceses que aportariam em breve ali perto em busca de especiarias. 

O francês parecia arrependido de não tê-lo ajudado, portanto resolveu ajudá-lo desta vez, dizendo aos selvagens que se havia confundido e que Hans Staden era um alemão, amigo dos franceses. Mesmo assim, os Tupinambá só o deixariam partir, se o pai ou irmãos do alemão viessem com navios e trouxessem presentes como facas, tesouras, machados e outras mercadorias. O francês prometeu ao alemão que voltaria num outro navio com as mercadorias para atender ao pedido dos selvagens.

Algum tempo depois, os selvagens já com boa saúde, resolveram ir a uma aldeia chamada Tiocoaripe para comer um prisioneiro que pertencia à tribo dos Maracajá, amigos dos Tupiniquim, levando Hans Staden junto. Fariam uma festa, regada de cauim e logo depois, matariam o infeliz. Hans Staden conseguiu chegar até o prisioneiro na noite anterior ao dia da festa, conversou com ele por um tempo explicando que também era um prisioneiro dos Tupinambá e que não estava ali para come-lo. Tentou passar uma mensagem de paz ao espírito do cativo, afirmando que Deus o receberia em um lugar onde todos viviam sem diferenças, provocando resignação ante a iminência da morte.

Nesta mesma noite um forte vento soprou e os selvagens pensaram que o alemão havia pedido ao seu Deus para que não matassem e comessem esse prisioneiro com o qual havia estabelecido amizade e que era tão amigo dele como dos Tupiniquim. Hans Staden rogou a Deus pedindo que continuasse a protegê-lo daqueles selvagens, pois, entre eles voltavam a sussurrar a seu respeito. Ao amanhecer, o alemão foi até o escravo e disse que aquele forte vento da noite era Deus e que o levaria a presença Dele. No outro dia, depois de muita festa e cauim, enfim, os Tupinambá mataram e devoraram o prisioneiro da tribo Maracajá.

Ao voltarem para a aldeia de Ubatuba, chovia muito e a viagem se prolongou por três dias. No caminho, enquanto os selvagens devoravam a carne assada do escravo, Hans Staden observava com atenção um jovem que devorava um osso da perna O alemão pediu –lhe que o jogasse fora, pois não havia mais carne, e o jovem respondeu irado que era o costume deles comer com deleite carne humana. Depois que chegaram da demorada viagem, um dos dois senhores de Hans Staden, o Alkindar, perguntou-lhe se havia visto como tratam seus inimigos, este respondeu indignado que sim.




CONFIRA A SEQUENCIA DESTE   ESPECIAL , DIA 05 DE JANEIRO DE 2012.....
COM A PUBLICAÇÃO DAS PAGINAS :   182  EM  DIANTE




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