INDIOS TUPINAMBÁS DURANTE BANQUETE - A ilustração acima não faz parte do Livro :
Ubatuba, espaço , memória e cultura - Editado em 2005...Ela é figuraiva
Ubatuba, espaço , memória e cultura - Editado em 2005...Ela é figuraiva
No período que antecedia o ritual
antropofágico Tupinambá, as mulheres durante a preparação do cauim conduziam duas
ou três vezes seguidas o prisioneiro ao pátio da aldeia para dançar em torno
dele. No dia pré-fixado chegavam os convidados sendo recebidos pelo chefe da
tribo que lhes dava as boas vindas: “Vistes ajudar-nos a devorar o inimigo”. Os
recém chegados bebiam e a partir de então, iniciava-se a cerimônia.
No primeiro dia, a corda com a qual o
prisioneiro seria amarrado era trazida ao pátio da aldeia no meio dos
estrondosos alaridos. Tal corda era untada com uma substância parecida com a
cal e deixava-se secar suspensa em uma estaca fincada em terra. Um índio previamente
instruído fazia dois nós nesta corda, após tal execução, os assistentes batiam
palmas e emitiam gritos de alegria. A musarana
era posta em um vaso e levada para a cabana do dono do prisioneiro.
No segundo dia todos os habitantes da
aldeia saiam ao campo para recolher bambus da altura de uma lança. Na noite
estes eram plantados no meio do pátio com as extremidades apoiados umas nas
outras, formando assim uma espécie de cabana cônica, a qual se ateava fogo.
Dançava-se em torno da fogueira carregando maços de flechas nos ombros.
No terceiro dia a população reunia-se
no pátio e dançava ao som de instrumentos. O ritmo era marcado pelas batidas
dos pés e das mãos e não era entoada nenhuma canção.
No quarto dia, ao amanhecer o prisioneiro era conduzido às margens do rio, onde se
banhava. De acordo com os autores como Thevet a derradeira limpeza era feita na
aldeia e consistia na depilação do cativo, por volta das cinco da tarde as
índias reconduziam a vítima à choça provisória, erguida na praça central. Eram
transladados para essa choça o tacape do sacrifício e os dois potes de
plumas, os fios de algodão e a resina destinada à decoração. Tudo em presença
do prisioneiro , inclusive a arma da execução. O tacape
passava por uma espécie de consagração, Coberto por uma camada de mel,
pulverizado por pedacinhos de conchas e fragmentos de ovos verdes de mucucara, aos quais os indígenas atribuíam um
poder mágico contendo inclusive o pó sagrado produzido com a casca do ovo, esse
revestimento dava a arma do sacrifício um poder especial.
Ao por do sol os índios reunidos na
aldeia apressavam-se a celebrar o acontecimento com um grande cauim. Durante a
noite, a vítima era atada a laço e mantida imobilizada, sendo velada pelas
mulheres que a seguravam pelas extremidades. Convidados e anfitriões ficavam o
resto da noite bebendo, gritando e cantando. Lembravam seus guerreiros e as
grandes ações por eles realizadas. Métraux assinala que vários autores afirmam
que prisioneiros faziam parte destas festividades, pois era uma honra morrer
entre danças e bebidas, vingando-se antes de ser morto daqueles que o iam
devorar.
No quarto dia, tinha lugar o
sacrifício. No amanhecer as mulheres iam até a choça onde estava o tacape e acordavam o prisioneiro, conduzindo-o à praça de
execução, situada no centro da aldeia, junto às ocas. Chegados ao sítio os
indígenas retiravam as cordas das estacas onde tinha ficado, estendendo-as no
solo e amarrando-as em torno da cintura da vítima.
Todo este tempo, o executor
permanecia fechado na cabana, paramentado com esplendor. Na cabeça levava um
sombreiro de plumas, na frente o diadema rubro “cor da guerra”. Ao peito, colares de conchas. De plumas eram
também feitos os braceletes que cobriam os braços e da altura dos rins pendiam
penas de avestruz. Nas costas levava um manto de penas íbis vermelhas. O rosto era pintado de rubro e o
corpo embranquecido de cinza. Parentes e amigos vinham procurá-lo escoltando-o
cantavam, rufavam os tambores e tocavam flautas e trombetas. O prisioneiro era
proclamado a viva voz de bem aventurado, pois vingava neste ato, a morte dos
antepassados e dos seus irmãos parentes. Todo o trajeto do cortejo era besuntado com uma substância esbranquiçada.
O carrasco avançava dançando pelo
pátio e movimentando seus olhos de forma assustadora, com as mãos imitava o
falcão no ato de se jogar sobre a presa. Ao parar em frente de sua vítima recebia
o tacape das mãos do guerreiro designado para este fim. O carrasco dirigia-se
ao prisioneiro nos seguintes termos: “não pertences a nação, nossa inimiga? Não
mataste e devoraste, tu mesmo, os nossos parentes e amigos? Agora estás em
nosso poder; serás logo morto por mim e moqueado e devorado por todos.” Após esta troca, o executor brandia o tacape e procurava acertar o golpe na nuca da vítima, antes
do golpe final, o vencedor passava duas vezes por dia diante do prisioneiro.
Mal este era massacrado e as velhas mulheres precipitavam-se
para recolher o sangue e os miolos sendo o primeiro bebido ainda quente.
A mulher cedida ao prisioneiro vertia
algumas lágrimas, choro puramente ritual, pois logo a seguir era a primeira a
saborear a carne do extinto esposo. O cadáver era assado, escaldado a ponto de
permitir a raspagem do couro. Introduziam-lhe um tampão no ânus para impedir a
excreção. Eram cortados, em primeiro lugar, os membros superiores do corpo,
depois faziam uma incisão no estômago e convidavam as crianças a devorar os
intestinos. Retalhava-se o tronco a partir do dorso. Nada era perdido: os
homens cozinhavam as entranhas, e as mulheres mais velhas, a quem cabiam os
cuidados culinários comiam até a gordura que escorria pelos varais do moquém,
ao ponto de lamber o rosto, a boca e as mãos com as banhas do morto. Língua,
miolos e certas partes do corpo estavam reservados para os jovens, para os
adultos ficava a pele do crânio e para as mulheres os órgãos sexuais. Partes consideradas
nobres como as pontas dos dedos das mãos, assim como parte do fígado e do coração eram dadas aos hospedes de honra. As
crianças da tribo eram obrigadas a tocar no cadáver e untar as mãos no sangue
vertente, encorajando-as com as seguintes palavras: “Estás vingado. Vinga-te
também, meu filho. Eis aqui um dos que te deixou órfão de pai”. Untavam de
sangue o corpo, braços e coxas Para que os bebês tomassem parte do festim, as
mulheres molhavam de sangue os bicos do seio pensando em tornar seus filhos
valentes.
Os ossos do morto eram motivos de
preservação religiosa, sendo os do crânios
confinados em estacas a frente da oca do vencedor. Os dentes serviam para
fabricação de colares e as tíbias para fabricação de flautim e apitos.
O ritual antropofágico tupinambá
despertou: interesse e curiosidade de franceses e portugueses que chegaram as
terras brasileiras. O questionamento sobre as origens e finalidade de tais
ritos só encontrava eco no desejo de vingança pela morte dos ancestrais. O
sangue era o único motivo de grandes expedições, consideradas incompletas se o
inimigo não fosse devorado. O canibalismo era uma prática destinada a aumentar
a força vital daqueles que o praticavam, em última instância um processo capaz
de permitir a aquisição de determinadas virtudes. A antropofagia era um costume
característico dos Tupi-Guarani e de todas as tribos desta primeira família
lingüística, a propósito da qual somos tão mal informados. A idéia de
pormenorizar mitos e ritos Tupinambá seguindo as pistas de Alfred Métraux que
se aproximam das teorias de Florestan Fernandes, a respeito das práticas
antropofágicas Tupinambá são em síntese: ritos de aprisionamento, sacrifício do
prisioneiro e re-nomeação do matador e postulam:
1) Intimidar os inimigos pela auto -
afirmação do próprio poderio;
2) Por em ação o sistema tribal de
compromissos recíprocos de assistência mutua;
3) Intensificar os laços de
solidariedade que uniam entre si vários grupos locais. Cabe salientar aqui a
nossa hipótese sustentada na teogonia e cosmovisão relatada logo no início
deste item.
4)
O
papel dos antepassados civilizadores é fundamental no imaginário coletivo
Tupinambá, uma vez que estes se sentiram herdeiros diretos do espaço a eles
confiado e transmitido de geração em geração. No seu animismo elementar os
Tupinambá eram sensíveis ao ritmo da floresta e do mar povoados de espíritos e
lendas.
1)
A morte representava para a nação Tupinambá um dado real do
tempo e um desafio a ser enfrentado com a arrogância inquebrantável que o rito
merecia.
CONFIRA DIA 03/12 / 2011 ..............Á PUBLICAÇÃO DA PARTE 52 DESTE ESPECIAL
VOCÊ poderá encontra esse livro na Biblioteca Municipal de Ubatuba -SP
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