Após 108 dias chegaram a Açores, ilhas pertencentes
ao Rei de Portugal, onde conseguiram, em um outro combate, se apossar de um
navio pirata com grande suprimento de mantimentos. Assim, partiram da Ilha
Terceira junto com um aglomerado de cem navios e prosseguiram viagem, uns à
Espanha e outros a Portugal. Após 16 meses de grandes aventuras, no dia 8 de
Outubro de 1949, chegaram a Lisboa. Encerra-se desta forma , quase emblemática,
a primeira viagem de Hans Staden ao Brasil.
A segunda viagem de Hans Staden ao Brasil e às
terras Tupi é a maior de suas aventuras . Desta vez tendo os espanhóis como
camaradas e como destino mais
especificamente o Rio da Prata, uma das terras da América, onde o Perú e o
Brasil formavam um só continente. Partindo de Sevilha, Espanha no ano de 1549,
o alemão segue viagem ao seu destino onde conheceria “o paraíso” e “o inferno“.
Aportando antes em Lisboa e depois nas ilhas Canárias, passou pela ilha de
Palma seguindo até Cabo Verde, terra dos mouros negros, onde quase naufragou.
Seguindo rumo ao Novo Mundo, tormentas e tempestades atingiram três dos navios bem
na linha do Equador.
Devido aos ventos fortes e desfavoráveis perderam-se,
ficando só o navio onde seguia o alemão. Após quatro meses, em setembro, a
tripulação conseguiu retomar o rumo e a direção da América. Foram seis meses no
mar, em situações de grandes perigos e riscos. Conseguiram aproximar-se da
costa do continente, mas não acharam o porto indicado. Os fortes ventos e os
arrecifes ameaçavam e antes que viessem a naufragar, avistaram um porto e lá
baixaram a âncora podendo assim descansar.
Já em terra firme, Hans Staden e os
outros tripulantes fizeram contato com os primeiros selvagens, os Tupiniquim, amigos dos portugueses[1],
oferecendo-lhes facas e anzóis afim de agradá-los. O porto de desembarque
chamava-se Superagui, distante a 13 milhas (24 quilômetros) de São Vicente, capitânia
pertencente ao Rei de Portugal. Dois portugueses que se encontravam no lugar
ouviram atentamente toda a aventura marítima narrada pelo capitão do navio,
achando-o habilidoso, pois conseguiu escapar das tempestades, dos rochedos e dos
arrecifes. O capitão e a tripulação disseram para seus ouvintes que queriam
chegar a Ilha de Santa Catarina, mais ao Sul, onde viviam os selvagens Carijó[2].
O navio de Hans Staden seguiu viagem
rumo ao destino pretendido e, a caminho, voltou a enfrentar tempestades,
trovões e o mar agitado, levando o medo a tomar conta de todos. Mas como de
outras vezes, Hans Staden orou e confiou em Deus e ocorrendo a melhora do
tempo, seguiram o curso até o próximo porto, uma das ilhas em que fariam uma exploração.
Era dia de Santa Catarina, do ano de
1550 e o barco estava em uma embocadura do rio chamado São Francisco, numa
província do mesmo nome. A tripulação pernoitou em uma pequena ilha, neste
mesmo rio, pois parecia seguro e não havia ninguém nas proximidades,
principalmente os temidos selvagens. Ali fizeram uma fogueira e comeram
palmitos da região. Havia no lugar velhas cabanas abandonadas, levando-os a
imaginar a presença de gente e impulsionando-os a adentrar-se na baía. Acharam
uma cruz presa a um rochedo com uma escrita mal definida em espanhol que dizia:
Si viene por ventura aqui la
armada de su Majestad, tiren un tiro, ahí habrán recado. – ou: Se por acaso vierem aqui navios de Sua Majestade, dêem um tiro e
aguardem resposta. O
tiro foi dado e retornando à baía, viram aparecer cinco barcos com selvagens e
um homem branco no meio, um cristão. Este disse que ali se tratava do porto Jurumirim,
ou, Porto de Santa Catarina, enfim o porto que procuravam.
Hans Staden lembrou a seus amigos e
camaradas que haviam estado ali, exatamente no dia de Santa Catarina e fez
menção, mais uma vez a Providência Divina. Ela ajuda e salva aqueles que pedem
com seriedade, afirmava o artilheiro alemão. Conversaram com o cristão que se
chamava Juan Fernando, um basco da cidade de Bilbao, explicando a intenção
daquela viagem e que esperariam pelos outros navios da frota expedicionária naquele
porto. O cristão se mostrou satisfeito com a conversa, dizendo que foi
encarregado de orientar os selvagens Carijó, a plantar mandioca. Esta tribo era
amiga dos espanhóis que ocuparam a localidade de Assunção na província do Rio
da Prata e chamava-se Cutia. A intenção do plantio da mandioca era para que servisse
de alimento àqueles que carregavam os navios que ali chegavam.
O segundo navio chegou, mas o
terceiro não apareceu, certamente havia
se perdido no decorrer de sua travessia. Nesse porto aumentou consideravelmente
a expedição que prosseguiu viagem com destino ao Rio da Prata. Entretanto, após
abastecer os navios com mantimentos, o grande navio afundou no próprio porto,
fazendo com que a viagem não se realizasse. Foram dois anos atravessando a
selva e enfrentando diversos perigos. Para saciar a fome, caçavam animais
exóticos e desconhecidos típicos da região, alguns mantimentos eram obtidos por
trocas ocasionais com os indígenas. A tripulação resolveu então se dividir em
dois grupos, um seguiria por terra até a província de Assunção, enquanto que o
outro seguiria em um navio remanescente do qual fez parte o artilheiro Hans
Staden. Dos que foram por terra muitos morreram de fome e poucos conseguiram chegar
ao destino.
[1] Os Tupiniquim (Tupinikĩ) é o nome da grande nação
Tupi espalhada pelas regiões do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Não se
usa plural na língua geral da grande família indígena brasileira, isto é, o
Tupi, que compreende três épocas: o Tupi antigo, falado pelas tribos do século
16 e 17 (segundo testemunhas de Anchieta, Lèry, Thevet e o próprio Hans
Staden); o Tupi do século XVIII, já sistematizado no dicionário
português-brasiliano de Frei Onofre; e o Neo-tupi, falado no Amazonas no século
XIX entre índios aculturados e, ainda vivo entre caboclos mestiços. Por esta
razão ao referirmos a estas nações indígenas como: os Tupinambá, por exemplo,
utilizaremos propositalmente esta variante gramatical (Caldas Tibiriçá,
1984:184).
[2] Nome de uma tribo Guarani que ocupou parte do
litoral sul do Brasil. Caraí-jó significa uma mistura de homem branco, pois
eram assim chamados por pintar-se deste jeito, talvez como disfarce (Calda
Tibiriçá, 1984:84).
FONTE : Trecho do livro UBATUBA ,E SPAÇO, MEMORIA E CULTURA " - Documentário editado e lançado em 2005 , pelos autores JOORGE OTAVIO FONSECA e JUAN DROUGUET.............
CONFIRA NO DIA 18 DE DEZEMBRO DE 2012 ...A S EQUENCIA DESTE ESPECIAL com a divulgação da pagina 170....
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