Certa vez, uma senhora caiçara residente no bairro do Itaguá marcou um exame ginecológico com o Dr. Antônio Abdalla. O filho era policial e morava na cidade de Santos (SP), quando soube que a mãe ia se submeter a tais exames, veio imediatamente, para impedi-lo. Mas quando aqui chegou a mãe já estava sendo examinada. Tinha a sala do médico e uma saleta onde o Seu Trajano ficava aguardando ordens do médico. O rapaz pergunta ao Seu Trajano:
- A minha mãe está aí dentro?
- Sim, está sendo examinada e você não pode entrar, sente-se aqui e aguarde.
O jovem policial, que aparentava não ter mais que 25 anos, irritou-se com a resposta, sentou-se por alguns minutos e, de repente, entrou na sala armado de um punhal, foi para cima do médico ordenando que parasse de examiná-la.
Seu Trajano entrou na sala imediatamente e fez sinal com o dedo, perguntando-lhe se estava armado e o médico disse que não. Seu Trajano, então, foi conversando com o rapaz, o médico explicando a importância desse exame e o jovem policial foi se acalmando, até que chegou a hora de Seu Trajano usar sua força bruta, dominando-o e desarmando-o. Depois do susto, o médico explicou ao filho que sua mãe precisava urgentemente de tratamento especializado e já que ele morava em Santos que a levasse para lá, e entregou-lhe uma carta de apresentação para a Santa Casa daquela cidade. A mãe do rapaz foi curada, depois voltou para Ubatuba, e viveu por muitos anos.
O caso Marino
O Sr. Marino Ilídio Vieira, ubatubano nato, foi o primeiro morador do bairro do Sumidouro, e trabalhava na Fazenda Pico do Frade, de propriedade de Seu Trajano, que era seu padrinho de batismo (Marino era simpatizante do Seu filhinho). Certo dia, Marino ficou doente e veio ao Posto de Saúde pedir ao padrinho um remédio, pois se achava gravemente doente, com muitas dores pelo corpo. Seu Trajano prescreveu uma fórmula e mandou que levasse para o Seu Filhinho preparar o remédio. Quinze dias depois, Marino retornou a casa do padrinho se dizendo que estava curado e apto a retornar ao trabalho, foi um santo remédio. Como a receita foi em papel timbrado do Posto de Saúde, sem assinatura do médico, indagou Seu Trajano do afilhado:
- O Filhinho não questionou?
- Não, só perguntou quem prescreveu. Eu disse: Foi o padrinho Trajano.
- Há! Bom... Se foi o Trajano, eu preparo! Mas se fosse o médico eu iria pensar duas vezes. (Veja que a rivalidade era somente política.)
Seu Filhinho sabia que o Seu Trajano foi estagiário de enfermagem e farmácia na Santa Casa de São José dos Campos e dominava com competência a técnica de manipulação de medicamentos, principalmente pomadas, era o que mais se usava no litoral devido às feridas provocadas pelas picadas de insetos, destacando-se os “borrachudos”. Após o luto da sua morte, Seu Filhinho foi à casa da viúva, a professora Dionísia, pedir emprestados suas apostilas, livros e anotações, para se atualizar, pois tinha se formado em 1922 e já se achava desatualizado. Foi prontamente atendido.
[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado IV - Anjos da saúde.]
Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail parathecaliforniakid61@hotmail.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário