quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ESPECIAL " Ubatuba , Espaço, Memória e Cultura " - Parte 50


Imagem apenas ilustrativa, não faz parte do livro...Pertence
sim ao arquivo deste blog..



A Antropofagia foi um dos principais ritos Tupinambá. Durante os combates, estas tribos procuravam capturar seus prisioneiros. Com este propósito carregavam cordas que enrolavam em torno de seus próprios corpos. A estratégia de combate a certa distância era justamente para desarmar o inimigo e aprisioná-lo vivo. A captura do inimigo era uma façanha individual e por esta razão, o cativo pertencia a quem tivesse conseguido tal proeza em primeiro lugar, mas com o calor da contenda resultava difícil determinar quem era o verdadeiro executor, ou seja, a quem pertencia esta honra. Travavam-se entre os próprios Tupinambá ferozes brigas. Nestes casos, matava-se o prisioneiro o mais rápido possível e repartiam-se as carnes entre todos os componentes da expedição. O chefe de cada tribo alegava os direitos de seus vencedores com intuito de conduzir para sua tribo o prisioneiro vivo a fim de que as mulheres pudessem celebrar o fato de acordo com os costumes ancestrais.


Antes de deixar o campo de batalha, despedaçava-se o cadáver e as partes eram assadas. Quando um prisioneiro era levado à aldeia, aquele a quem cabia as honras se antecipava para anunciar a boa nova. Os amigos do herói atiravam-se sobre o cativo e despojavam no de seus ornamentos e armas, o guerreiro recebia um novo nome e as mulheres mais velhas da aldeia jogavam-lhe cinzas nas costas para recompensá-lo no seu prejuízo. Estas mulheres passavam a noite acordadas gritando pela chegada dos vencedores.

As expedições vitoriosas faziam sua entrada triunfal na aldeia e os prisioneiros eram conduzidos até a paliçada em torno das ocas. O dono do prisioneiro raspava as sobrancelhas e os cabelos da parte superior da testa do mesmo. Os cativos eram ungidos com resina ou mel e lhe eram colocadas as mais belas penas usadas em rituais Tupinambá. Daí o prisioneiro devidamente enfeitado devia gritar para as mulheres da aldeia: “Eu, a vossa comida cheguei.”

Após a chegada dos vencidos no espaço da tribo, construíam-se choças de palmeiras nas quais os prisioneiros eram alojados. Os vencedores bebiam 3 ou 4 dias seguidos: farra, jogos e gritos eram sinais eloqüentes do banquete antropofágico que os esperava. Logo de entrada, o prisioneiro era conduzido à tumba dos antepassados para renová-la e imolar a memória ancestral.

A volta triunfal dos expedicionários à tribo era celebrada, principalmente pelas mulheres que batiam a boca com a mão, enquanto saltavam e gritavam simultaneamente. O bom trato concedido ao cativo de guerra implicava no reconhecimento daquele que tinham capturado.

O prisioneiro era depilado e tonsurado como um Tupinambá, como membro da tribo, o único distintivo era um colar no pescoço que prendia pela nuca. André Thevet atribui a este colar o símbolo da escravatura, cujo significado está ligado aos nós que representavam as luas que os Tupinambá pretendiam conservá-lo antes de ser sacrificado, um espécie de calendário de frutas, ou de ossos de peixes ou de outros animais. Cronistas franceses negam o embaraço pelo qual os prisioneiros dos Tupinambá passavam no cativeiro. Antes afirmavam que estes eram livres para andar a vontade sem nenhuma vigilância. Em caso de fuga, o cativo era tido como um tolo, sem coragem. Reprovava-se a falta de coragem para enfrentar a morte entre os Tupinambá.

O sentimento que animava os membros da tribo, em relação aos prisioneiros indicava a preocupação de que estes últimos tivessem deixado de fazer parte de seu grupo natural para integrar-se a essa nova comunidade, daí também a mudança de nome. O prisioneiro era obrigado a passear na aldeia a fim de exibir-se, para todo mundo ver. Era, como já dizemos, cobertos de plumas, peculiares às grandes cerimônias tribais, inclusive cobertos com um maravilhoso manto da íbis rubra , muito admirado pela arte moderna. Neste passeio final, jogavam-lhe penas de papagaio. Tal ato era definitivo da morte: o constrangimento, humilhação, fruto da exibição pública servia para os espectadores da tribo assinalar quais partes do corpo desejavam comer. A festa da bebida era organizada pelo dono do escravo que convidava para o festim, os presentes e amigos.

O cativeiro do prisioneiro dependia do carbé, conselho principal da tribo que fixava a data da execução. Mensageiros eram enviados a todas as aldeias vizinhas convidando para participar da festa. Uma vez anunciado o rito do sacrifício, todo mundo se envolvia nos preparativos da cerimônia. Os homens preparavam as cordas chamadas de musarana, cordas feitas de embira, destinada a prender o cativo, cuja fabricação era confiada ao cacique. Tal objeto de culto religioso não era torcido e sim entrançado, este procedimento implicava um esforço considerável de produção. Cabia também aos homens preparar a clava com a qual a vítima era golpeada. De cabeça mais ou menos arredondada, quase elipsóide do tamanho de um punho com sete ou oito palmos de cumprimento, possuía nas proximidades da cabeça, a largura de quatro polegadas, daí se estreitava até a parte inferior onde era ornada com um mosaico de palha. O punho era ornamentado com a aterabébé, nome que os indígenas davam a várias espécies de plumagens entrelaçadas e tecidas, cordéis e pompons ornavam o cabo dessas macanã, ao qual eram atadas nas vésperas da execução.

No período que antecedia o ritual antropofágico Tupinambá, as mulheres durante a preparação do cauim conduziam duas ou três vezes seguidas o prisioneiro ao pátio da aldeia para dançar em torno dele. No dia pré-fixado chegavam os convidados sendo recebidos pelo chefe da tribo que lhes dava as boas vindas: “Vistes ajudar-nos a devorar o inimigo”. Os recém chegados bebiam e a partir de então, iniciava-se a cerimônia.




CONFIRA     A  PARTE 51  DESTE   ESPECIAL  , A SER PUBLICADA NO DIA 30/11/2011
A partir  da pagina  156...

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