segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MEMÓRIA ESPORTIVA 2006.....Um fato sem repercussão SOBRE A A HISTÓRIA DA NATAÇÃO UBATUBENSE


Justo Arouca
 
Aconteceu no último dia 16, a sexta etapa do Campeonato Paulista de Águas Abertas, dentro dele a "37ª Travessia Internacional de Ubatuba", mas dela saiu algum vencedor? Dela se originaram a escolinha de natação e a piscina ainda hoje utilizada pelos nossos nadadores. Como parte de um conjunto de realizações, surgiu a CME e desta a Secretaria de Esportes. Há, como se vê, história para contar!
A Natatória "Cidade de Ubatuba". Nascida em 1960, por iniciativa do Grêmio dos estudantes do Ginásio Deolindo, foi proposta para ser realizada, sempre no último domingo de maio, e assim foi feito por mais de 25 anos, exatamente para atrair visitantes para Ubatuba, fora da temporada, à época uma grande dificuldade!





Cinco anos depois a competição ganhou interesse nacional, por isso, a sua realização passou à responsabilidade da Comissão Municipal de Esportes. Tempos depois, alcançou prestígio internacional (sem nenhuma interferência da Federação), com a participação de clubes argentinos, principalmente. O excelente nível técnico dos nadadores "portenhos " os fez ganhar 6 provas consecutivas. Um recorde importante que refletiu favoravelmente para Ubatuba pela enorme repercussão no país vizinho e no mundo das "águas abertas". Grandes clubes como São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Paulistano, CR Tietê, Paineiras, Flamengo, Universidade Gama Filho, Fluminense, Tijuca Tênis Clube muitos outros do nosso Interior estiveram na Cidade. Com eles os maiores nomes da natação nacional e atrás destes a imprensa. Os hotéis centrais ficavam lotados. A prova se tornou tão importante que o Governador de São Paulo, Abreu Sodré, baixou o decreto n° 51749 de 30de abril de 1969, também assinado pelo Secretário de Turismo Orlando Zancaner, incluindo-a no calendário de eventos do Estado, justificando: “...considerando que em decorrência deste incremento, aquela competição tem alcançado êxito invulgar, atraindo para o local onde é disputada um elevado número de turistas...”. Os cartazes que mais pareciam posters passaram a ser feitos pela Secretaria de Esportes e Turismo estadual. Criativos e de bom gosto artístico, eram distribuídos para as agências de viagens. A divulgação em grandes jornais como a Folha de São Paulo, A Gazeta Esportiva, O Diário de São Paulo, O Globo e o Jornal dos Esportes do Rio de Janeiro e outros jornais e rádios do Litoral e do Interior eram inundados com “press releases”, de maneira que o pouco que fosse publicado representava um grande ganho em divulgação.
A velha TV Tupi “parceira oficial” guardava espaço certo no seu telejornal, em rede nacional e a TV Globo fazia a cobertura “in loco” para o jornalístico Fantástico que reproduzia a prova na programação no próprio dia da competição. Um prestígio enorme para a prova, um espaço grandioso para Ubatuba. Numa época que não havia internet, muito menos rádios FM ou TVs regionais! Conhecidos os 5 primeiros colocados da prova principal, uma premiação simbólica era antecipada para que a TV Globo pudesse encerrar a sua matéria. A equipe saía de carro para editar a reportagem e inseri-la no Fantástico. Para a imprensa era oferecido um barco especial para a cobertura, de maneira que o público na praia e da cidade sabia o que estava acontecendo durante o desenrolar da competição. Numa época que não havia celular!
Quando a prova completou 25 anos, em 1985, a Comissão esteve com o nosso Prefeito em São Paulo para convidar, a imprensa. Compareceram 4 canais de TV: a Cultura, a Tupi, a Globo e a Bandeirantes. A TV Cultura fez matéria de 45 minutos sobre Ubatuba abrindo a reportagem com o amanhecer na Praia de Iperoig, discorrendo sobre a prova, a história e o potencial turístico da Cidade. Apresentada em dia de domingo, foi reprisada várias vezes. Todos os anos a delegação da Argentina levava reportagens gravadas pela TV para exibir na televisão de Buenos Aires. Em determinado ano a Radio Rivadavia de Buenos Aires, enviou um repórter especial para cobrir a prova. As notícias eram transmitidas pelo telefone do Hotel da Renata, no Perequê-Açú. Muitas vezes familiares argentinos vinham acompanhando seus nadadores, para conhecer a cidade, tão comentada era por lá. A municipalidade reconhecendo a grandiosidade do evento, nomeou o Prof. Victor Artuz, assessor na Secretaria de Esportes Aquáticos, em Buenos Aires, como nosso representante para falar sobre a prova na Argentina e divulgá-la nos países visinhos. A prova era uma autêntica festa do esporte. No sábado à tarde realizava-se um desfile de apresentação das delegações, à noite encontro com os técnicos. No domingo, pela manhã eram hasteadas as bandeiras de  todos clubes presentes, num pátio semi-oval, com a execução dos hinos nacionais dos países presentes. Essa era a diferença que empolgava o público. Cada momento era vivido como um espetáculo. Era, afinal, um importante acontecimento esportivo cuidadosamente produzido para gerar um fato turístico. Quando o evento ganhou total maturidade e passou a obter patrocínios como a Coca-Cola, por exemplo, o êxito da organização e sua visibilidade, fizeram "explodir ciumeira" na Federação que, nessa época, também realizava competições em Águas Abertas, em parceria com a A Gazeta Esportiva.
Apesar da sua colaboração na parte técnica e saber do nosso propósito, resolveu introduzir o seu campeonato de águas abertas na natatória, sob protesto irado de Ubatuba. Com regulamento e organização próprios, "matou" a nossa competição cujo objetivo era difundir a Cidade, fazendo do esporte em alto nível uma atração turística. Assim, a Federação assumiu a prova após 26 anos de sucesso, para transformá-la no seu campeonato estadual de águas abertas. Hoje a maioria dos clubes chegam pela manhã, retomam após a prova. Indiferentes à Cidade, poucos dos mais de mil jovens aqui trazidos, sequer têm tempo de atravessar a avenida para tomar uma água no bar. O campeonato “deles” ficou circunscrito entre a Federação, os Clubes e os pais dos nadadores. Ainda bem para os nossos atletas que aproveitam a competição para melhorar sua qualificação no ’ranking’ paulista! Está última prova como as anteriores não mereceu manchete no Jornal da própria cidade! Nem em outro qualquer jornal ou rádio da região. A mídia da capital ignora o evento. Nem a Federação não se preocupa com este detalhe. Nem mesmo a Costa Azul faz referência mais alongada (olha que, desde a primeira prova, quando ainda se chamava Rádio Iperoig, do nosso saudoso Pagano, a cobertura era feita em pleno oceano - sem celular!).
Uma cidade como Ubatuba que muitas vezes paga para promover suas atrações, não pode prescindir de bons receptivos para motivar mais visitas à cidade, especialmente, na baixa temporada. Qualquer investimento público em eventos -esportivo ou cultural - ainda que modesto, precisa gerar retorno pela mídia, com boa propagação que faça criar expectativa otimista sobre o enunciado, antes e depois de sua realização. Hoje tudo é mídia! Há uma profusão de TVs na região - aberta, a cabo, sat, internet etc. – mas aprova perdeu a imprensa. Da sua realização e do seu resultado pouca gente sabe. A Federação sequer teve a preocupação de preservar, pelo menos, uma tradição. O último domingo do mês de maio, época de baixa temporada, para justificar o evento. Ao contrário realizou o seu campeonato em pleno mês de julho. Repensar procedimentos assim é preciso!

Nota do Editor: Justo Arouca foi primeiro presidente do Grêmio 28 de Abril.

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