sábado, 1 de outubro de 2011

LÁ VEM ESTÓRIA OU HISTORIA.....João Bordini do Amaral, ubatubano






Texto de Nenê veloso

João Bordini do Amaral, ubatubano da gema e do Centro, nascido em 25-12-1912, servidor público estadual, lotado no cargo de fiscal sanitário do Posto de Saúde de Ubatuba. Quando não estava fiscalizando, ajudava na enfermaria, fazendo curativos e aplicando injeções. O implacável fiscal cumpria as normas sanitárias à risca. Não deixava passar nada. Temido pelos comerciantes e donas de casa, qualquer aguinha de tanque correndo para a rua metia a caneta. A primeira era advertência, a segunda era multa e não adiantava chiar. Abater animais em casa, mesmo que para o consumo próprio, nem pensar! A menos que fossem previamente fiscalizadas as condições de saúde dos animais e as condições de higiene do local, porém, era permitido somente abater aves. Ele era implacável no comprimento da lei. Tinha laços de família com o colega Seu Trajano. João Bordini faleceu em 12 de abril de 2004, aos 92 anos. É pai do popular advogado Dr. Adhemar Bordini do Amaral.






Caso verdade


Era de costume, na cidade, engordar uma leitoinha para as festas de fim de ano, mas esse procedimento era proibido e rigorosamente fiscalizado pelo Posto de Saúde. Só era permitido abater suínos em casa, para consumo próprio, após vistoria sanitária das condições do local onde estava sendo criado o animal. Somente as aves poderiam ser abatidas sem restrições, desde quê fosse para consumo próprio. Residia na cidade, nessa época, em uma travessa da rua Dona Maria Alves, o policial Sargento Benedito, boa praça, querido por todos e apelidado de “Tenha Dó”. Após o expediente no fim da tarde, o policial, já em trajes civis, se reunia com os ubatubanos na venda do Zezé Pimenta, do Barreto e outras da rua Baltazar Fortes, antiga rua do Cuá, no trecho que fica à margem de um braço do Rio Grande de Ubatuba, local conhecido como “Rampa”. Ali, tinha e ainda tem um comércio próprio, forte e variado: peixarias, bares, posto de gasolina... Só o Mercado de Peixe Municipal mudou-se para a Ilha dos Pescadores.


Arquivo Nenê Velloso

Era nesse local que se ficava sabendo de tudo o que acontecia na cidade, quem chifrou quem e outras “cositas más”. A Rampa ainda está lá, não com o mesmo glamour do passado, a Rampa de muitas histórias, brincadeiras de jovens e idosos. Os idosos eram os mais sacanas, encantavam os jovens com suas histórias, brincadeiras e gozações. Quem não se lembra do Bar do Gaiato... Marujo, Bimba, Nelson da Verônica, Didi o “Garça”, Domingos Pedro, Chico Preto, Guaiá, Sidônio, Veiga, Agenor, Tião Balio, Antonio Lourenço, Pelé Mecânico, do folião Santinho, Pato Louco... Simião era o homem do cacete, morava no Mato Dentro e aparecia lá de vez em quando e quando aprecia, era aquela farra! O Clovis Velloso, o Tiãozinho e o Itamar eram funcionários do DER. E outros que me fugiram da memória.
Certo dia, esse policial militar, Sargento Benedito, apelidado de “Tenha Dó”, propõe ao vereador Zezé Pimenta e ao líder político do MDB, o Sr. José Zabeu Filho, para sevar uma leitoa só no puro milho, para ceia de Natal. O negócio foi fechado. Seis meses depois a leitoa foi abatida na manhã do dia 23 de dezembro de 1976 e os sócios foram avisados que viessem buscar suas partes. Como essa prática era proibida, alguém denunciou ao temido fiscal sanitário João Bordini, que morava na mesma rua, a 250 metros do local e ele apareceu, subitamente, bem na hora da divisão. Como foi denúncia, o fiscal já veio preparado, trazendo uma lata de creolina e um talão de multas embaixo do braço. Primeiro inutilizou a carne, jogando em cima toda a creolina, em seguida aplicou uma multa em cada um. O policial, indignado pelo rigor no cumprimento da lei, disse:
- Seu Bordini... tenha dó, não faça isso... aqui todo mundo é amigo.
- A lei não tem amigos, foi feita para ser cumprida, não para ser questionada.
E João Bordini foi embora a passos largos.

(Relato feito pelo ex-vereador Zezé Pimenta - 1973/1976).


[Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado IV - Anjos da saúde.]

Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail parathecaliforniakid61@hotmail.com.

Nenhum comentário: