2. OS TUPINAMBÁ, TRAÇOS DA FORÇA E DA RESISTÊNCIA DE UMA RAÇA.
A melhor imagem que se tem do
Tupinambá é a de José de Anchieta, vindo em missão ao Brasil, no ano de 1553,
pela Companhia de Jesus. Anchieta nos oferece uma noção primordial da língua de
tronco tupi, dos tipos humanos e dos costumes destes aborígines que habitavam
as praias e as selvas do nascente Brasil.
Diante dele estava o
Tupinambá, silvícola. Feliz na sombra de seu labirinto - a flora, nos elos de
seu cativeiro – a fauna. Canibal da era neolítica, em pleno delírio cromático,
em um país de fogo e de sangue. O índio trazia o sexo apenas velado pela tanga,
penas amarelas, grinaldas ao cocoruto, manilhas de outras, policromadas, nos
pulsos e tornozelos, ramaes de búzios ao pescoço, tembetas de osso, de âmbar ou
de quartzo na beiçola, pingentes nas orelhas, adornos de barro cosido na face
esburacada. Abaixo dos joelhos, como
franjas pendiam as tapacurás vermelhantes e por todo o corpo depilado,
sinuosamente, ondeavam lavores negros ou rubros, feitos a tinta de genipapo ou
de urucu. Outras vezes, sob a plumagem dos cocares, prendia às nacas uma roda
de penas cinzentas, longas penas de ema.
Vagava por brechas,
aldeias e rios, à mão esquerda: o arco derrubador de feras, à direita o maracá,
evocador de mortos, sepultados nas igaçavas com seus instrumentos de trabalho.
Os mais belicosos exibiam a tangapena dos sacrifícios, pendentes da nuca, ou
infindáveis colhares de 3000 dentes – os dentes dos inimigos devorados, onças
ou homens.
Impulsivo e rancoroso,
vivia o selvagem para nadar como os peixes no abismo, girar como os pássaros
sobre rochas e boqueirões, lutar como os jaguares no deserto. Nômade corre;
homem – marinho flutua; homem – felino retalha. São livres todos os apetites,
comuns todas as coisas no regime da tribo. O canibal tem a pele rija do tapir,
a dissimulação do tatu, rastejante no subsolo, ou da cobra verde, enroscada nas
folhas, o grito de acaponga e o salto do bugio. Instintivamente respira à
distância o cheiro da caça, do fogo e do mel. E sua fome não espera, o seu ódio
não perdoa.
(Soares, 1587 apud Vieira,
1929:33-34)
A descrição física dos Tupinambá fala
de homens altos e muito fortes, uma constituição física bem atlética. As
mulheres Tupinambá tinham seus corpos bem delineados, uma pele morena e
bronzeada. “Selvagens” que andavam completamente nus e que mantinham o asseio
corporal banhando-se várias vezes ao dia nos rios. Eles ornamentavam-se com uma
variedade de adereços da própria fauna e flora da região com cocares feitos de
penas coloridas, pequenas pedras brilhantes catadas no fundo das corredeiras e
pedaços de peles de animais.
Muito alegres, gostavam de uma
folgança ao som de músicas, cantarolando e executando muito bem seus
instrumentos de sopro e de percussão. Com muita dança e diversão, os silvícolas
regavam suas festas com um tipo de aguardente chamado cauim feito com a mandioca fermentada.
Os Tupinambá habitavam desde o rio Juqueriquerê, em
São Sebastião, Litoral Norte do Estado de São Paulo até o Cabo de São Thomé,
perto da Capitania do Espírito Santo, toda essa faixa era reconhecida como território
Tamoio. Sentiam-se bem protegidos nesta região pela grande e vasta Serra do Mar
que o isolavam das más surpresas e ameaças do planalto . Apegados a esse domínio, os Tupinambá se reconheciam neste espaço
e lutavam por sua conservação. Aproveitando-se das vantagens da terra que os protegia,
os Tupinambá usufruíam dela, da amenidade do seu clima e da fertilidade do seu
solo, tudo o que precisavam à sua sobrevivência estava ali, tornando-se
propício levar uma vida relativamente tranqüila em harmonia com o meio.
Além de exímios caçadores e pescadores, com grande
habilidade e muita destreza no arco e flecha , cultivavam plantações de mandioca, e feijão, batata, milho, entre
outros produtos de sua incipiente agricultura. Um pequeno pomar fazia parte das
suas plantações como goiabeiras, bananeiras e outras árvores frutíferas nativas.
Cultivavam ainda, o algodão e plantas fibrosas que serviam para confeccionar
muitos artefatos como: redes, cestos, utensílios que ainda hoje são de grande
utilidade aos caiçaras e pescadores.
Realmente a raça indígena, principalmente a
Tupinambá, sabia tirar o máximo proveito da terra, respeitando-a com veneração
e sentindo-a como parte de si. Até mesmo as majestosas árvores, enormes
embiruçus, guapuruvas ou cedros, os serviam na confecção daquilo que viria a
ser um grande instrumento para locomoção, as igaras. Canoas de lotação que carregavam até mais de 20
índios, meio de transporte mais rápido nos intercâmbios amistosos entre as
tribos regionais, facilitando a amizade, a boa vizinhança.
A raça dos índios Tupinambá tinha a fama de ser
guerreira, brava, feroz e antropófaga. Efetivamente, os Tupinambá eram grandes
e valentes guerreiros em defesa de sua gente e de seu habitat. As
circunstâncias em que viviam os tornavam mais preocupados com a manutenção e os
meios de sobrevivência. Por isso, suas tabas localizavam-se em pontos altos e
próximos as margens dos rios, permitindo a facilidade na defesa e não no
ataque, desmentindo assim tamanha ferocidade e canibalismo que lhe são
atribuídos[1].
Sendo assim, os Tupinambá estavam mais para o pacifismo do que para as lutas armadas,
guardavam consigo bons sentimentos como a generosidade e a nobreza.
Porém, os Tupinambá, na necessidade de auto defesa
ante um ataque inimigo que ameaçava a liberdade individual e coletiva, se mostravam destemidos e muito bravos com um
instinto de defesa muito aguçado nos combates e cruéis na vingança. Eles
chegavam a pressentir a aproximação do inimigo pelo faro, utilizavam-se de artimanhas marcando percursos na
mata , deixando galhos e ramos
quebrados para facilitar a sua volta. Quando saiam em marcha ou batiam em
retirada, caminhavam de costas a fim de enganar o inimigo a respeito da real
direção tomada.
Todos estes aspectos da raça
Tupinambá se cruzam nos relatos de viajantes e cronistas advindos ao amanhecer
de uma nação. São unânimes em descrever o caráter forte, aguerrido e resistente
destes indígenas que se ancoraram na idiossincrasia do povo brasileiro. Cabe
aqui destacar o papel importante de José de Anchieta que no exercício de seu
apostolado entre os índios da Aldeia de Iperoig nos traz um perfil completo e
sensível dos Tupinambá na sua escrita epistolar.
[1] Os Tupinambá tinham o canibalismo não como uma
forma ou necessidade de saciar a fome, mas sim como um ritual onde ao comerem
seus inimigos após capturá-los, estariam possuindo sua energia e sua força.
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