sexta-feira, 9 de setembro de 2011

LÁ VEM ESTÓRIA OU HISTORIA........O Jornalismo radiofônico e sua importancia em Ubatuba e no Brasil...





O jornalismo radiofônico foi historicamente condicionado pelas características do meio usado na veiculação das mensagens – rádio e pelas circunstâncias da recepção. O rádio passou por uma primeira fase da recepção pública – espaços públicos, coletividades e instituições, por uma segunda fase de recepção familiar – ouvia-se rádio em família – e por uma terceira fase de recepção individual – cada um ouve o que gosta no seu rádio. Certamente, estas questões situam a rádio como um meio de comunicação de massa significativo no âmbito social, sintonizado com as mudanças e valores da cultura contemporânea.



Vale lembrar um pouco da história do rádio para compreender os processos de produção, armazenagem e difusão que este meio alcança na nossa cultura e o desdobramento propiciado no município de Ubatuba. James Clerck Maxwell, professor de física experimental da Universidade de Cambridge – Inglaterra em 1863, demonstrou teoricamente a existência de ondas eletromagnéticas, com o aporte de Henrich Rudolph Hertz, em 1887, sobre a propagação radiofônica e a industrialização dos equipamentos se criou, a primeira Companhia de rádio, fundada em Londres, pelo cientista italiano Guglielmo Marconi, em 1896. Marconi demonstrou o funcionamento de aparelhos de emissão e recepção de sinais quando percebeu a importância comercial da telegrafia. Desta forma, 1919 é o ano que se inicia “a era do rádio”. As estações pioneiras de rádio não difundiam informação. Com a criação da primeira emissora profissional do mundo – a KDKA de Pitsburgh, nos Estados Unidos, as noticias passam a ter espaço próprio no rádio. Tal acontecimento teve lugar no dia 2 de novembro de 1920.

No Brasil, Edgard Roquete Pinto, considerado “o pai do rádio” era um antropólogo que demonstrou muito interesse pelos meios de comunicação social, em especial pelo rádio, na qual vislumbrou seu uso para a difusão da cultura popular. A primeira transmissão no Brasil foi em 1922, pela emissora Rádio Sociedade de Rio de Janeiro na comemoração do Centenário da Independência, realizada do alto do Corcovado, nessa ocasião, transmitindo o discurso do presidente Epitácio Pessoa. A saga do cientista e professor Roquete Pinto, revelou a singularidade do meio que trabalha com a linguagem sonora e dialoga com a era digital em tempo real.

Em São Paulo, a SQIG – Sociedade Rádio Educativa Paulista, fundada em 1923, ganhou o pioneirismo das emissoras junto com: a Rádio Clube São Paulo, a Rádio Cruzeiro do Sul – PRB - 6 e a Record que surgiu em 1931, esta emissora teve um papel importante na Revolução de 32. Em 1933, aparece a Rádio Cultura – PRE – 4, em 1934, a Rádio Kosmos – PRE – 7, também em 34, a Rádio Difusora São Paulo – PR – f 3 e a Rádio São Paulo – PRA – 5. Em 1937, a Rádio Tupi de São Paulo – PRG -2, se consagra como a mais poderosa emissora de rádio da capital do Estado de São Paulo.

A primeira estação de rádio de Ubatuba – Rádio Iperoig – AM. A Rádio Iperoig foi a primeira emissora de rádio de Ubatuba e, segundo informações fornecidas pelo radialista Clementino Soares, ubatubense, cooperador e locutor nos primeiros anos da rádio Iperoig, o surgimento da rádio se deu por volta do ano de 1957. Antonio Topedini Pagâno, engenheiro eletrônico e também funcionário da VASP - Viação Aérea São Paulo - recebeu a autorização para a implantação da rádio no Litoral Norte – Ubatuba e Caraguatatuba – o Sistema de Radiofônica em A.M. O próprio Topedini foi quem montou os dois transmissores e outros aparelhos para as rádios na oficina da própria VASP e, na mesma época são inauguradas as Estações de Rádio-difusão: Iperoig de Ubatuba e a Oceânica de Caraguatatuba.

A rádio Iperoig teve inicialmente as suas instalações, transmissores e a torre em um pequeno prédio no encontro da Avenida Rio Grande do Sul com a Rua Dona Maria Alves, centro da cidade de Ubatuba. O alcance das ondas médias de transmissão da rádio Iperoig, prefixo ZYR – 205, na freqüência de 1540 KHZ. Tinha apenas 75 wats de potência, um alcance de 50 km, percorrendo alguns bairros da cidade, mas com dificuldades de atingir a região sul do município, à região norte chegava com mais facilidade, alcançando até a praia Picinguaba.

O primeiro locutor e gerente da Rádio Iperoig foi Antonio Marques do Vale Filho, e seu auxiliar na locução José Luiz Soares, que mais tarde foi contratado para gerenciar a Rádio Oceânica de Caraguatatuba, deixando a vaga para Clementino Soares. Antonio Marques e Clementino Soares se revezavam nas locuções e nos programas de apresentação de calouros, em transmissões de sessões da Câmara Municipal e outros eventos transmitidos pela rádio. Logo, o estúdio da rádio transferiu-se para um novo endereço, na Rua Cel. Domiciano, no centro da cidade.

Nomes como Elza Costa Ferreira, Olga de Andrade, Ivone Vianna, Odair Rofino, Luiz Marques, Alcebíades Brasil Rofino, todos eles locutores que emprestaram sua voz a esta rádio, uma precursora que marcou o primeiro momento na história da imprensa oral ubatubense.

Existia uma enorme variedade na programação, por exemplo, nos dias de domingo, existia um programa, “Gente que Brilha”, que trazia calouros ao vivo, como “Maneco e seu Regional”, que era um dos mais ouvidos. Outros nomes como Jorge Fonseca, Filhinho Fragoso e o “Cacareco”, cantavam músicas de carnaval, samba-canção, serestas e outros tipos de músicas da época. A rádio costumava entrar no ar às 7 horas da manhã e durava até às 23 horas.

O Governador do Estado de São Paulo, o senhor Jânio da Silva Quadros, foi a primeira pessoa famosa a ser entrevistada na rádio, no ano de 1959. A entrevista ocorreu nas dependências da Pensão Aeroporto de propriedade de Dona Gení Viana.

Foram quase duas décadas de participação da Rádio Iperoig na história cívica ubatubense. Contudo, a trajetória da primeira rádio de Ubatuba finalizou por volta dos anos 1975/1976. Em seus últimos anos de vida, um locutor, José Benedito Rodrigues (JB), hoje locutor da Rádio Costa Azul, também nos forneceu algumas informações sobre o fechamento da rádio Iperoig. Segundo JB, em 1974 a rádio Iperoig estava arrendada pelo empresário de comunicações Douglas Melhen, que era sócio proprietário da rede de Piratininga de Rádio. A emissora de Ubatuba havia sido dirigida por Alfredo Breneizer, depois substituído pelo senhor Otávio Ceschi, que é pai do apresentador da Rede Bandeirantes de Televisão: Otávio Ceschi Júnior. Com a cassação da Rádio Piratininga pelo AI-5 - um Ato Institucional do governo federal da época, o arrendatário perdeu o interesse pelas afiliadas, abandonando completamente o contrato em vigor. Assim, o proprietário da Rádio Iperoig, o senhor Topedini Pagâno, não se interessou em retomar a direção da mesma, que já passava por sérios problemas de ordem financeira e documental. O pedido de renovação de autorização para o funcionamento da rádio junto ao Ministério das Comunicações não foi efetuado, levando a sua concessão a ser cassada por volta do ano de 1976.

Logo, no decorrer dos próximos 6 anos, um grupo de empresários da cidade de Ubatuba, interessados na manutenção de um veículo de comunicação para o município, foram à Brasília, no Ministério das Comunicações. Este grupo era formado por: José Benedito Rodrigues (JB), César Luís Fonseca, Elídio José Filho (Ditinho Jaty), Herculano Barros Pinto (Maestro). E, em Brasília, conversaram com o Dr. Domingos Chabaldi Poti, assessor especial do Ministro Euclides Quandt de Oliveira, que os orientou a oficializarem a sociedade e que entrassem com o pedido de Abertura de Concorrência Pública. Foi o que fizeram, entregando pessoalmente ao Ministro das Comunicações presente em Ubatuba, para a inauguração do sistema de DDD para o município. A partir daí outros grupos se formaram com a mesma idéia da concessão de uma rádio, nesta disputa saiu vencedor o grupo da Rádio Costa Azul, no ano de 1981 .

De acordo com informações dadas pelo senhor Ari Mattos, locutor da Rádio Costa Azul, desde a sua fundação, a segunda e atual emissora da cidade foi criada e fundada em 23 de fevereiro de 1981, por Benedito Góes Filho, Benedito Lourenço dos Santos, Dr. José Nélio de Carvalho e Celso Teixeira Leite. Sua primeira sede localizava-se no bairro da Praia Grande, Jardim Praia do Sol. Depois, mudou-se para o centro na Rua Dona Maria Alves, e a seguir para a Rua Dr. Esteves da Silva. Seu atual endereço fica no bairro do Itaguá, na Av. Bernardino Querido, 546. A torre de transmissão tem 73 metros de altura e continua no mesmo lugar da primeira instalação. No início, o alcance das ondas era de 1000 watts, hoje tem uma capacidade de 5000 watts pegando toda a região e algumas cidades do interior. A primeira equipe técnica foi constituída por: Idomíneo Soares Neto, Rinaldo Rofino, Vital Moreira, Felipe Monteiro, Isac Costa e Marco Antonio Jordão. Os locutores eram: Ary Mattos, Odair Rofino, Clodoaldo Natanael, Tadeu Gilberto Serpa, Luiz Alberto Serpa, Paulo Ribeiro, Nelson Delfino e Augusto César Guará.

A Rádio Costa Azul já completou 24 anos de vida, mantendo uma trajetória impecável na radiodifusão local, ao acompanhar mais de duas décadas de história e desenvolvimento da cidade de Ubatuba. Vão ao ar acontecimentos da vida cívica, política, econômica e cultural da cidade, levando a informação e a prestação de serviços à comunidade, mantendo aos ouvintes informados das últimas notícias. A rádio tem na sua programação diária, uma variedade de programas, entre eles: os de cunho jornalístico, esportivo, programas de música sertaneja, MPB e Gospel. Sua atual equipe é formada por: Ari Mattos, Darbelli Delline, Luiz Alberto Serpa, Ari de Mattos Neto, Vine Luiz, Anna Lúcia Monti Mariotto, Felipe Monteiro, Edvaldo Prado, Luiz Carlos Frade, Aleíne Rodrigues, José Benedito Rodrigues (JB) entre outros.

Houve também, com o passar dos anos, a entrada das rádios FMs, a primeira foi a Maré FM, com pelo menos 13 anos de existência. Seus fundadores e proprietários era Flávio Sherman, já falecido e Luiz de Gonzaga, mais conhecido como “Jim”, residente em São Paulo. Por um curto período esta rádio passou a retransmitir a programação da Rádio Jovem Pan FM, chamando-se Joven Pan de Ubatuba. Como não havia um retorno financeiro lucrativo nas propagandas para a matriz da Jovem Pan de São Paulo, o contrato foi cancelado. Em Janeiro de 2005, a Maré FM passou a chamar-se Beira Mar FM, o mesmo nome da rádio de São Sebastião, cujo dono também é Luiz Gonzaga. Esta rádio leva entretenimento a todos seus ouvintes, na faixa de estação de 101,5 MHz tocando durante as 24 horas vários tipos e ritmos de músicas nacionais, internacionais, também esta transmissora presta serviços à comunidade local.

Outra rádio FM é a Gaivota FM, uma rádio comunitária, reconhecida pela Anatel. Fundada no ano de 2002 por Mauro Lioberali, com o nome artístico de Mauro Lauro. A faixa de sintonia é a 104,9 MHz, com 25 wats de potência, localizada no Shopping Iperoig, no centro de Ubatuba. André Felipe de Camargo é o radialista responsável pelos vários tipos de música, nacionais e internacionais, MPB e Rock. A rádio também faz a prestação de serviço para a comunidade local.

A palavra rádio é derivada de radiodifusão ou radiofonia. A radiodifusão está relacionada com a transmissão pública de mensagens e sons à distância, por meio de ondas eletromagnéticas. A linguagem do rádio se constrói na base do som e do silêncio, entretanto, é o som, a matéria – prima com a qual a rádio arquiteta sua programação. Essas mensagens sonoras funcionam como estímulos auditivos. Neste sentido, a rádio transmite imagens da realidade, comunicando sensações, emoções, sentimentos e difunde informação (Sousa, 2004:342).

A evolução histórica do rádio encontrou na cidade de Ubatuba, um lugar propício para desenvolver-se, capitalizando como mídia os remanescentes de uma cultura, fundamentalmente oral. O sistema sonoro no qual a linguagem do rádio se estabelece em Ubatuba compreende elementos como: o uso da voz, a música e os efeitos sonoros. Quando estes elementos se combinam, perde-se a unidade conceitual, por isso o efeito sensorial baseado nos princípios do ritmo, da melodia e da harmonia (Santaella, 2001:97). A interação de tais elementos no sistema de rádio estabelece um novo conceito de linguagem radiofônica. Assim, a produção de significados para uma mensagem radiofônica depende do conjunto de elementos sonoros e do silêncio. Por esta razão, a estética radiofônica resulta de uma trama na combinação desses elementos sonoros e não na particularidade de cada um deles.

A voz que consagrou reconhecidas figuras da rádio, é um dos instrumentos preferências para a veiculação de mensagens em rádio. A linguagem verbal é polissêmica e a entoação de uma mensagem exerce diferentes funções: imperativa, submissa, irada e amorosa. As características físicas da voz: ritmo, intensidade, volume e tom contribuem para que o ouvinte atribua à mensagem um determinado sentido, fruto do processo de identificação: consigo mesmo ou com um outro. A voz, em última instância, tem o poder de aproximar ou de distanciar.

A linguagem musical também tem esse poder de provocar sensações, emoções e sentimentos, com a musica podem ser recriados ambientes físicos ou psicológicos, recorrendo à aprendizagem do receptor no sentido de promover uma correta decodificação das intenções do emissor.

Os meios de comunicação social promovem efeitos significativos na população. A rádio como veiculo que incentiva a audição de noticias, música e uma variedade de programas religiosos, educativos ou de entretenimento propõem à comunidade de Ubatuba, através de sua programação, uma série de mudanças nos modos de pensar, sentir e agir, de acordo com aquilo que está de moda e que responde aos padrões mais cosmopolitas de ser no mundo de hoje. Aqui visualizamos a influência da mídia nacional e internacional no âmbito restrito da mídia regional. Entretanto, existem honrosas exceções a esta regra nos tempos de globalização, a música é um deles, no livro Ubatuba nos Cantos das Praias – estudo do caiçara paulista e de sua produção musical de Kilza Setti (1985), nele encontra-se um aspecto importante que queremos destacar sobre a cultura caiçara, o cultivo da musica como fonte de preservação da cultura tradicional. A autora afirma que o caiçara tenta, ajustar-se ao que poderia ser o mínimo inevitável de civilização, procurando preservar o máximo possível, as formas tradicionais de equilíbrio. A audição de músicas estranhas a seu repertório não impedem a prática paralela do seu repertório tradicional. Ainda que esteja havendo uma progressiva adesão aos padrões impostos pela mídia – cultura urbana, nota-se - diz a autora – uma combinação desses com os padrões tradicionais de vida.

O rádio representa para a cultura de Ubatuba uma espécie de porta – voz da informação, na qual seus habitantes podem acompanhar o acontecer do mundo em tempo real, da música como expressão do saudosismo de caiçaras, quilombolas, migrantes e imigrantes que vieram a este lugar em busca de paz e progresso, do entretenimento e do lazer como alternativa ao desgaste do cotidiano e de civilidade no que se refere às práticas ritualísticas e urbanas na configuração de uma identidade autóctone que se vê refletida na voz deste meio cujo principal concorrente é a televisão.

FONTE :   Livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E  CULTURA
de Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguet....Ed. 2005

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