O jornalismo
radiofônico foi historicamente condicionado pelas características
do meio usado na veiculação das mensagens – rádio e pelas
circunstâncias da recepção. O rádio passou por uma primeira fase
da recepção pública – espaços públicos, coletividades e
instituições, por uma segunda fase de recepção familiar –
ouvia-se rádio em família – e por uma terceira fase de recepção
individual – cada um ouve o que gosta no seu rádio. Certamente,
estas questões situam a rádio como um meio de comunicação de
massa significativo no âmbito social, sintonizado com as mudanças e
valores da cultura contemporânea.
Vale lembrar
um pouco da história do rádio para compreender os processos de
produção, armazenagem e difusão que este meio alcança na nossa
cultura e o desdobramento propiciado no município de Ubatuba. James
Clerck Maxwell, professor de física experimental da Universidade de
Cambridge – Inglaterra em 1863, demonstrou teoricamente a
existência de ondas eletromagnéticas, com o aporte de Henrich
Rudolph Hertz, em 1887, sobre a propagação radiofônica e a
industrialização dos equipamentos se criou, a primeira Companhia de
rádio, fundada em Londres, pelo cientista italiano Guglielmo
Marconi, em 1896. Marconi demonstrou o funcionamento de aparelhos de
emissão e recepção de sinais quando percebeu a importância
comercial da telegrafia. Desta forma, 1919 é o ano que se inicia “a
era do rádio”. As estações pioneiras de rádio não difundiam
informação. Com a criação da primeira emissora profissional do
mundo – a KDKA de Pitsburgh, nos Estados Unidos, as noticias passam
a ter espaço próprio no rádio. Tal acontecimento teve lugar no dia
2 de novembro de 1920.
No Brasil,
Edgard Roquete Pinto, considerado “o pai do rádio” era um
antropólogo que demonstrou muito interesse pelos meios de
comunicação social, em especial pelo rádio, na qual vislumbrou seu
uso para a difusão da cultura popular. A primeira transmissão no
Brasil foi em 1922, pela emissora Rádio Sociedade de Rio de Janeiro
na comemoração do Centenário da Independência, realizada do alto
do Corcovado, nessa ocasião, transmitindo o discurso do presidente
Epitácio Pessoa. A saga do cientista e professor Roquete Pinto,
revelou a singularidade do meio que trabalha com a linguagem sonora e
dialoga com a era digital em tempo real.
Em São Paulo,
a SQIG – Sociedade Rádio Educativa Paulista, fundada em 1923,
ganhou o pioneirismo das emissoras junto com: a Rádio Clube São
Paulo, a Rádio Cruzeiro do Sul – PRB - 6 e a Record que surgiu em
1931, esta emissora teve um papel importante na Revolução de 32. Em
1933, aparece a Rádio Cultura – PRE – 4, em 1934, a Rádio
Kosmos – PRE – 7, também em 34, a Rádio Difusora São Paulo –
PR – f 3 e a Rádio São Paulo – PRA – 5. Em 1937, a Rádio
Tupi de São Paulo – PRG -2, se consagra como a mais poderosa
emissora de rádio da capital do Estado de São Paulo.
A primeira estação de rádio de
Ubatuba – Rádio Iperoig
– AM. A Rádio Iperoig
foi a primeira emissora de rádio de Ubatuba e, segundo informações
fornecidas pelo radialista Clementino Soares, ubatubense, cooperador
e locutor nos primeiros anos da rádio Iperoig, o surgimento da rádio
se deu por volta do ano de 1957. Antonio Topedini
Pagâno,
engenheiro eletrônico e
também funcionário da VASP - Viação Aérea São Paulo - recebeu a
autorização para a implantação da rádio no Litoral Norte –
Ubatuba e Caraguatatuba – o Sistema de Radiofônica em A.M. O
próprio Topedini foi quem montou os dois transmissores e outros
aparelhos para as rádios na oficina da própria VASP e, na mesma
época são inauguradas as Estações de Rádio-difusão: Iperoig de
Ubatuba e a Oceânica de Caraguatatuba.
A rádio Iperoig teve inicialmente
as suas instalações, transmissores e a torre em um pequeno prédio
no encontro da Avenida Rio Grande do Sul com a Rua Dona Maria Alves,
centro da cidade de Ubatuba. O alcance das ondas médias de
transmissão da rádio Iperoig, prefixo ZYR – 205, na freqüência
de 1540 KHZ. Tinha apenas 75 wats de potência,
um alcance de 50 km,
percorrendo alguns bairros da cidade, mas com dificuldades de atingir
a região sul do município,
à região norte chegava
com mais facilidade, alcançando até a praia Picinguaba.
O primeiro locutor e gerente da
Rádio Iperoig foi Antonio Marques do Vale Filho, e seu auxiliar na
locução José Luiz Soares, que mais tarde foi contratado para
gerenciar a Rádio Oceânica de Caraguatatuba, deixando a vaga para
Clementino Soares. Antonio Marques e Clementino Soares se revezavam
nas locuções e nos programas de apresentação de calouros, em
transmissões de sessões da Câmara Municipal e outros eventos
transmitidos pela rádio. Logo, o estúdio da rádio transferiu-se
para um novo endereço, na Rua Cel. Domiciano, no centro da cidade.
Nomes como Elza Costa Ferreira, Olga
de Andrade, Ivone Vianna, Odair Rofino, Luiz Marques, Alcebíades
Brasil Rofino, todos eles locutores que emprestaram sua voz a esta
rádio, uma precursora que marcou o primeiro momento na história da
imprensa oral ubatubense.
Existia uma enorme variedade na
programação, por exemplo, nos dias de domingo, existia um programa,
“Gente que Brilha”, que trazia calouros ao vivo, como “Maneco e
seu Regional”, que era um dos mais ouvidos. Outros nomes como Jorge
Fonseca, Filhinho Fragoso e o “Cacareco”, cantavam músicas de
carnaval, samba-canção, serestas e outros tipos de músicas da
época. A rádio costumava entrar no ar às 7 horas da manhã e
durava até às 23 horas.
O Governador do Estado de São
Paulo, o senhor Jânio da Silva Quadros, foi a primeira pessoa famosa
a ser entrevistada na rádio, no ano de 1959. A entrevista ocorreu
nas dependências da Pensão Aeroporto de propriedade de Dona Gení
Viana.
Foram quase duas décadas de
participação da Rádio Iperoig na história cívica ubatubense.
Contudo, a trajetória da primeira rádio de Ubatuba finalizou por
volta dos anos 1975/1976. Em seus últimos anos de vida, um locutor,
José Benedito Rodrigues (JB), hoje locutor da Rádio Costa Azul,
também nos forneceu algumas informações sobre o fechamento da
rádio Iperoig. Segundo JB, em 1974 a rádio Iperoig estava arrendada
pelo empresário de comunicações Douglas Melhen, que era sócio
proprietário da rede de Piratininga de Rádio. A emissora de Ubatuba
havia sido dirigida por Alfredo Breneizer, depois substituído pelo
senhor Otávio Ceschi, que é pai do apresentador da Rede
Bandeirantes de Televisão: Otávio Ceschi Júnior. Com a cassação
da Rádio Piratininga pelo AI-5 - um Ato Institucional do governo
federal da época, o arrendatário perdeu o interesse pelas
afiliadas, abandonando completamente o contrato em vigor. Assim, o
proprietário da Rádio Iperoig, o senhor Topedini Pagâno, não se
interessou em retomar a direção da mesma, que já passava por
sérios problemas de ordem financeira e documental. O pedido de
renovação de autorização para o funcionamento da rádio junto ao
Ministério das Comunicações não foi efetuado, levando a sua
concessão a ser cassada por volta do ano de 1976.
Logo, no decorrer dos próximos 6
anos, um grupo de empresários da cidade de Ubatuba, interessados na
manutenção de um veículo de comunicação para o município, foram
à Brasília, no Ministério das Comunicações. Este grupo era
formado por: José Benedito Rodrigues (JB), César Luís Fonseca,
Elídio José Filho (Ditinho Jaty), Herculano Barros Pinto (Maestro).
E, em Brasília, conversaram com o Dr. Domingos Chabaldi Poti,
assessor especial do Ministro Euclides Quandt de Oliveira, que os
orientou a oficializarem a sociedade e que entrassem com o pedido de
Abertura de Concorrência Pública. Foi o que fizeram, entregando
pessoalmente ao Ministro das Comunicações presente em Ubatuba, para
a inauguração do sistema de DDD para o município. A partir daí
outros grupos se formaram com a mesma idéia da concessão de uma
rádio, nesta disputa saiu vencedor o grupo da Rádio Costa Azul, no
ano de 1981 .
De acordo com informações dadas
pelo senhor Ari Mattos, locutor da Rádio
Costa Azul, desde a sua
fundação, a segunda e atual emissora da cidade foi criada e fundada
em 23 de fevereiro de 1981, por Benedito Góes Filho, Benedito
Lourenço dos Santos, Dr. José Nélio de Carvalho e Celso Teixeira
Leite. Sua primeira sede localizava-se no bairro da Praia Grande,
Jardim Praia do Sol. Depois, mudou-se para o centro na Rua Dona Maria
Alves, e a seguir para a Rua Dr. Esteves da Silva. Seu atual endereço
fica no bairro do Itaguá, na Av. Bernardino Querido, 546. A torre de
transmissão tem 73 metros de altura e continua no mesmo lugar da
primeira instalação. No início, o alcance das ondas era de 1000
watts, hoje tem uma capacidade de 5000 watts pegando toda a região e
algumas cidades do interior. A primeira equipe técnica foi
constituída por: Idomíneo Soares Neto, Rinaldo Rofino, Vital
Moreira, Felipe Monteiro, Isac Costa e Marco Antonio Jordão. Os
locutores eram: Ary Mattos, Odair Rofino, Clodoaldo Natanael, Tadeu
Gilberto Serpa, Luiz Alberto Serpa, Paulo Ribeiro, Nelson Delfino e
Augusto César Guará.
A Rádio Costa Azul já completou 24
anos de vida, mantendo uma trajetória impecável na radiodifusão
local, ao acompanhar mais de duas décadas de história e
desenvolvimento da cidade de Ubatuba. Vão ao ar acontecimentos da
vida cívica, política, econômica e cultural da cidade, levando a
informação e a prestação de serviços à comunidade, mantendo aos
ouvintes informados das últimas notícias. A rádio tem na sua
programação diária, uma variedade de programas, entre eles: os de
cunho jornalístico, esportivo, programas de música sertaneja, MPB e
Gospel. Sua atual equipe é formada por: Ari Mattos, Darbelli
Delline, Luiz Alberto Serpa, Ari de Mattos Neto, Vine Luiz, Anna
Lúcia Monti Mariotto, Felipe Monteiro, Edvaldo Prado, Luiz Carlos
Frade, Aleíne Rodrigues, José Benedito Rodrigues (JB) entre outros.
Houve também, com o passar dos
anos, a entrada das rádios FMs, a primeira foi a Maré
FM, com pelo menos 13
anos de existência. Seus fundadores e proprietários era Flávio
Sherman, já falecido e Luiz de Gonzaga, mais conhecido como “Jim”,
residente em São Paulo. Por um curto período esta rádio passou a
retransmitir a programação da Rádio Jovem Pan FM, chamando-se
Joven Pan de Ubatuba. Como não havia um retorno financeiro lucrativo
nas propagandas para a matriz da Jovem Pan de São Paulo, o contrato
foi cancelado. Em Janeiro de 2005, a Maré FM passou a chamar-se
Beira Mar FM, o mesmo nome da rádio de São Sebastião, cujo dono
também é Luiz Gonzaga. Esta rádio leva entretenimento a todos seus
ouvintes, na faixa de estação de 101,5 MHz tocando durante as 24
horas vários tipos e ritmos de músicas nacionais, internacionais,
também esta transmissora presta serviços à comunidade local.
Outra rádio FM é a Gaivota
FM, uma rádio
comunitária, reconhecida pela Anatel. Fundada no ano de 2002 por
Mauro Lioberali, com o nome artístico de Mauro Lauro. A faixa de
sintonia é a 104,9 MHz, com 25 wats de potência, localizada no
Shopping Iperoig, no centro de Ubatuba. André Felipe de Camargo é o
radialista responsável pelos vários tipos de música, nacionais e
internacionais, MPB e Rock. A rádio também faz a prestação de
serviço para a comunidade local.
A palavra rádio é derivada de
radiodifusão ou radiofonia. A radiodifusão está relacionada com a
transmissão pública de mensagens e sons à distância, por meio de
ondas eletromagnéticas. A linguagem do rádio se constrói na base
do som e do silêncio, entretanto, é o som, a matéria – prima com
a qual a rádio arquiteta sua programação. Essas mensagens sonoras
funcionam como estímulos auditivos. Neste sentido, a rádio
transmite imagens da realidade, comunicando sensações, emoções,
sentimentos e difunde informação (Sousa, 2004:342).
A evolução histórica do rádio
encontrou na cidade de Ubatuba, um lugar propício para
desenvolver-se, capitalizando como mídia os remanescentes de uma
cultura, fundamentalmente oral. O sistema sonoro no qual a linguagem
do rádio se estabelece em Ubatuba compreende elementos como: o uso
da voz, a música e os efeitos sonoros. Quando estes elementos se
combinam, perde-se a unidade conceitual, por isso o efeito sensorial
baseado nos princípios do ritmo, da melodia e da harmonia
(Santaella, 2001:97). A interação de tais elementos no sistema de
rádio estabelece um novo conceito de linguagem radiofônica. Assim,
a produção de significados para uma mensagem radiofônica depende
do conjunto de elementos sonoros e do silêncio. Por esta razão, a
estética radiofônica resulta de uma trama na combinação desses
elementos sonoros e não na particularidade de cada um deles.
A voz que consagrou reconhecidas
figuras da rádio, é um dos instrumentos preferências para a
veiculação de mensagens em rádio. A linguagem verbal é
polissêmica e a entoação de uma mensagem exerce diferentes
funções: imperativa, submissa, irada e amorosa. As características
físicas da voz: ritmo, intensidade, volume e tom contribuem para que
o ouvinte atribua à mensagem um determinado sentido, fruto do
processo de identificação: consigo mesmo ou com um outro. A voz, em
última instância, tem o poder de aproximar ou de distanciar.
A linguagem musical também tem esse
poder de provocar sensações, emoções e sentimentos, com a musica
podem ser recriados ambientes físicos ou psicológicos, recorrendo à
aprendizagem do receptor no sentido de promover uma correta
decodificação das intenções do emissor.
Os meios de comunicação social
promovem efeitos significativos na população. A rádio como veiculo
que incentiva a audição de noticias, música e uma variedade de
programas religiosos, educativos ou de entretenimento propõem à
comunidade de Ubatuba, através de sua programação, uma série de
mudanças nos modos de pensar, sentir e agir, de acordo com aquilo
que está de moda e que responde aos padrões mais cosmopolitas de
ser no mundo de hoje. Aqui visualizamos a influência da mídia
nacional e internacional no âmbito restrito da mídia regional.
Entretanto, existem honrosas exceções a esta regra nos tempos de
globalização, a música é um deles, no livro Ubatuba
nos Cantos das Praias – estudo do caiçara paulista e de sua
produção musical de
Kilza Setti (1985), nele encontra-se um aspecto importante que
queremos destacar sobre a cultura caiçara, o cultivo da musica como
fonte de preservação da cultura tradicional. A autora afirma que o
caiçara tenta, ajustar-se ao que poderia ser o mínimo inevitável
de civilização, procurando preservar o máximo possível, as formas
tradicionais de equilíbrio. A audição de músicas estranhas a seu
repertório não impedem a prática paralela do seu repertório
tradicional. Ainda que esteja havendo uma progressiva adesão aos
padrões impostos pela mídia – cultura urbana, nota-se - diz a
autora – uma combinação desses com os padrões tradicionais de
vida.
O rádio representa para a cultura
de Ubatuba uma espécie de porta – voz da informação, na qual
seus habitantes podem acompanhar o acontecer do mundo em tempo real,
da música como expressão do saudosismo de caiçaras, quilombolas,
migrantes e imigrantes que vieram a este lugar em busca de paz e
progresso, do entretenimento e do lazer como alternativa ao desgaste
do cotidiano e de civilidade no que se refere às práticas
ritualísticas e urbanas na configuração de uma identidade
autóctone que se vê refletida na voz deste meio cujo principal
concorrente é a televisão.
FONTE : Livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA
de Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguet....Ed. 2005
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