Antonio Cruz de Amorim
(1919 - 2006)
(1919 - 2006)
- Seu Antonio será que a gente pode conversar?
- Entrais filho, sentais aí, vô desligá a televisão... Do que a gente vai falar? Era assim que seu Antonio começava os assuntos. Foi um dos homens mais atualizados da sua geração. Seus amigos dizem que na falta de coisas para ler, lia até bula de remédios.
Homem de presença, tanto pela estatura quanto pela memória fotográfica de tudo ele “assuntava”. Política, gastronomia, geografia, história, futebol, atualidades... Tudo podia ser discutido de forma serena, calma e produtiva.
De voz calma, lia de tudo, e tudo discutia. Gostava de estar informado. Suas observações eram sempre atualizadas. Tinha opinião sobre vários temas. Dono de uma caligrafia invejável, só comparada a de seu amigo Benedito Gil do Araribá.
Em seus últimos dias ficava na varanda de casa observando o vai e vem de moradores e crianças que iam para a escola. Quem passava não tinha a menor idéia de quem foi este homem. Por vezes parecia que as lembranças do passado o deixavam imóvel na sua poltrona. Que será que ele recordava?
Antonio Cruz de Amorim nasceu no antigo sertão da Fazenda Maranduba, no terceiro dia de maio de 1919. Uma criança branca e forte, filho caçula de oito irmãos, fruto do matrimônio de Joaquim Antonio de Amorim e Francisca Eufrosina de Jesus, proprietários dos Sitio das Piabas, no bairro do Araribá, as margens do rio de mesmo nome.
Como todas as famílias da região, viviam da agricultura, da pesca, da caça e da coleta de frutos e ervas da mata. O sitio possuía uma grande produção de cana, que abastecia a alambique tocada a água. Possuía animais de criação, mandioca, batata doce, café, laranja, banana e milho em quantidade. Grande parte era para o sustento da família, de seus empregados e para a venda nas cidades de Ubatuba e Caraguatatuba.
Seu pai possuía a maior rede de tainhas e de fundo da região. Não era raro a captura de 800 a 1000 tainhas com a rede. Mesmo quem não tinha dinheiro levava tainhas para casa. Até os “rosários” de cabeças de tainhas eram aproveitados. Mulheres eram contratadas ou se faziam de meeiros para a seca de tainhas, eram pilhas enormes de peixes. Havia fartura e não tinha “ridiqueza” (mesquinhez).
Antonio tudo aprendia e acompanhava. Tinha uma facilidade de absorver o que acontecia em seu entorno. Ainda jovem, casou-se com Virgilina Izaias de Amorim e deste matrimônio nasceram onze filhos: Adelson, Maria Aparecida, Jacira, Bernadete, Ivanil, Marlene, Antonio, Maria de Fátima e Rizete, ainda vivos e os falecidos: Expedito e Vicente.
Com o intuito de buscar melhorias a sua família, mudou se para o Monte Cabrão e Itapema, na região de Santos. Lá não se adaptou, mas Antonio teve maior contato com os homens do mar, conheceu outras estruturas e coisas que não havia chegado a Ubatuba.
Antonio foi o único a navegar para Santos nos barcos que faziam o transporte motorizado de mercadorias e pessoal. Eram os barcos: Astúrias, Valencia (Cia. Inglesa), São Paulo e Ubatubinha. Eram viagens de quatro dias. O trajeto era: Maranduba-São Sebastião–Maresias-Bertioga-Santos. Levavam 400 dúzias de bananas e 200 pessoas por vez. Os passageiros dormiam no barco ou em ilhas. O mesmo trajeto a pé demorava seis dias. Na vinda enfrentou dificuldades, mas venceu.
Foi por curto período Inspetor de Quarteirão da região. Antonio era primo do Sr. Manoel Bernardo de Amorim, prefeito de Ubatuba até 1922, dono da Fazenda da Ressaca até 1932. Muitos ainda viram as acaloradas conversas com Washington de Oliveira, ”Seu Filhinho” (ex-prefeito, ex-presidente da Câmara, farmacêutico e escritor), com quem mantinha laços estreitos, principalmente por conta das discussões políticas, locais, regionais e nacional.
Portador de uma fé verdadeira dedicou parte de sua vida ao Lar Vicentino e ao Congregado Mariano, onde escreveu as primeiras atas existentes no bairro. Foi colunista e consultor do Jornal Maranduba (1993/1996) escrevendo sobre história, cultura e a formação genealógica da população da região. Trabalhou para o Sr. Joaquim da Silva Magalhães por 10 anos. Morou em área da Imobiliária Jequitibá.
Homem tranqüilo, amigo de todos, bom pai, bom filho, bom avô, bom companheiro e bom amigo. Sua partida deixou muita gente triste. Sua clareza de pensamento e informação era sua marca registrada. Seus ensinamentos transcenderam os valores dos ensinamentos da época. Seu etnoconhecimento tinha um valor inestimável.
Sua vida não foi só trabalho, havia muitos momentos de descontração. Antonio ainda participava de festas, com os amigos roubavam patos na sexta-feira da paixão e convidavam o dono do pato para comer, depois eles pagavam o pato. Gostava de piadas, participava de mutirões, tirava sarro dos amigos.
Em meados de 1940, com a vinda de muitos religiosos, ele e João Rosa receberam a mensagem do Padre Alemão João Bail, que teriam de buscar na Praia da Maranduba uma encomenda. Lá viram uma caixa aberta nas laterais descer da canoa de voga que vinha de São Sebastião. Como havia muitos homens, fizeram uma espécie de “andor” e levaram a caixa pela trilha da praia até a casa de João Rosa. Havia um envelope e a única pessoa que sabia ler era Antonio Amorim. Tinha um desenho de como colocar a peça no chão. Só que o papel do desenho não mostrava os lados, cima ou baixo, ou ainda as laterais.
Bom! Preparam o local e instalaram a peça. Na carta dizia como utilizar a peça instalada. Alguns se arriscaram, porém, reclamaram muito. Outros desaprovaram totalmente. Antonio então escreveu ao padre para que viesse logo e explicasse a todos que “troço” era aquele, que machucava quem usava e que na realidade não tinha serventia para nada. O padre chegou e ao ver a peça instalada riu muito. A peça era a primeira bacia de privada da região e o desenho não informava que lado era para cima, então quem sentava na bacia reclamava, já que ela estava colocada de cabeça para baixo. Sorte que Antonio resolveu escrever ao padre, senão o que ia ser da bacia? Depois de reinstalada, agora corretamente, todos se puseram a rir e por muito tempo virou motivo de risos e piadas.
Antonio tinha alguns amigos catarinenses: Tadeu, Atílio, Toninho, Agostinho e Pascoal. Certa vez compravam uma novilha do Zé Antunes e fizeram, depois de muito trabalho, um cercado todo caprichado para tirar leite. Perceberam que depois da ordenha, a vaca seguia em direção ao morro e entreva na mata. Lá viram duas crianças, que com uma penca de bananas, conseguiam tirar leite da vaca sem problemas, o que oito homens suavam para realizar com sucesso. Um olhou para a cara do outro e começaram a rir, do tipo: Que vergonha! Muitas outras situações engraçadas vivenciou.
Antonio considerava muito os seus amigos. Nos últimos tempos de vida falava muito de Manoel Hilário do Prado, do Sertão do Ingá. Antonio Amorim, como carinhosamente era chamado, nos deixou no primeiro dia de julho de 2006.
Em sua homenagem, a estrada que leva moradores e amigos do Sertão até a Maranduba, começando próximo ao Morro do Foge, leva o seu nome. Nome este sinônimo de tanta coisa, mas que pode ser resumido em algumas palavras: amor, carinho e dedicação, Assim é o protagonista desta real história. Muito obrigado Tio Antonio.
Foi por curto período Inspetor de Quarteirão da região. Antonio era primo do Sr. Manoel Bernardo de Amorim, prefeito de Ubatuba até 1922, dono da Fazenda da Ressaca até 1932. Muitos ainda viram as acaloradas conversas com Washington de Oliveira, ”Seu Filhinho” (ex-prefeito, ex-presidente da Câmara, farmacêutico e escritor), com quem mantinha laços estreitos, principalmente por conta das discussões políticas, locais, regionais e nacional.
Portador de uma fé verdadeira dedicou parte de sua vida ao Lar Vicentino e ao Congregado Mariano, onde escreveu as primeiras atas existentes no bairro. Foi colunista e consultor do Jornal Maranduba (1993/1996) escrevendo sobre história, cultura e a formação genealógica da população da região. Trabalhou para o Sr. Joaquim da Silva Magalhães por 10 anos. Morou em área da Imobiliária Jequitibá.
Homem tranqüilo, amigo de todos, bom pai, bom filho, bom avô, bom companheiro e bom amigo. Sua partida deixou muita gente triste. Sua clareza de pensamento e informação era sua marca registrada. Seus ensinamentos transcenderam os valores dos ensinamentos da época. Seu etnoconhecimento tinha um valor inestimável.
Sua vida não foi só trabalho, havia muitos momentos de descontração. Antonio ainda participava de festas, com os amigos roubavam patos na sexta-feira da paixão e convidavam o dono do pato para comer, depois eles pagavam o pato. Gostava de piadas, participava de mutirões, tirava sarro dos amigos.
Em meados de 1940, com a vinda de muitos religiosos, ele e João Rosa receberam a mensagem do Padre Alemão João Bail, que teriam de buscar na Praia da Maranduba uma encomenda. Lá viram uma caixa aberta nas laterais descer da canoa de voga que vinha de São Sebastião. Como havia muitos homens, fizeram uma espécie de “andor” e levaram a caixa pela trilha da praia até a casa de João Rosa. Havia um envelope e a única pessoa que sabia ler era Antonio Amorim. Tinha um desenho de como colocar a peça no chão. Só que o papel do desenho não mostrava os lados, cima ou baixo, ou ainda as laterais.
Bom! Preparam o local e instalaram a peça. Na carta dizia como utilizar a peça instalada. Alguns se arriscaram, porém, reclamaram muito. Outros desaprovaram totalmente. Antonio então escreveu ao padre para que viesse logo e explicasse a todos que “troço” era aquele, que machucava quem usava e que na realidade não tinha serventia para nada. O padre chegou e ao ver a peça instalada riu muito. A peça era a primeira bacia de privada da região e o desenho não informava que lado era para cima, então quem sentava na bacia reclamava, já que ela estava colocada de cabeça para baixo. Sorte que Antonio resolveu escrever ao padre, senão o que ia ser da bacia? Depois de reinstalada, agora corretamente, todos se puseram a rir e por muito tempo virou motivo de risos e piadas.
Antonio tinha alguns amigos catarinenses: Tadeu, Atílio, Toninho, Agostinho e Pascoal. Certa vez compravam uma novilha do Zé Antunes e fizeram, depois de muito trabalho, um cercado todo caprichado para tirar leite. Perceberam que depois da ordenha, a vaca seguia em direção ao morro e entreva na mata. Lá viram duas crianças, que com uma penca de bananas, conseguiam tirar leite da vaca sem problemas, o que oito homens suavam para realizar com sucesso. Um olhou para a cara do outro e começaram a rir, do tipo: Que vergonha! Muitas outras situações engraçadas vivenciou.
Antonio considerava muito os seus amigos. Nos últimos tempos de vida falava muito de Manoel Hilário do Prado, do Sertão do Ingá. Antonio Amorim, como carinhosamente era chamado, nos deixou no primeiro dia de julho de 2006.
Em sua homenagem, a estrada que leva moradores e amigos do Sertão até a Maranduba, começando próximo ao Morro do Foge, leva o seu nome. Nome este sinônimo de tanta coisa, mas que pode ser resumido em algumas palavras: amor, carinho e dedicação, Assim é o protagonista desta real história. Muito obrigado Tio Antonio.
EZEQUIEL DOS SANTOS
www.maranduba.com.br
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