O meu tataravô paterno chamava-se Antônio Domingues Velloso, imigrante da cidade Braga, norte de Portugal. Eram três irmãos: um ficou na Bahia, o outro foi para Rio de Janeiro, e o meu tataravô para São Paulo. Depois, veio para Ubatuba nos primórdios da fundação, e adquiriu uma área de terras no canto sul da praia Grande (Sítio Praia Grande), com 216 braças de frente para terrenos de marinha.
Sendo proprietário de várias canoas de pesca, e mais 12 canoas de voga, que transportava para a cidade de Santos, tudo o que produzia no Sítio, além de peixe seco, farinha, café e madeira (caxeta) para a fabricação de tamanco, lápis, e caixas para embalagem de frutas, principalmente bananas para exportação.
Alguns anos depois, em 1859, vendeu 50 braças do Sítio e mais tarde vendeu outras 83 braças. Em virtude da abertura da sucessão ocorrida em 1867 com a morte dele, o seu filho, Antonio Francisco de Paula Velloso meu (bisavô), que além dos direitos hereditários que lhe couberam, adquiriu as partes de seus irmãos. Em 1881, morre meu bisavô (náufrago), e dias depois, em 25 de março do mesmo ano, nasceu seu primeiro e único filho - Francisco de Paula Velloso (meu avô), herdando as 83 braças restantes da primitiva área.
Outro dia, conversava com o meu primo Amaury, residente na cidade de Caraguatatuba, filho do meu tio Clovis de Paula Velloso, que foi considerado pelos caiçaras o Número 1 da Comédia do antigo Teatro de Ubatuba (esquecido). A saga trágica que marcou a família Velloso: venda total do Sítio Praia Grande, morte do meu pai aos 39 anos de idade, naufrágio fatal para meu bisavô e outras.
O naufrágio
Meu tataravô, Antonio Domingues Velloso, para tomar posse daquelas terras expulsou alguns índios, que se reuniam ali devido à boa água, caça e pesca em abundância, frente para o mar e a costeira.
Depois de expulsos os indígenas, e com a mão-de-obra escrava, formou o Sítio, que ia de vento em popa. Tudo o que produzia era exportado para Santos em suas enormes canoas de voga. Após uma pescaria, os peixes foram amontoados na praia para a separação, nesse momento, o filho de uma escrava, roubou-lhe o maior peixe e levou para casa. Foi denunciado pelos pescadores ao capataz, que comunicou ao patrão. O jovem escravo foi imediatamente e severamente punido. Mandou chamar a mãe e, amarrando-a no tronco no meio do terreiro, disse para o filho:
- Esse é o seu castigo, vai chicoteá-la até que eu mande parar.
Após alguns minutos, a escrava exaurida e amparada pelo filho, com a voz trêmula e entrecortada disse:
- Na próxima viagem do comboio das 12 vogas para Santos, uma tempestade na costa de São Sebastião, no local chamado "Costão do Navio", vai levar a pique todas as vogas e ele não vai ver o filho nascer.
Quanto à expulsão dos índios, faz parte da história. O naufrágio realmente aconteceu e teve um único sobrevivente, o escravo Lindolfo, era o homem de confiança, que relatou o fato a família:
- O patrão morreu, porque ficou preso pelas pernas nas cordas das velas, e os demais não sabiam nadar.
Foi maldição da escrava? Como eu não acredito nisso, fico com a coincidência.
Por volta de 1960, ainda existia uma capelinha na praia, entre a vegetação do jundu e o acostamento da rodovia. Esta é a oportunidade para resgatá-los. Para aqueles que se dizem preocupados com a perda da cultura e identidade do povo caiçara, principalmente o prefeito. Um povo sem memória é um povo sem futuro.
Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado II.
Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail parathecaliforniakid61@hotmail.com.
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