Capítulo III
A CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA
NA SERRA DO MAR
A construção de uma cultura se dá
no cerne de uma sociedade e o meio para alcançar este desafio do
tempo é a memória. A memória fala das raízes, daquilo que nos
liga às coisas e aos lugares, à natureza e à cidade. Recuperar o
vigor do tempo devolve ao espaço o esplendor, a força e o sentido.
Assim, nos interessa como já pontuamos no início desta obra,
desenvolver uma fenomenologia do espaço imaginário - contido na
memória viva da comunidade local - que se une à consciência atual
dos habitantes de Ubatuba, cidade situada na serra do mar.
O imaginário é, construído e
expresso por meio de símbolos. Desta forma, a imagem de Ubatuba se
constitui em representação de uma idéia mental traduzida em
imagens, palavras ou conceitos de uma realidade exterior. A
experiência de percepção do espaço ubatubense nos fez passear
pelos atrativos naturais e culturais que fazem desta cidade um
destino turístico, mas a verdadeira redescoberta baseia-se no valor
da memória Tupinambá inscrita na terra dos Tamoios, cativeiro de
Nóbrega e Anchieta e o lugar de Paz da outrora Iperoig.
Ação e representação estão
ligadas ao imaginário cultural de Ubatuba, apesar da carência de
registros escritos, a memória caiçara tem um papel preponderante na
hora de reconstruir os alicerces desta cultura litorânea tão
importante para a história do Brasil. Eclea Bosi, no seu livro,
Memória e Sociedade
(2001), cita Henri Bergson: “O corpo, interposto entre objetos que
agem sobre ele e os que ele influencia, não é mais que condutor,
encarregado de recolher os movimentos e de transmiti-los, quando não
os detém, a certos mecanismos motores, determinados se a ação é
reflexa, escolhidos se a ação é voluntária” (Bergson, 1959 apud
Bosi, 2001:45). A autora nos oferece uma reflexão relevante do ponto
de vista da produção de conhecimento, parafraseando Bergson, diz
que a percepção dispõe do espaço na exata proporção em que a
ação dispõe do tempo. Este talvez seja o paradigma que justifica
nosso último capítulo. O corpo neste contexto tem dupla
significação, refere-se ao corpo material e objetivo do indivíduo,
assim como também ao corpo imaginário e subjetivo encarnado em uma
sociedade.
Toda história depende – como diz
Paul Thomson – de sua finalidade social (Thomson, 1998:20). Por
esta razão, a transmissão cobrava um papel importante e era feita
de geração em geração, pela tradição oral ou pela crônica
escrita como mencionamos na introdução ao capítulo da antropologia
cultural. A função social da história de uma comunidade como
Ubatuba compromete mais do que o conhecimento, o reconhecimento do
potencial cultural da região. Por meio da história local, a cidade
de Ubatuba pode buscar um sentido para sua própria natureza
turística ou pesqueira, promovendo mudanças e fazendo com que
turistas e visitantes possam adquirir uma percepção das raízes
através do conhecimento da cultura local.
O interesse em reconstruir a memória
social de Ubatuba, no decorrer de sua vida cívica, nas
representações da mídia, na voz dos “filhos da terra” e na
daqueles que, de uma ou outra forma, fixaram seu olhar sobre a
cidade, constitui um desafio à pesquisa e à produção de
conhecimento. Para tanto, nos empenhamos em compilar dados históricos
em fontes primárias, documentos oficiais que colocam Ubatuba no
cenário nacional brasileiro. Indagamos sobre os meios de comunicação
social e a imagem que estes veiculam, usando a cidade como cenário
de obras televisivas e cinematográficas, assim como também sondamos
o desenvolvimento da imprensa e rádio local. Mas, o momento crucial
serão as entrevistas feitas a historiadores, artistas, velhos,
mulheres , negros e caiçaras que neste livro têm a última palavra,
pela força da paixão revelada no relato de suas histórias e
estórias de Ubatuba.
FONTE : Livro UBATUBA, ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA
Editado em 2005 -
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