A entrevista realizada no Camburi nos permitiu, graças à ajuda de Claudia de Oliveira, observar com atenção as variantes da língua caiçara em uma transcrição quase literal do relato do entrevistado ante nossas perguntas.
Todo mundo criava, um criava dez, otro criava 20, otro criava 30 cabeça de porco, né. Ai, meu pai tinha 25, 30. Então, quando foi uma época, meu pai disse ansi. Tinha dois bem gordo, e ele achava que era muito pra mata pra família. Ai eu me lembro como se fosse onti né. Um dia meu pai disse ansi: -Meu filho ocê vai no vizinho, na vizinhança, onde mora seus tio e oferece quem interessa em compra uns quilo de carne de porco, eu quero mata ele, mas acho que é muita carne pra família, ele ta muito gordo, muito cevado. Ai eu sai de manhã, tomei o café em casa e vim pela vizinhança, que tinha muita gente. Ai eu comecei a chega na casa dum, na casa de outro e oferece.
Sabe o que ele dizia ansi: Meu filho vem cá, o sofrimento que o seu pai ta sofrendo por não acha quem compre. Ai eu ia no chiquerão, no manguerão do porco, aonde tinha, tinha dois também, causo que todo mundo daquele lugar que o sinhô vê hoje, todo mundo criava, então não tinha preço. Agora digo para o sinhô essa criação o sinhô não sai no comercio para compra ração para o animal, então era criado com a alimentação da roça, que era a alimentação dos porco, então numa sumana era alimentado os porco com batata doce, otra sumana com abóbora cuzida com um poquinho de sal, minha mãe lembro bem, minha mãe cuzinhava aquele tachão, né, de abóbora todo cortado, todo picado, dexava esfria pra da aos animal, ai comia os porco, comia as galinha, comia os pato, comia os marreco, todos junto, tudo comia junto. Otra sumana era mandioca cozida. Esta mandioca que já comemo frita, então a gente ia na roça trazia dois, três saco de mandioca. Minha mãe mandava minhas irmã descasca, cortava tudo de pedaço, cuzinhava, colocava um poquinho de sal pra dexava esfria pra da pros animal. Então o sinhô sabe tinha uma soma de uma mistura da alimentação. Era a abóbora, era o inhame, era a taioba, era as banana madura. O sinhô sabe que a mistura é a vitamina melho pra criança e a criação de galinha é a banana madura. A banana madura é acima do milho para ela bota os ovo, desmancha de bota os ovo. Então, cosa que o sinhô não hoje aqui no Camburi.
Naquele tempo passado... Então ela usava, a mãe da criança a tisoura na cabeceira da cama fincada pra que a bruxa não visse o pobre imbigo da criança, isso eu ouvi fala muitas veis.
O que eu falo aqui pro sinhô, não ixisti, agora o eu ixistia no passado era satanás, era o diabo, ele fazia toda a visão e aparecia em forma de que? Em forma de um cavalo, dum cachorro grande pintado, em forma dum animal, não é! Então a turma olhava ansi, era um lobisome, ai botava o nome ansi de lobosime, mas tudo aquela figura. Hoje se contava que na praia, toda sexta-feira, já ouviu fala muito isso, se encontrava duas cabeça, uma batendo na outra fazendo aquela faísca de fogo, as vezes o viajado, pescadô contavom que tavam umas hora no mar, contavom. Otro que ia viajando duas pessoa pelo canto da praia, purque o sinhô sabe que naquele tempo não tinha estrada, saia no canto da praia. Então por muitas veis a pessoa desviava daquele dois encontro, né. Então dizia: _ Ah! Mula sem cabeça! Agora eu digo pro sinhô, sabe pruque que eu so contra estas coisa que to contando pro sinhô pruque muito me contavom, eu num vi isto não sinhô; eu vi otras cosas, otras cosas eu vo fala pro sinhô eu vi. Agora sabe que eu vo dize pro sinhô, que eu não desacredito, porque o livro sagrado, a palavra de Deus, a bíblia sagrada, que conta do começo do mundo, como foi a criação que seu Jesus, né, veio neste mundo, crio, o céu, a terra a forma das arvi e deu nóis aqui na face da terra. Então o sinhô não incontra lobisome, não encontra cavalo sem cabeça, não encontra bruxa, no livro sagrado, de tudo o sinhô encontra, menos isto. Agora satanás, o sinhô encontra. Agora fantasma, fantasma ta no livro, agora quero dize pro sinhô, satanás como esta relatado, ele fazia toda esta parte pra dize que era bruxa, que era cavalo sem cabeça, pruque não esta iscrito hoje isso, o sinhô não incontra nunca.
Já ta passado, já ta com dois ano isto. Que neste horário de verão que entro agora, eu venho de Ubatuba, eu saio de Ubatuba 5h, no ônibus de 5h40 de lá pra cá, não é, que a pessoa chega de dia ainda aqui. Ai eu fui no ponto, na divisa lá em cima e vinha discendo, ai eu vinha com duas sacola, uma sacola aqui, ota aqui. E eu não desço no ponto daquele dali pruque da cobra, pruque do cachorro, nunca desço, quando vo viajá, escondo no mato na hora que eu venho eu pego. Ai o sinhô sabe que eu vinha vindo, quando eu chego aqui, já na viaje pra pega o Camburi descendo, aonde tem uma fabricação da compania dus Ingreis, tava descendo fui peguei uma laje de pedra ali, a laje de cimento, que tem ali no rio, na beira de cima, mas quando eu cheguei na tal da pedra do colete, que agora não tem mais, o mar que tombou a pedra, o nome era pedra do colete, muito bem. E eu avistei uma pessoa que ia daqui para cima na estradazinha assubindo, e tem uma pedra grande de quaguata de mangue aqui encostado, o sinhô descendo a direita, né. Ai eu olhei lá de cima, era o meu sobrinho o Zorinho, ali dono do barzinho ali, aonde tivemo, onde o sinhô falo comigo ali. Só que chego numa conta, ele foi se encostando, aquela pessoa foi encostando nesta pedra grande, encosto e ali desapareceu. Ai eu disse ansi: _ Que negocio é esse. O camarada ta de caso pensado, ele que faze uma tragédia ai comigo, o camarada se escondeu.
Ai eu fiquei meio cabrero, eu vim meu olhando, sondando. Ai o que acontece, num vi ninguém, olhei na pedra em cima, num vi ninguem, aonde será que ta este camarada, né? Ai tinha uma grota ansi nu fundo, ai eu digo ansi, o camarada foi faze um necessidade e ai foi e desceu este corgão ai e foi faze uma necessidade, ai tudo bem. Mas sondei, rodiei as pedra e num vi ninguém, de dia craro ainda. Ai quando peguei uma distancia mais ou meno que o camarada tinha sumido, como daqui o pé de abacate assi no pe da arvi ansi, eu pegava olha pra trais, quando olhei pra trás o homi, né. Olhei pra traz o cidadão em pé, já o camarada desceu, ai o sinhô vê que nisto o camarada virou muleque, aquele moço alto, viro muleque, virou aquele mulecão, eu digo muito bem. Eu disse ansi: _Puxa vida! O camarada é invisível, o camarada daqui eu não inxergo, quando eu disci um pouquinho, olhei pra traz ele tava em pé. Ai eu digo ansi: _ Eu vo vive que não menti, peguei as duas sacola que eu vinha trazendo, passei a mão no pau. Eu digo ansi:_ Eu consigo, eu digo ansi: Em nome do sinhô Jesus, eu digo ansi é o diabo, é o Satanás eu vo da uma paulada nele. Ai o sinhô sabe o que é, eu passei a mão no pau, no cacete, no meu cajado que eu vinha trazendo, passei e fui em busca dele, quando fui em busca dele ele desapareceu.
TEXTO DO LIVRO : UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA.... EDITADO EM 2005.
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