sexta-feira, 20 de maio de 2011

ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - 32 ª PARTE

Certo dia chegou a aldeia dos Tupinambá um francês chamado por eles de Caruatá-uára que morava a umas milhas dali. Sabendo da captura do artilheiro alemão foi lá constatar este fato. Hans Staden ficou feliz achando que de alguma forma o francês ajudaria, pois parecia ser um bom cristão. Em uma rápida conversa com o alemão não entendeu nada do que o alemão falava, dizendo logo em seguida aos selvagens que poderiam matá-lo, pois se tratava de um verdadeiro português, inimigo deles. Hans Staden, pensou no versículo no versículo bíblico do profeta Jeremias: “Amaldiçoado seja o homem que confia nos homens”. Então, abatido e muito triste voltou à sua cabana, deitou-se na rede, desamparado, cantava outros versículos em voz trêmula enquanto os selvagens preparavam a festa onde o matariam.


Cunhambebe era um dos mais distintos chefes dos Tupinambá. Morava em uma aldeia próxima a qual o alemão capturado se encontrava, chamada Ariró. Ele reuniu-se em uma festa regada a cauim com outros chefes que foram para ver o alemão e Hans Staden, foi levado ao encontro de Cunhambebe, o grande cacique. Ao chegar a aldeia, Hans Staden viu várias cabeças de Maracajá, inimigos dos Tupinambá, espetadas em mourões se apavorou sentindo-se prefigurado nesses crânios expostos. Cunhambebe tinha fama de ser um grande guerreiro e tirano, gostava de devorar seus inimigos. Hans Staden, ousadamente, foi em direção de quem lhe parecia ser Cunhambebe e disse: “Você é o Cunhambebe, você ainda vive?” – Ele respondeu olhando-o ferozmente: “Sim, eu ainda vivo.” - Staden disse: “Então muito bem, ouvi falar muito de você, e que você é um homem muito habilidoso.” Cunhambebe levantou-se e todo cheio de satisfação andava de um lado para o outro na frente do alemão. Observando-o, Staden reparava em todos seus adornos, atitudes e gestos que o faziam parecer o mais poderoso entre os caciques TupinambáCunhambebe sentou-se a sua frente e ficou fazendo perguntas sobre seus inimigos portugueses e os Tupiniquim, querendo saber o que o alemão achava deles e se planejavam algo contra eles. Hans Staden, entre outras coisas disse que preparavam uma frota de 25 barcos e em breve atacariam, as aldeias Tupinambá.

Os selvagens continuavam a zombar do alemão ao mesmo tempo em que bebiam muito o cauim. O filho do Cunhambebe ameaçou Hans Staden e prendendo-lhe as pernas, amarraram seus pés fazendo o pular por toda a cabana. , de forma constrangedora. Aos gritos diziam: “Lá vem nossa comida pulando!” e apalpavam cada parte do seu corpo escolhendo o pedaço que pretendiam devorar. Na manhã do dia seguinte seria levado à Ubatuba onde seria morto

Mais uma vez o destino conspira a favor do alemão e o ataque por ele anunciado acontece . Chegam as 25 canoas em uma manhã e um grande confronto se estabelece entre as duas tribos inimigas. Os Tupinambá chegaram a ficar apavorados. Então o artilheiro alemão resolveu ajudá-los no ataque e com arco e flecha em punho começou a defender suas cabanas ,atirando e gritando ao modo dos selvagens. A intenção era escapar chegando até os atacantes que o conheciam, mas os Tupiniquim bateram em retirada e o alemão foi colocado sob guarda novamente.Na volta do ataque invadiram a aldeia de Mambucaba mas todos seus habitantes conseguiram fugir,embora cabanas tenham sido queimadas e a aldeia completamente destruída. Nhaêpepô-oaçú ordenou a Ipiruiguaçu, a quem havia dado o alemão de presente, que o vigiasse, pois partiriam a Mambucaba para reconstruir a aldeia onde tinham parentes e amigos, também trariam de lá farinha de raízes para festa em que comemorariam a morte do alemão.

Dias depois o irmão do chefe Nhaêpepô-oaçu veio de Mambucaba com a noticia de que seu irmão e família que moravam em Mambucaba, estavam muito doentes. Nhaêpepô-oaçu pediu ao irmão que voltasse e pedisse ao alemão, Hans Staden, que conseguisse junto a seu Deus a cura para todos eles. O selvagem disse: “Meu irmão acha que teu Deus está zangado”.- Respondeu o alemão: “Sim. O meu Deus está zangado, porque seu irmão queria me comer, foi à Mambucaba e lá este está preparando a minha morte. Vocês afirmam que eu sou português, e eu não sou!. Vá ao encontro de seu irmão. Ele precisa voltar para a cabana dele aqui. Depois eu falarei com o meu Deus para que ele fique bom.” - Assim o selvagem voltou à Mambucaba levando a resposta do alemão.

O retorno do chefe Nhaêpepô-oaçu e de sua família doentes à aldeia, fez com que Hans Staden fosse chamado à sua cabana. Ele já imaginava que isso fosse acontecer, pois se lembrou do dia em que comentou sobre a lua estar zangada e que ela olhava para a cabana do chefe, e de ter sido um presságio de Deus. Daí passou pela cabeça do alemão que poderia contar com Deus, e isso lhe garantiria a vida. Logo, o alemão, disse confirmando ao Nhaêpepô-oaçú que era verdade, que todos haviam ficado doentes porque eles queriam comê-lo e que a desgraça deles vinha deste motivo. O chefe deu ordens insistentes para que nada fizessem ao alemão e para que todos ficassem bem de saúde. Staden pediu a Deus e entregou a vida daqueles selvagens enfermos em suas mãos.

Aproximando-se de cada enfermo, Hans Staden fez imposição de mãos sobre suas cabeças como o exigia o ritual das curas. Mas, morreram um a um; primeiro, uma criança depois a mãe do chefe, e dias velha, um irmão do chefe e outra criança. O pai da família com medo da iminência da morte pediu, novamente ao alemão para que seu Deus parasse com a ira e o deixasse a ele e a sua mulher viver. O alemão o acalmou dizendo que não haveria perigo, mas que quando sarasse nenhum mal deveria lhe acontecer. Na hora, o chefe ordenou a todos que não o denegrissem e nem o ameaçassem. Dias depois, Nhaêpepô-oaçu e sua mulher, recuperaram-se.

Na aldeia encontravam-se mais dois chefes de aldeias vizinhas . Eles compartilhavam uma série de experiências, um deles havia sonhado com o alemão que teria anunciado sua morte. Tanto um como outro chefe estavam preocupados e sofrendo com os pesadelos, e diziam ao alemão que não lhe fariam mal e não o comeriam. Até as mulheres idosas que o haviam feito sofrer proferindo golpes, arrancando-lhe os cabelos, os pêlos e ameaçando-o em comê-lo passaram a chamá-lo de Chê-raira, quer dizer: “meu filho”, pedindo a este que não os deixasse morrer.

Cada vez mais indecisos em relação a nacionalidade do prisioneiro os selvagens decidiram poupá-lo por mais um tempo.

Caruatá–uára, o francês que tinha aconselhado os selvagens a comê-lo, voltou à aldeia de Ubatuba. Achava que Hans Staden já havia sido morto pelos selvagens. Encontrou-o dentro da cabana e na língua dos selvagens perguntou se ainda estava vivo. Staden respondeu: “Sim, e agradeço a Deus por ter-me protegido durante tanto tempo”. Como já tinha a liberdade de se locomover sem as amarras, procurou um lugar longe dos selvagens e assim poder conversar com o francês. Explicou todo o ocorrido na segunda viagem ao Brasil, que esteve entre os portugueses, pois tinha naufragado com os espanhóis nas proximidades de São Vicente. Pediu ao francês que contasse aos índios que ele era seu amigo e parente, e também que o levasse aos navios franceses que aportariam em breve ali perto em busca de especiarias.

Textos do livro UBATUBA , ESPAÇO , MEMORIA  E  CULTURA - ed. 2005

PROXIMA ATUALIZAÇÃO : PAGINA 180  A  185, NO PRÓXIMO DIA 25 DE MAIO DE 2011

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