sexta-feira, 8 de abril de 2011

MINI SÉRIE : A VERDADEIRA HISTORIA DE HANS STADEM E UBATUBA - 1 ª PARTE



Imagem de arquivo - Blog Ubatubense 
Já o texto abaixo foi extraido do Livro UBATUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA "



Hans Staden

Hans Staden , um viajante vindo ao Brasil em tempos da conquista, nos oferece a imagem Tupinambá enriquecida de anedotas, que marcaram sua aventura em terras brasilis. A contribuição deste alemão é significativa, pois o motivo de sua viagem está circunscrito no seu espírito de explorador e navegador, e não às empresas missionárias dos capuchinhos franceses ou dos jesuítas da companhia de Jesus.

Desta forma a primeira viagem de Hans Staden ao Brasil é relatada em: Hans Staden – Primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes (1999).


As aventuras de viagem de Hans Staden dividem-se em duas longas travessias pelo mar. A primeira aventura deste jovem artilheiro alemão, da cidade de Hessen, foi por acaso. O objetivo real era conhecer as Índias, o desejo aquecido no imaginário de todo e qualquer navegante europeu. Staden chegou tarde demais ao ponto de partida, localizado na cidade de Lisboa, então capital da navegação européia. Tais navios com destino às Índias já haviam zarpado frustrando seu desejo de aventura por ultramar. Leuhr, um conterrâneo de Staden, conseguiu lugar em um outro navio cujo destino eram as terras desconhecidas que viriam a ser chamada de Brasil. O capitão do navio ,de nome Penteado , era um comerciante dos mares com licença para capturar navios de piratas e de franceses que negociavam e exploravam selvagens no Brasil.

Esse navio , do qual Hans Staden se tornou tripulante zarpou de Lisboa com destino ao Brasil no ano de 1548, e o decorrer de sua travessia pelo oceano Atlântico foi marcada por emocionantes aventuras. Atingidos por fortes tempestades em alto mar e conduzidos por ventos violentos, a tripulação se afastou inusitadamente da costa Marroquina. Em uma dessas críticas noites, os “camaradas” portugueses, assim chamados pelo artilheiro germânico, avistaram no céu, um fenômeno de luzes azuis1. Para eles era um prenúncio de tempo bom enviado por Deus . Unidos em uma prece coletiva haviam solicitado fervorosamente a melhora nas condições do tempo e as luzes rapidamente avistadas pareciam ter vindo confirmar esse momento de fé e religiosidade. Os lusitanos chamaram estas luzes de fogo de “Santelmo” ou “Corpo Santo”. No dia seguinte, o céu estava limpo, o mar calmo e sopravam ventos favoráveis na direção assinalada pelos instrumentos de navegação. Hans Staden descreve nas suas crônicas o ocorrido nessa noite, destacando que só poderia ser um milagre do qual, todos foram partícipes.

Aos 28 dias do mês de Janeiro de 1549, os navegantes avistaram o morro do Cabo de Santo Agostinho, aportando em Pernambuco um povoado português em Olinda. Descarregaram mercadorias e prisioneiros, entregando-os ao comandante do lugar Dom Duarte Coelho, pretendiam seguir viagem rapidamente , mas a revolta dos Caetés, selvagens da região de Igaraçu, fez com que a partida fosse adiada. A tripulação atendendo ao apelo do capitão envolveu-se no combate contra os supostos selvagens, tornando-se este o primeiro confronto de Hans Staden com os índios do Brasil, em uma batalha que durou trinta dias, e ao final da qual os Caetés se retiraram da área invadida.

A viagem e as aventuras de Hans Staden pela costa brasileira são marcantes Com a finalidade de se abastecer com mantimentos e pau-brasil resolveram fazer uma breve parada na Paraíba ,sendo então, surpreendidos por um navio francês carregado de pau- Brasil Entraram em combate e após ter sido danificado o mastro principal da embarcação , tiveram que interromper a viagem voltando a Portugal com muitas baixas e feridos. A volta dos viajantes foi terrível, árdua e infeliz. Privados de alimentos dispunham apenas de uma tigela de água ao dia e farinha de mandioca brasileira como alimentação para sua sobrevivência. Com o barco avariado e ventos desfavoráveis, tiveram dificuldades em aportar em um lugar seguro.

Após 108 dias chegaram a Açores, ilhas pertencentes ao Rei de Portugal, onde conseguiram, em um outro combate, se apossar de um navio pirata com grande suprimento de mantimentos. Assim, partiram da Ilha Terceira junto com um aglomerado de cem navios e prosseguiram viagem, uns à Espanha e outros a Portugal. Após 16 meses de grandes aventuras, no dia 8 de Outubro de 1949, chegaram a Lisboa. Encerra-se desta forma , quase emblemática, a primeira viagem de Hans Staden ao Brasil.

A segunda viagem de Hans Staden ao Brasil e às terras Tupi é a maior de suas aventuras . Desta vez tendo os espanhóis como camaradas e como destino mais especificamente o Rio da Prata, uma das terras da América, onde o Perú e o Brasil formavam um só continente. Partindo de Sevilha, Espanha no ano de 1549, o alemão segue viagem ao seu destino onde conheceria “o paraíso” e “o inferno“. Aportando antes em Lisboa e depois nas ilhas Canárias, passou pela ilha de Palma seguindo até Cabo Verde, terra dos mouros negros, onde quase naufragou. Seguindo rumo ao Novo Mundo, tormentas e tempestades atingiram três dos navios bem na linha do Equador. Devido aos ventos fortes e desfavoráveis perderam-se, ficando só o navio onde seguia o alemão. Após quatro meses, em setembro, a tripulação conseguiu retomar o rumo e a direção da América. Foram seis meses no mar, em situações de grandes perigos e riscos. Conseguiram aproximar-se da costa do continente, mas não acharam o porto indicado. Os fortes ventos e os arrecifes ameaçavam e antes que viessem a naufragar, avistaram um porto e lá baixaram a âncora podendo assim descansar.

Já em terra firme, Hans Staden e os outros tripulantes fizeram contato com os primeiros selvagens, os Tupiniquim, amigos dos portugueses2, oferecendo-lhes facas e anzóis afim de agradá-los. O porto de desembarque chamava-se Superagui, distante a 13 milhas (24 quilômetros) de São Vicente, capitânia pertencente ao Rei de Portugal. Dois portugueses que se encontravam no lugar ouviram atentamente toda a aventura marítima narrada pelo capitão do navio, achando-o habilidoso, pois conseguiu escapar das tempestades, dos rochedos e dos arrecifes. O capitão e a tripulação disseram para seus ouvintes que queriam chegar a Ilha de Santa Catarina, mais ao Sul, onde viviam os selvagens Carijó3.

O navio de Hans Staden seguiu viagem rumo ao destino pretendido e, a caminho, voltou a enfrentar tempestades, trovões e o mar agitado, levando o medo a tomar conta de todos. Mas como de outras vezes, Hans Staden orou e confiou em Deus e ocorrendo a melhora do tempo, seguiram o curso até o próximo porto, uma das ilhas em que fariam uma exploração.

Era dia de Santa Catarina, do ano de 1550 e o barco estava em uma embocadura do rio chamado São Francisco, numa província do mesmo nome. A tripulação pernoitou em uma pequena ilha, neste mesmo rio, pois parecia seguro e não havia ninguém nas proximidades, principalmente os temidos selvagens. Ali fizeram uma fogueira e comeram palmitos da região. Havia no lugar velhas cabanas abandonadas, levando-os a imaginar a presença de gente e impulsionando-os a adentrar-se na baía. Acharam uma cruz presa a um rochedo com uma escrita mal definida em espanhol que dizia: Si viene por ventura aqui la armada de su Majestad, tiren un tiro, ahí habrán recado. – ou: Se por acaso vierem aqui navios de Sua Majestade, dêem um tiro e aguardem resposta. O tiro foi dado e retornando à baía, viram aparecer cinco barcos com selvagens e um homem branco no meio, um cristão. Este disse que ali se tratava do porto Jurumirim, ou, Porto de Santa Catarina, enfim o porto que procuravam.

Hans Staden lembrou a seus amigos e camaradas que haviam estado ali, exatamente no dia de Santa Catarina e fez menção, mais uma vez a Providência Divina. Ela ajuda e salva aqueles que pedem com seriedade, afirmava o artilheiro alemão. Conversaram com o cristão que se chamava Juan Fernando, um basco da cidade de Bilbao, explicando a intenção daquela viagem e que esperariam pelos outros navios da frota expedicionária naquele porto. O cristão se mostrou satisfeito com a conversa, dizendo que foi encarregado de orientar os selvagens Carijó, a plantar mandioca. Esta tribo era amiga dos espanhóis que ocuparam a localidade de Assunção na província do Rio da Prata e chamava-se Cutia. A intenção do plantio da mandioca era para que servisse de alimento àqueles que carregavam os navios que ali chegavam.

1 A palavra camarada aparece no relato de viagens de Hans Staden como uma forma de referir-se aos companheiros de viagens com os quais compartilhava conhecimentos de navegação, sentimentos religiosos e infortúnios próprios da aventura.
2 Os Tupiniquim (Tupinikĩ) é o nome da grande nação Tupi espalhada pelas regiões do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Não se usa plural na língua geral da grande família indígena brasileira, isto é, o Tupi, que compreende três épocas: o Tupi antigo, falado pelas tribos do século 16 e 17 (segundo testemunhas de Anchieta, Lèry, Thevet e o próprio Hans Staden); o Tupi do século XVIII, já sistematizado no dicionário português-brasiliano de Frei Onofre; e o Neo-tupi, falado no Amazonas no século XIX entre índios aculturados e, ainda vivo entre caboclos mestiços. Por esta razão ao referirmos a estas nações indígenas como: os Tupinambá, por exemplo, utilizaremos propositalmente esta variante gramatical (Caldas Tibiriçá, 1984:184).
3 Nome de uma tribo Guarani que ocupou parte do litoral sul do Brasil. Caraí-jó significa uma mistura de homem branco, pois eram assim chamados por pintar-se deste jeito, talvez como disfarce (Calda Tibiriçá, 1984:84).


A  SEGUNDA  PARTE   SERÁ PUBLICADA NO PRÓXIMO DIA 16 DE ABRIL 2011


FONTE :   Livro UBATUBA, ESPAÇO MEMÓRIA E CULTURA - EDITADO EM 2005, pode ser encontrado na Biblioteca Publica Municipal de Ubatuba -SP - Praça  13 de Maio, 52 - centro

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