terça-feira, 12 de abril de 2011

ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - 28 ª PARTE

No primeiro dia, a corda com a qual o prisioneiro seria amarrado era trazida ao pátio da aldeia no meio dos estrondosos alaridos. Tal corda era untada com uma substância parecida com a cal e deixava-se secar suspensa em uma estaca fincada em terra. Um índio previamente instruído fazia dois nós nesta corda, após tal execução, os assistentes batiam palmas e emitiam gritos de alegria. A musarana era posta em um vaso e levada para a cabana do dono do prisioneiro.




No segundo dia todos os habitantes da aldeia saiam ao campo para recolher bambus da altura de uma lança. Na noite estes eram plantados no meio do pátio com as extremidades apoiados umas nas outras, formando assim uma espécie de cabana cônica, a qual se ateava fogo. Dançava-se em torno da fogueira carregando maços de flechas nos ombros.

No terceiro dia a população reunia-se no pátio e dançava ao som de instrumentos. O ritmo era marcado pelas batidas dos pés e das mãos e não era entoada nenhuma canção.

No quarto dia, ao amanhecer o prisioneiro era conduzido às margens do rio, onde se banhava. De acordo com os autores como Thevet a derradeira limpeza era feita na aldeia e consistia na depilação do cativo, por volta das cinco da tarde as índias reconduziam a vítima à choça provisória, erguida na praça central. Eram transladados para essa choça o tacape do sacrifício e os dois potes de plumas, os fios de algodão e a resina destinada à decoração. Tudo em presença do prisioneiro , inclusive a arma da execução. O tacape passava por uma espécie de consagração, Coberto por uma camada de mel, pulverizado por pedacinhos de conchas e fragmentos de ovos verdes de mucucara, aos quais os indígenas atribuíam um poder mágico contendo inclusive o pó sagrado produzido com a casca do ovo, esse revestimento dava a arma do sacrifício um poder especial.

Ao por do sol os índios reunidos na aldeia apressavam-se a celebrar o acontecimento com um grande cauim. Durante a noite, a vítima era atada a laço e mantida imobilizada, sendo velada pelas mulheres que a seguravam pelas extremidades. Convidados e anfitriões ficavam o resto da noite bebendo, gritando e cantando. Lembravam seus guerreiros e as grandes ações por eles realizadas. Métraux assinala que vários autores afirmam que prisioneiros faziam parte destas festividades, pois era uma honra morrer entre danças e bebidas, vingando-se antes de ser morto daqueles que o iam devorar.

No quarto dia, tinha lugar o sacrifício. No amanhecer as mulheres iam até a choça onde estava o tacape e acordavam o prisioneiro, conduzindo-o à praça de execução, situada no centro da aldeia, junto às ocas. Chegados ao sítio os indígenas retiravam as cordas das estacas onde tinha ficado, estendendo-as no solo e amarrando-as em torno da cintura da vítima.

Todo este tempo, o executor permanecia fechado na cabana, paramentado com esplendor. Na cabeça levava um sombreiro de plumas, na frente o diadema rubro “cor da guerra”. Ao peito, colares de conchas. De plumas eram também feitos os braceletes que cobriam os braços e da altura dos rins pendiam penas de avestruz. Nas costas levava um manto de penas íbis vermelhas. O rosto era pintado de rubro e o corpo embranquecido de cinza. Parentes e amigos vinham procurá-lo escoltando-o cantavam, rufavam os tambores e tocavam flautas e trombetas. O prisioneiro era proclamado a viva voz de bem aventurado, pois vingava neste ato, a morte dos antepassados e dos seus irmãos parentes. Todo o trajeto do cortejo era besuntado com uma substância esbranquiçada.

O carrasco avançava dançando pelo pátio e movimentando seus olhos de forma assustadora, com as mãos imitava o falcão no ato de se jogar sobre a presa. Ao parar em frente de sua vítima recebia o tacape das mãos do guerreiro designado para este fim. O carrasco dirigia-se ao prisioneiro nos seguintes termos: “não pertences a nação, nossa inimiga? Não mataste e devoraste, tu mesmo, os nossos parentes e amigos? Agora estás em nosso poder; serás logo morto por mim e moqueado e devorado por todos.” Após esta troca, o executor brandia o tacape e procurava acertar o golpe na nuca da vítima, antes do golpe final, o vencedor passava duas vezes por dia diante do prisioneiro. Mal este era massacrado e as velhas mulheres precipitavam-se para recolher o sangue e os miolos sendo o primeiro bebido ainda quente.

A mulher cedida ao prisioneiro vertia algumas lágrimas, choro puramente ritual, pois logo a seguir era a primeira a saborear a carne do extinto esposo. O cadáver era assado, escaldado a ponto de permitir a raspagem do couro. Introduziam-lhe um tampão no ânus para impedir a excreção. Eram cortados, em primeiro lugar, os membros superiores do corpo, depois faziam uma incisão no estômago e convidavam as crianças a devorar os intestinos. Retalhava-se o tronco a partir do dorso. Nada era perdido: os homens cozinhavam as entranhas, e as mulheres mais velhas, a quem cabiam os cuidados culinários comiam até a gordura que escorria pelos varais do moquém, ao ponto de lamber o rosto, a boca e as mãos com as banhas do morto. Língua, miolos e certas partes do corpo estavam reservados para os jovens, para os adultos ficava a pele do crânio e para as mulheres os órgãos sexuais. Partes consideradas nobres como as pontas dos dedos das mãos, assim como parte do fígado e do coração eram dadas aos hospedes de honra. As crianças da tribo eram obrigadas a tocar no cadáver e untar as mãos no sangue vertente, encorajando-as com as seguintes palavras: “Estás vingado. Vinga-te também, meu filho. Eis aqui um dos que te deixou órfão de pai”. Untavam de sangue o corpo, braços e coxas Para que os bebês tomassem parte do festim, as mulheres molhavam de sangue os bicos do seio pensando em tornar seus filhos valentes.

Os ossos do morto eram motivos de preservação religiosa, sendo os do crânios confinados em estacas a frente da oca do vencedor. Os dentes serviam para fabricação de colares e as tíbias para fabricação de flautim e apitos.


OBSERVAÇÃO..................Confira a sequência deste especial no dia  22 de abri 2011 COM A 29 ª parte..Será publicada as paginas 159 até 155.( na integra)

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